Life Spoiler 🍓(Mark Lee)

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"Onde Mark é o futuro de Rebeca"

Domingo - 20/12/XXXX - 10:00 AM

Primeiro, uma pontada na cabeça. Mais do que na cabeça. A dor lancinante veio do fundo da mente de Rebeca Mattos, como se jorrasse de cada pseudo pensamento. Pseudo, pois um pensamento não é um pensamento quando se está sonolento e tampouco é um sonho, pois a profundidade do estado não permitiria que fosse. Seria puramente um divagar involuntário de lembranças, medos, desejos, mais lembranças e aleatoriedades.

A dor veio daí. Logo depois de uma dúzia dos tais pseudos pensamentos que nasceram de uma lembrança de Lucas dizendo que gostava dela mais do que um amigo e terminando com um garoto estranho sussurrando numa respiração ofegante que a amava. O último, era quase palpável. Quase não... Pseudo.

Mas então veio a dor jorrando destas lembranças e um despertador estridente ao seu lado, que parou instantes depois que ela emergiu da redoma do meio-sono. Então começou a ter noção de todas as coisas que a cercava - o espaço, a iluminação, a textura do edredom que a cobria - e notou o estado de si mesma.

Estava nua, deitada de bruços. Em... alguém. Não em uma cama, como esperava estar, com seu pijama. Quando sentiu uma mão afagar a pele desprotegida das costas e lábios quentes roçando na curva de seu ombro, ela deu um grito, caíndo da cama e levando consigo o edredom e um lençol que não sabia de onde vinha.

Trêmula, ela olhou para cima e viu um garoto com a expressão confusa. Aquele... garoto que ela sonhou! Com os seus cabelos negros cobrindo a testa, traços orientais marcantes e uma pele que parecia ainda mais pálida que a dela. A figura do rapaz estranho e despido disparou na mente de Rebeca o pior dos pensamentos. Ela havia sido arrastada até ali e... com certeza aquele garoto...

Ele tinha abusado dela.

De alguma forma, aquele rapaz havia a dopado, por isso não lembrava de nada, levado-a até aquele quarto e feito sabe-se lá Deus o que. Quando a ideia encorpou-se em seu interior, as lágrimas nasceram rapidamente. Ela começou a soluçar, tremer, sentir o coração rasgar dentro de si como se a qualquer momento fosse se resumir a fragmentos de si mesma. Como se fosse estilhaçar-se.

"Beca?", o menino cerrou os olhos com preocupação e saltou da cama, colocando uma cueca que estava caída na sua lateral da cama e foi até ela. "Querida... o que houve?!!"

Ele envolveu o rosto dela com as mãos e o coração - de uma forma inimaginável - assumiu o mais rápido dos ritmos. Ela sentiu o nojo do toque embrulhar o seu estômago e começou a berrar.

"POR FAVOR!", a voz saiu rouca e débil, mesmo com o grito, que involuntariamente se tornou um sussurro. "Me deixa ir embora."

"Beca? O que está acontecendo? Foi algum pesadelo?"

"Moço por favor...", ela choramingou. "E-eu juro que não te denuncio. Mas não faça isso de novo, não faça."

Ela sentia como se a qualquer momento pudesse dissolver. Como açúcar num copo d'água. Papel molhado. Dissolvida. Partida. Por cada pensamento. Por cada indagação, suposição, por cada lembrança e pelo presente doentio.

Ela lembrava da promessa que era Lucas, que sequer havia namorado com ela. Mas lembrava dos sonhos do casamento, da forma que se guardaria até que finalmente estivessem juntos. Então alguém a violentara e como isso? O que aconteceu? Se tivesse ao menos as suas memórias e lembrasse como...

Outro pensamento terrível veio. E se ele... não a deixasse ir?

Rebeca aproveitou da distração de seu nêmesis e enfiou o dedo indicador em seu olho esquerdo com força. O rapaz caiu para trás, soltando um grito gutural de dor e ela se levantou, saído correndo quarto afora, agarrando o lençol contra si mesma, como se aquele pano fosse tudo o que restara de sua dignidade.

Night Ways [One Shots]Onde histórias criam vida. Descubra agora