Uma Noite de Domingo Inesquecível

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Depois de um longo dia de trabalho no domingo, cheguei em casa, dei boa noite para meus irmãos e cunhados e beijei a bochecha dos meus pais, antes de me enfiar no meu quarto com meu namorado, Maurício. Isolados no meu espaço privado da casa, finalmente podia beijá-lo e abraçá-lo, sem o receio de alguém aparecer e se sentir ofendido. Não que minha família seja preconceituosa, apenas não gostamos de deixar os outros desconfortáveis. Roupas trocadas, uniforme jogado no cesto de roupas sujas e eu estava pronto para a gloriosa janta de fim de domingo com a família tradicional brasileira.

Eu estava um pouco mais chato do que o normal naquele dia. O trabalho não me deixou aproveitar nada do domingo e as horas que restavam para namorar eram pouquíssimas, mas algo a mais estava me incomodando. Meus irmãos eram trabalhadores e honestos e meus pais infinitamente dedicados, mas eu não estava interessado em conversar com nenhum deles, apenas comer e ir para o quarto, onde poderia namorar e ficar à vontade. E assim fizemos. Fomos para o quarto, ligamos o computador e deitamos na minha cama de solteiro.

Aquele computador havia sido montado para jogos quatro anos antes, mas depois que comecei a namorar, tive que amadurecer pelo menos um pouco. Jogos online, de ação, de tiro e aventura foram substituídos por uma barra de favoritos tomada por redes sociais (afinal, também gostamos de postar nossos preciosos momentos de felicidade) e sites de filmes, principalmente de terror. E lá no final, ocultos na barra de favoritos, estavam os sites de jogos. Chegamos num ponto em que passávamos pelo menos uma hora pulando páginas e procurando algo interessante para assistir.

Foi onde nós nos interessamos por séries, e naquele domingo em específico estávamos assistindo a um episódio de Stranger Things. No decorrer do episódio, Maurício percebeu um ruído estranho na minha velha cama de madeira. Com um movimento brusco do corpo dele, uma das laterais da cama cedeu. Todos correram para ver o que tinha acontecido e, obviamente, acharam graça. E claro, ele não soube onde enfiar a cara.

A cama foi desmontada e removida, e voltamos a assistir ao episódio apenas com o colchão no chão. Apesar das minhas dificuldades em me concentrar em algo por muito tempo, eu estava realmente interessado naquela série. Não estava pensando sobre o trabalho, ou sobre a família, ou sobre qualquer outra coisa. O mau humor tinha passado e eu não estava incomodado com a perda da cama.

Estávamos de mãos dadas e o Maurício estava brincando com meus dedos, quando ele removeu minha aliança e a colocou de volta.

— Essa aqui não é minha aliança — brinquei sem tirar os olhos do monitor do computador.

E ele confirmou, dizendo que a aliança que estava no meu dedo era a dele. Por um brevíssimo momento duvidei, pois apesar da aliança dele ser um pouco menor que a minha, eu não tinha percebido diferença alguma.

Houve a primeira tentativa de remover a aliança e o primeiro fracasso. Tentamos puxar o quanto podíamos, mas não conseguimos. A aliança não conseguia passar do nó do meu dedo anelar direito. Fomos para o banheiro ao lado do quarto e envolvemos o dedo com sabonete líquido, depois com óleo de cozinha e por último com um creme hidratante da minha mãe, mas sem sucesso.

O pânico estava crescendo e eu não conseguia acreditar na situação em que tinha me metido, pois até aquela noite, achei que aquele tipo de coisa só acontecia com pessoas realmente desastradas, ou apenas na televisão. Mas eu não estava namorando um cara qualquer. O Maurício era um gênio e sabia solucionar qualquer problema com maestria. Além disso, ele sempre acompanhava as redes sociais, então teve uma ideia que ele tirou de um vídeo: usar um barbante. Bastava inserir a ponta do barbante por baixo do anel, enrolar o dedo de um lado e desenrolar do outro, para que o anel saísse gradativamente com o desenrolar.

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