Capítulo 22 - A Esperança é o Que Resta

251 26 2
                                    

Eu me sentia tonta. Um monte de luzes brancas brilhavam pra minha cara, e eu não conseguia ver direito.

Eu estava péssima. Nunca me senti daquela forma. Tão horrível, e desesperançosa.

E em uma cama de hospital. Nunca achei que estaria realmente em um hospital. Aqueles sons de máquinas trabalhando, do sensor cardíaco apitando, tudo tão branco e claro que a cegar. Também havia minha cabeça, que estava toda enfaixava, e o machucado ardia.

Mas o que mais doía era o coração. Mia estava longe de mim, e eu não sabia como lidar com aquilo. Ela me entregou, para que eu pudesse viver. O sentimento de solidão permanecia, e eu não sabia que ficar tão longe assim dela iria doer tanto.

Mia...

Depois de um tempo pensando nela, a porta se abriu. Uma mulher ruiva entrou, com um terno. Ela se sentou em uma cadeira próxima, e ficou olhando para mim.

- Sophie Edward... realmente, você está horrível — ela disse. Deveria ser aquela oficial, Fernandes — Nunca imaginou que, próximo a uma fronteira, iria ser pega. Bom plano em seguir pela costa, assim confundiria a polícia para onde você realmente iria, mas não vou difícil saber que iria para o norte. Canadá, não é?

Não respondi. Não estava afim de responder nada. Nem sei se conseguiria responder algo.

- Mas ainda há vários pontos que me chamam a atenção, Sophie — disse Fernandes — Primeiro, como chegou até lá? Fazendo favores? Dinheiro? Sorte? — cada pergunta me enchia a cabeça. Apenas queria que ela sumisse dali — Achamos uma jornalistas, que nos esclareceu diversas coisas. Uma ótima investigadora, tenho que dizer, mas ainda não sabemos de tudo. Agora, sua avó sabia que você estava indo para a casa dela? Ou você iria ir para o Canadá e seguir para outro destino?

- Se entrevistaram Daniele, sabem o que precisam saber — eu respondi — Não importa como eu cheguei. Eu só... cheguei. Peguei mil dólares do meu irmão, e segui viagem com a moto. Foi só isso.

- Sozinha? Uma garota que nunca viajou, nem havia saído da cidade natal uma vez sequer, saiu pelo país inteiro como se soubesse para o de ir — disse Fernandes — Soube arrumar e cuidar bem de uma moto, e só com mil dólares atravessou o centro do país, e chegou a Seattle pela costa, e ainda não foi pega até lá. Não acho que tenha conseguido sozinha.

- Tive ajuda durante a viagem, mas segui sozinha a viagem toda — eu disse. Eu iria enrola-la, para não descobrir que segui com outra pessoa — Conheci grande parte do país, o que não me arrependo. Foi uma viagem única... — a imagem de Mia passou pela minha cabeça, e uma lágrima saiu do meu olho — E a melhor que eu tive.

Fernandes continuou me olhando.

- O polícia que se feriu, foi você que deu o tiro? — perguntou Fernandes.

Tinha sido Mia. Mas nunca iria dedura-la.

- Foi — eu disse — Eu que dei o tiro, para fugir.

Um som de irritação soou da garganta dela.

- Na moto, não achamos nada na bagagem — continuou Fernandes — Nenhum documento, malas ou dinheiro. Aonde você os escondeu? Ou então, já se livrou de tudo para atravessar o país sem nem mesmo um visto? Não sabe que, sem isso, você seria pega na fronteira?

- Eu não sei. E nem quero saber — respondi. Fernandes parecia se estressar comigo, cada vez mais.

- A garota, que te entregou para nós, conhecia ela? — perguntou Fernandes.

Viagem AmericanaOnde histórias criam vida. Descubra agora