Parte Final: Depois da Guerra

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Ao abrir os olhos, a primeira coisa que Claus viu foi o rosto de Kathleen em frente à parede branca daquele quarto de hospital

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Ao abrir os olhos, a primeira coisa que Claus viu foi o rosto de Kathleen em frente à parede branca daquele quarto de hospital. Ela estava em uma cama ao seu lado e lhe observava tranquilamente.

— Ei! — Ela sussurrou. — Está me ouvindo?

— Oi. — Ele respondeu, ainda um tanto desorientado. Já tinham se passado várias horas desde que os médicos concluíram a cirurgia de retirada da bala. Ele parecia bem. — Você está bem? — Perguntou.

— Como você está? — Ela retornou-lhe a pergunta, afinal, era ele quem havia acabado de passar por uma cirurgia, apesar de que a dela também estava bem recente.

— Não tão bem quanto eu gostaria... Mas sim. E você?

Kathleen olhou para baixo e assentiu. — Eu também. — Respondeu em voz baixa e um pequeno silêncio de estendeu sobre o ambiente.

— Kathleen, sobre o beijo, eu... — Ele puxou o assunto, fazendo com que Milner erguesse, com atenção, a cabeça em sua direção. — Eu não... Ahn... Me desculpa! — Foi o que disse, e Kathleen ficou triste com o que ouviu. Ela não queria que ele pedisse desculpas por ter feito seu coração bater novamente.

— Claus, eu... — Suspirou. — Essa era a vida que eu sempre quis! Trabalhar na Organização, combater o crime... Mas depois de tudo que eu vi, de todas as mulheres que morreram por minha causa, porque ele queria se vingar... — E balançou a cabeça. — Acho que eu não quero mais isso! Preciso encontrar um outro lugar pra mim!

— Eu entendo... — Claus assentiu. — Também já pensei em ir embora, mas não posso. — Engoliu em seco e outro silêncio se formou ali, até que ele retomou sua fala.

— Kathleen, desde que minha esposa e minha filha morreram, eu... Não quis saber de mais ninguém pra... Não ter que passar por isso novamente e... Eu... Me apaixonei por você. Mas não estou falando isso pra alimentar algum tipo de esperança. Eu não posso ficar com mais ninguém, Kat... Não nesse trabalho. É muito perigoso! — Ele mordeu os lábios. — Acho legal que esteja planejando ir embora... Vai te fazer bem e... — Olhou para baixo. — Se você continuar eu... Não sei se vou conseguir!

Os olhos de Kathleen já estavam marejados, então ela levantou devagar da sua cama e caminhou até ele, afinal, os medicamentos para dor que agiam em seu organismo lhe permitiam fazer aqueles movimentos.

— Escuta... Eu quero ir embora! Não quero mais ficar nessas cidades cheias de lembranças ruins! Eu... Eu sou independente há muito tempo. E ninguém interfere nas minhas decisões. — Suspirou, criando coragem para despedaçar seu ego. — Mas você, Claus... Você me faz querer ficar perto. — Ele a encarou nesse momento e ela abriu um meio sorriso. — Você é o único que poderia me fazer ficar em um lugar que não quero. Então, por favor... Vamos embora! Vamos embora, Claus, você também não tem nada que te prenda aqui!

Naquele momento ele também abriu um sorriso e realmente se sentiu feliz por ouvir aquilo. Era uma parte da Kathleen que ele ainda não conhecia e realmente ficaria muito feliz se pudesse ter a chance para isso. Na verdade, ele até tinha. Mas não podia. Ainda considerava que o dever era maior que ele. E apesar da iminente vitória que obtiveram, os Redemptorists ainda não estavam completamente capturados. Ele precisava terminar o que havia começado.

— Eu não posso, Kathleen... — Franziu as sobrancelhas. — Estamos cheios de prejuízo e alguém precisa estar à frente!

— O Mike dá conta! Ele é mais inteligente que nós dois juntos! — Insistiu.

— Eu não sei... — Balançou a cabeça. — Parece errado sair agora e abandonar tudo!

— Claus, eu... — Ela suspirou e olhou para baixo, começando a mexer nas unhas. — Eu estive sozinha a minha vida inteira! Em algum momento encontrei o Ricardo e até pensei que estava bem com ele, mas aí aconteceu tudo isso! Ele acabou comigo por dentro e por fora e eu fiquei sozinha de novo. Mas mesmo assim eu cheguei até aqui e... Eu encontrei você, Claus! E eu estou cansada de ficar sozinha! — Então finalmente o encarou. — Será que apenas quando estou em perigo você quer ficar por perto?! — E balançou a cabeça. — Eu não tenho mais nada. E eu não quero ir sozinha. Você é a única pessoa... Com quem eu... Me... Imagino seguindo em frente. — Gaguejou. — Mas se quiser ficar, eu queria... Pelo menos um... Beijo. De... Despedida.

— Não se trata de querer, Kat...

— Não! Ok. — Kathleen o cortou apressada. — Você está certo! Eu não tenho nada que ficar insistindo! Me des...

— Vem aqui! — Ele a cortou, dessa vez. E ela apenas o encarou. — Vem aqui! — Insistiu, então ela se aproximou. — Mais perto! — Disse, e então colocou a mão direita em seu rosto, afastando alguns fios de cabelo.

Kathleen não titubeou. Estava lembrando daquele beijo no carro, e de como sentiu amor em cada movimento que fizeram. Se eles nunca mais iriam se ver depois daquilo, ela queria pelo menos essa sensação novamente. Pela última vez.

Depois do beijo, Kathleen se afastou devagar com os olhos fechados e apoiou a cabeça no ombro saudável de Claus. Ela mal queria acreditar que agora que finalmente descobrira estar apaixonada por ele, eles iriam se separar para sempre. Ela podia sentir uma parte de si ser arrancada à força, levando inclusive um pouco da esperança que ela criara enquanto preparara seu discurso vendo Claus dormir ao seu lado, algumas horas atrás.

Aquilo doía dentro dela. E não havia nada que ela pudesse fazer pra mudar a situação. Era certo que não permaneceria naquele país por nem mais um mês, nem que utilizasse toda a sua poupança para isso. Precisava construir uma vida nova em outro lugar. Só sentia aquele aperto no peito por saber que Claus não faria parte dessa nova vida, e que ficaria vivendo para sempre entre as lembranças do passado que ela desejaria esquecer.

— Vou sentir sua falta! — Exclamou em tom baixo e por fim se afastou dele. Se aquilo era uma despedida, era bom que terminassem logo. Prolongar um momento doloroso só o torna mais doloroso ainda.

— Kat, espera! — Claus a chamou em tom baixo quando já estava quase na porta.

— O quê? — Perguntou ao virar em sua direção.

— Não dá, eu... Eu não vou conseguir... — E mordeu os lábios. — Não vou conseguir te deixar sozinha. — Afirmou, e depois disso Kathleen sentiu seu coração parar por um instante e voltar a bater em velocidade máxima. Ela teria mesmo um ataque cardíaco bem ali, na frente dele?!

— O que... O que quer dizer com isso? — Perguntou, ainda sentindo sua voz travar.

— Eu... Eu estava errado! — E suspirou. — Não iria conseguir te deixar ir embora! Eu... Eu entendo tudo o que você já passou... Tudo o que já sofreu e ainda sofre... Você tem feridas iguais às minhas! — Falou com os olhos cheios de lágrimas e estendeu a mão para ela, que logo voltou a se aproximar e a segurou.

— Não posso te deixar assim, Kathleen... Me perdoe! Eu te amo! — Declarou, e nesse momento teve certeza de que as lágrimas caíam de seus olhos. — Eu quero ser seu parceiro fora do trabalho. Percebi que cuidar de você virou algo mais que uma obrigação, como era no início... Virou... Virou um... Um prazer! Aceita namorar comigo?

Diante de tudo aquilo, Kathleen não soube bem o que dizer. Ela nem tinha algo a dizer, na verdade. Toda a reação de Claus e as palavras que dissera lhe pegaram de surpresa, e no momento em que ela havia tirado todas as suas defesas, todas as suas barreiras de proteção. Ele conseguira lhe desarmar. Antes, ela acreditava que isso era algo terrível. Mas naquela hora descobrira que, na realidade, era tudo o que precisava. 

 

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