Calvino 500 anos

CALVINISMO NO BRASIL

01- História da Igreja.

O primeiro culto no Brasil foi em francês

Rev. Eduardo Galasso Faria

     Comemoramos neste mês de março os 450 anos desde que o primeiro culto protestante (10/3/1557) foi celebrado no Brasil, menos de 60 anos após o seu descobrimento e 40 anos após Lutero haver fixado suas 95 teses em Wittenberg. Ocorreu junto à Baía da Guanabara, na pequenina ilha de Villegaignon, em frente ao morro do Pão de Açúcar, antes da fundação da cidade do Rio de Janeiro. Foi dirigido pelo pastor reformado Pedro Richier, enviado por João Calvino.
     A primeira colônia francesa estabelecida em nosso país atendia, principalmente, aos interesses do rei e dos comerciantes que, contra os portugueses, queriam desenvolver o lucrativo comércio do pau-brasil. Por outro lado, os huguenotes (protestantes franceses) duramente perseguidos por causa de sua fé, necessitavam de um refúgio para prestar culto a Deus, livremente e conforme a sua consciência.
     Na Europa e especialmente na França, centenas de protestantes eram presos e lançados à fogueira. Mesmo assim, suas idéias se espalhavam rapidamente, alcançando nobres franceses como o almirante Gaspar de Coligny, ministro do rei.
     Foi em tal situação que um personagem ambicioso e polêmico, o vice-almirante Nicolau Durand de Villegaignon, a serviço do rei da França e com o apoio do huguenote Coligny, formou uma expedição com cerca de 600 pessoas, a maioria recolhida nas prisões de Paris, para fundar no Brasil a França Antártica (1555). Aqui, superando enormes dificuldades e estabelecendo regras rígidas para o comportamento da população, ele construiu o forte Coligny para, em seguida, sofrer o primeiro revés, com uma revolta dos seus comandados.
     Abalado, o vice-almirante, pediu como reforço uma nova expedição, que chegou em 1557 e contou com o apoio de Calvino. Dentre seus 290 participantes estavam 14 genebrinos e, entre eles, alguns pastores, com o propósito de evangelizar os indígenas. Um deles se tornou escritor: Jean de Lery. 
Villegaignon, um entusiasta das idéias de Lutero e Calvino, que acabaria renegando seus ensinos e voltando ao romanismo, acolheu com grande esperança e entusiasmo os novos colonos. Três dias depois, foi realizado um culto de ação de graças em uma sala que não podia comportar as mais de trezentas pessoas presentes. Muitos ficaram do lado de fora e procuravam ouvir o pastor Richier, que falou para aquela que haveria de ser “uma Igreja Reformada segundo a Palavra de Deus”.  Foi cantado o Salmo 5 (Atende à Minha Voz, Hinário Cantai Todos os Povos, número 144) e a pregação se baseou no Salmo 27.4: Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida... Este foi o primeiro culto protestante realizado em terras americanas.
     Tão altos ideais e propósitos, no entanto, começaram a se esboroar alguns dias depois da celebração da primeira ceia (27/3/1557), conforme o rito de Genebra. Desentendimentos em torno das idéias romanas, luteranas e calvinistas sobre a eucaristia fizeram repetir-se em solo americano as disputas religiosas fratricidas que ocorriam na Europa. Oito meses mais tarde, após infindáveis discussões, a ira de Villegaignon levou à morte três pastores genebrinos (Jean de Bourdell, Mathieu Verneuill e Pierre Bourdon), que foram sacrificados, testemunhando sua fé em Jesus Cristo. Eles se tornaram os primeiros mártires protestantes da América.