Capítulo Único

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Na primeira vez que abri os olhos, ao mesmo tempo que nada sabia do lugar onde eu estava, sabia que estava preso. Em minha frente uma parede com uma pequena janela coberta por grades, aos meus lados, outras duas paredes, olhei pras minhas vestes; nada. Um corpo sujo e mal tratado, sem uma unha no dedão do pé esquerdo e ralados nos joelhos e cotovelos, mas tudo o que eu sentia era abandono.

— Acorda vagabundo! — Gritou um homem gigantesco, jogando-me um balde de água igualmente grande.

Levantei assustado e fui pra parede oposta, onde havia a janela, vi apenas as grades onde eu estava com as costas e uma marca preta marcando o chão cimentado. Assim que levantei as grades se abriram, andei com sérias dificuldades em cada passo; tropeçava e caía até chegar na beirada da grade. Olhando ao meu redor havia outras celas, mas eu só conquia ver escuridão. Passava uma, duas, três, dez, vinte, trinta celas ao londo do corredor estreito, também cimentado. Ao final uma porta de ferro se abriu. Passando por ela uma série de mesas com bancos embutidos, também vazias. Caminhei até onde estava um prato, um conjunto de talheres e uma pequena abertura na parede por onde recebi a comida.

— Coma. — Uma voz feminina com tilintar de correntes.

Tentei olhar pra dentro, mas não enxergava nada; tudo absolutamente escuro.

Depois de relutar muito e tentar abrir a porta de ferro, segui o conselho daquela mulher, assim outra porta se abriu e, por um corredor ainda mais estreito onde meus ombros encostavam nas paredes, passei a andar por aquele lugar até uma sala maior se mostrar em minha frente. Esguichos de água saiam das paredes enquanto eu me encolhia para não abrir ainda mais meus ferimentos. Escorregava e caía de acordo com a pressão da água, por vezes do lado esquerdo, outras tantas do lado direito. Cheguei do outro lado engatinhando, lá uma camisa e uma calça, ambas em cor branca, porém encardida; me vesti debilmente até outra porta se abrir e voltar ao corredor que me conduzia até minha cela. Assim que eu entrei, a porta se fechou.

— Dorme vagabundo! — As luzes se apagaram enquanto observava o céu através da pequena janela. — O que você está fazendo? — Quando fui olhar para quem estava falando, adormeci.

Abri os olhos; estava sentado num carro no banco de trás, onde não havia motorista e somente a mim de passageiro. Olhava manchas verdes viajando através das janelas, em frente uma estrada serpenteando; para esquerda e direita, pra cima e pra baixo. Havia céu, havia um sol tão brilhante que me ardia os olhos.

— Não! — Gritei ao ver uma parede.

Ao acordar no chão, sendo agredido por chutes e chibatadas. No escuro não podia ver quem estava, mas se era pra chutar... Engraçado; chutar... Diria que era aquele gigante mais cedo. Apesar de vários questionamentos possíveis, só expressei um:

— Por quê!?

Ele apenas continuou a me bater até não oferecer resistência aos golpes. Adormeci.

Acordei com o balde de água novamente e aquele grito grosseiro de "Acorda vagabundo!" me chamando. Levantei prontamente e tentei ver o portador daquela sombra, mas não pude ver nada.

Corredor vazio, porém com uma pessoa saindo da cela vizinha.

— Oi! Está aqui há quanto tempo? — Me perguntou um homem magro que mais parecia um espelho de minha aparência maltrapilha.

— Um dia... Na verdade não me lembro de muita coisa. — Respondi ainda ressabiado.

Continuei caminhando pelo corredor, querendo ignorá-lo.

Clausto (Concluído)Where stories live. Discover now