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POV Fernando Haddad

Como mandar Catarina de volta para a casa dela sem ser indelicado?

A viagem para o litoral com a família era um dos raros momentos de lazer com meus entes queridos. Além do que já estava sinceramente arrependido das escapadas noturnas. Aquele não era eu e aquilo precisava parar antes que fosse tarde demais.

Foi durante nosso desjejum que minha filha jogou uma pá de cal sobre minhas pretensões de encerrar de vez o caso com Catarina.


" Pai, a Cat vai conosco na casa de praia passar o feriadão."

Carol informou. Sim, apenas comunicou, não pediu minha autorização, nada. Olhei para minha mulher, atônito. Ela deu uma boa colherada no papaya e mastigou devagar antes de me responder.

" Fernando, Ana Carolina me pediu e eu não vi problema algum."

Dei um longo gole no suco de maracujá. Eu nem gostava daquele sabor de refresco, mas era do que eu precisava no momento, algo que me acalmasse.

" O que sua mãe decidir está decidido !" - Foi tudo o que eu disse.

Ana Estela pousou os olhos em meu prato, notando minha falta de apetite, ia comentar algo sobre quando seu celular tocou. Ela nem ia atender, mas ao olhar o visor sua face demonstrou preocupação.

" Alô, Eduardo ! Você conseguiu?"

Ouviu em silêncio um minuto e replicou, ansiosa.

" Não, eu vou querer, sim ! Em meia hora chego no aeroporto ! A mala já estava pronta mesmo !"

Desligou e se levantou rápido da mesa.

As crianças reclamaram, indignadas, e eu fui me encolhendo na cadeira. Com minha mulher fora da jogada ficaria mais difícil resistir...


" Olha, melhor cancelar a viagem. Sem a mãe de vocês não vai ter graça..."

Sonso, olhei Catarina de soslaio, ela parecia inabalável, mas por dentro com certeza se roía de ódio.

Carol foi atrás da mãe, choramingando.


" Adia essa palestra... vai de outra vez."

" Cancelar como se a palestrante sou eu?" - Obstou, rindo. Eficiente, se trocara muito rápido e já carregava a mala de rodízios para fora.

Minha mulher era uma pessoa completa. Excelente esposa, mãe, dona de casa e profissional. Não merecia um terço do que eu estava fazendo pelas suas costas.

Pousou a mão em meu ombro, apertando de leve. Beijei seus dedos, contrito, cheio de remorso. Silenciosamente eu lhe pedia socorro e minha mulher não foi capaz de perceber.

" Vão se divertir. Eu sei o quanto sua rotina é extenuante, física e emocionalmente, Fernando. Você precisa ir. Por favor..."

Perigosa - Haddad + Personagem originalOnde histórias criam vida. Descubra agora