The Reason

A Reason The Start Over New

"Saudade é um pouco como fome
Só passa quando se come a presença
Mas, às vezes, a saudade é tão profunda que a presença é pouco
Quer-se absorver a outra pessoa toda
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira
É um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

–Clarice Lispector

The Reason

É incrível como tudo que eu vejo me faz lembrar dela. Por cada lugar que eu viajo em busca de pistas, sempre tem alguma coisa que me faz lembrar dela. Pode ser as árvores de cerejeira que estão mais lindas do que nunca nessa estação. Ou aquele doce horrível que ela gosta, mas que existe em cada canto do vilarejo em que me encontro. Pode ser aqueles jogos idiotas de memorização em que ela perde horas do seu tempo livre jogando – uma viciada. Ou quando a brisa leve da tarde toca o meu rosto tão suavemente quanto ela. Ou talvez seja cada hotel já conhecido que nós tenhamos passado durante a nossa viagem. Ou quando o cheiro dela se faz presente na minha imaginação nas raras vezes que consigo uma cama pra passar a noite.

O que essa mulher fez comigo?

Eu estou em abstinência da minha esposa?

Que patético.

A que nível eu cheguei?

Talvez, seja apenas o meu cérebro tentando causar uma distração pra eu não enlouquecer.

Esse sentimento. Esse que me faz querer arrancar o coração do peito e ir correndo entrega-lo as únicas mulheres a quem ele pertence. Um vazio tão grande que ocupa tanto espaço no meu coração, aperta tanto o peito que acaba transbordando e escorrendo pelos olhos. Em momentos como esse em que eu paro pra refletir e pensar nelas, no quanto eu queria poder ver a minha filha crescer e amadurecer, estar com a minha esposa e talvez até aumentar a família. Sinto o peito arder, como se mil sóis estivessem queimando dentro dele. Minutos depois me sinto egoísta. Egoísta, por querer estar com elas e perder o privilégio de protege-las, mesmo que de longe. Egoísta, por querer apenas o meu benefício, quando eu aprendi da pior maneira que não é desse jeito que a vida funciona. Não, seria cruel demais com elas e comigo mesmo. A dor que a escuridão traz e muito pior do que a da saudade. Eu tenho que lidar com isso. Eu preciso lidar com isso.

Amegakure é um péssimo lugar pra se passar a noite. No entanto, não tive escolha, já era tarde da noite quando eu resolvi repousar distante de toda a agitação daquele lugar. As pessoas daqui me dão nos nervos. Felizmente ou infelizmente – com grande chance de ser a segunda opção – o único albergue disponível era aquele.

O refeitório parecia que ia explodir. Aquele monte de loucos ensandecido em cima de uma gororoba pior do que as que a Sakura fazia no início do nosso casamento. O desespero era tão grande que parte da comida tóxica foi parar colada na parede ao lado da minha cabeça. O que antes era um frango assado agora estava destroçado e só tinha vestígio dos porcos que não conseguiram esperar pra comer longe dali e deixaram o resto dos ossos lá. Canibais.

Desisti de comer assim que vi que uma guerra estava próxima de eclodir, e o motivo era um pedaço de carne. Não tive escolha, precisaria voltar ao tumulto de Amegakure se não quisesse morrer de fome. Contudo, fui parado depois de ouvir dois homens conversando e consegui entender que eles estavam falando sobre Konoha.

-A situação da Vila da Folha é realmente preocupante, muitos ninjas médicos já foram enviados de outras aldeias e ainda não voltaram. – disse o homem da esquerda que bebia lentamente o que sabe lá era aquilo dentro de seu copo.