Capítulo 3 - A evasão precipitada de Mikhail

2.8K 380 54
                                    

Na terceira noite em que Mikhail estava vivendo naquela casa, os sonhos começaram a perturbá-lo. Se remexia no sofá velho enquanto seu corpo não despertava de seu martírio.

Em seu sonho estava caminhando dificultosamente sobre a nevoa. Mavra ferindo a sua pele e deixando queimaduras que ardiam como fogo. De repente já se encontrava naquela mesma casa amaldiçoada. Clamou por ajuda, nem mesmo ele sabia por quê, entretanto estava preocupado por Yvon e com muito custo conseguiu subir as escadas até o quarto dele.

Escuridão, apenas trevas, até que ele acendesse uma lamparina e a deixasse cair com o susto. As chamas rapidamente crepitaram se espalhando ao redor da casa de madeira.

Yvon tinha os olhos vermelhos como sangue, seus lábios sangravam quando olhou em Mikhail e deu-lhe um sorriso demoníaco de dentes pontiagudos. Lenusya estava coberta por sangue enquanto devorava alguém, e aquele ser nada mais era do que uma cópia de Mikhail morto sobre o chão.

Tamanho horror o inundou e o grito fora inevitável deixando o mais profundo de seu ser no desespero sem limites que o infligiu.

Sentou-se rapidamente no sofá ainda gritando de pavor. As lágrimas já eram presentes e provavelmente ele esteve chorando por todo o pesadelo. Quando notou a presença de Yvon, todo preocupado olhando para ele, seus olhos se esbugalharam e ele rapidamente o empurrou, pegando-o de surpresa.

Yvon caiu contra o assoalho e ergueu as mãos a sua frente em defesa. Mikhail havia pegado um dos vasos do criado mudo, prestes a desferir um golpe.

- Espere! Eu não fiz nada! - Yvon gritou se defendendo e já cerrando os olhos para receber o golpe.

Mikhail se acalmou e sentou-se novamente sobre o sofá, abandonando o vaso de plantas.

O mago se sentou sobre o tapete quando percebeu, seus olhos estudando preocupadamente o pequeno corvo.

- Foi um grande pesadelo, não é? - Perguntou com cautela.

Mik assentiu enquanto enxugava seus olhos, soluçando. Mesmo que não quisesse parecer um bebê chorão, as emoções ruins o pegaram como lanças e fora inevitável conter as lágrimas.

- Isso é normal... São os efeitos da maldição.

- Acha que uma coisa assim é normal? - Mik olhou-o indignado.

Yvon retornou o olhar com um sorriso triste.

- Eu passei pela mesma coisa. Eu ainda não posso dormir bem, mas acho que me acostumei. Dois séculos convivendo com pesadelos, a certo momento se torna uma coisa normal. Eu mal me lembro como eram os sonhos.

Mikhail arregalou os olhos. Dessa vez ele não soube como responder.

- Não se preocupe! - Yvon deu-lhe outro daqueles sorrisos que contradiziam a felicidade. Mik podia enxergar muito bem quanta dor havia naquele olhar, era óbvio a farsa que era aquele sorriso. - Eu estou aqui para o que precisar... Pelo menos você tem a mim. - Ele se levantou e estendeu a mão. - Quer ver uma coisa comigo?

Sem muita escolha e bastante curioso pelo que era, Mikhail pegou a mão de Yvon e foi levado para o alto da escada. O andar de cima era como o primeiro, mantendo o mesmo estilo de decoração antigo, mas bonito, diferenciando pela cama de solteiro e uma arca que servia provavelmente de guarda-roupa. Mikhail se surpreendeu quando Yvon separou as cortinas e abriu duas grandes portas de vidro, saindo para a varanda.

Nunca antes o pequeno corvo havia visto uma paisagem tão maravilhosa. Mesmo que a noite. A lua era imensa iluminando as colinas, até que mais à frente havia uma espécie de grande depressão de terras onde se encontrava um lago tão grande que desaparecia entre várias outras montanhas se ramificando por várias direções. Era simplesmente lindo.

As Colinas de Górki [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora