As Colinas de Górki [Romance Gay]

Capítulo 5 - O passado de Yvon

— Corte os meus cabelos. Eles são muito preciosos para mim, eu nunca os cortei em toda a minha vida. Vai significar muito para fazer o feitiço funcionar.

Os olhos de Yvon se arregalaram, pasmo. Com um suspiro, hesitando, disse:

— Você tem certeza disso?

Mikhail o olhou determinado e assentiu com fervor.

Yvon não conseguia desviar os olhos do garoto sobre ele. Inclinando-se sobre um cotovelo, tocou os longos cabelos de Mikhail com uma mão, deliciando-se com a suavidade e a maciez. Cabelos virgens, negros, que com certeza valiam muitos sentimentos por parte do outro. Madeixas que nunca antes foram aparadas por uma tesoura.

— Não posso fazer isso.

— Mas...

— Não é por você que não farei, mas por mim. Eu gosto do seu cabelo, você não deve ficar sem ele.

Os olhos de Mik se arregalaram, incrédulo com as palavras de Yvon.

— Então... O que podemos oferecer?

Yvon pediu gentilmente para Mikhail sair de cima dele e se levantou. Puxou para fora da blusa um pingente, que provavelmente o outro nunca antes vira com ele.

— Está vendo esta pedra? — Apontou para um prisma, que brilhava à luz do fogaréu crepitando perto. — Esta é a única lembrança que tenho de meus pais. Meu progenitor que me dera há dois séculos atrás. Foi um presente de despedida. Eu só não imagina que seria uma despedida definitiva... Por isso o guardei comigo e não fico sem ele.

Mikhail tinha os olhos trêmulos, ele tentou lhe dizer algo, mas Yvon o interrompeu.

— Melhor do que perder uma parte do corpo, ou mesmo os seus cabelos que são preciosos para mim... Este é apenas um objeto, a tristeza será passageira.

Mik outra vez tentou lhe dizer algo, mas antes mesmo que pronunciasse, Yvon arrancou o cordão do pescoço e jogou a corrente sem hesitar em meio à fogueira. A magia fora instantânea. As chamas, outrora laranjas e cintilantes, se tornaram escuras e alcançaram mais de dois metros de altura.

— Venha comigo! — Yvon agarrou Mikhail rapidamente e correu para longe. A um certo ponto ele jogou Mik ao chão e o cobriu com seu corpo quando as chamas explodiram em todas as direções possíveis. Um véu, que antes escuro, tornou-se brilhante e lilás se expandindo por todo o terreno dos corvos e demais colinas próximas.

O mago por pouco não fora atingido pelo poder daquele feitiço, se caso encostasse ao menos, teria sérios problemas com a pele. Entretanto seu rosto estava tão próximo de Mikhail, encarando surpresa e admiração nos olhos cinzentos. Nunca antes em sua vida vira alguém que fosse tão belo, que brilhasse aos seus olhos.

Seu olhar dançou em cada percepção. Anotando mentalmente os traços suaves, cada detalhe para que pudesse pintar uma pintura mental de Mikhail. Não queria esquecer nada do que estava acontecendo naquele momento.

Os primeiros raios solares surgiram no horizonte. Naquele local não haviam os espíritos da floresta percorrendo o céu para as colinas sagradas, pois já estavam muito próximos do território dos corvos. Contudo, ainda sim era muito belo de se ver o amanhecer.

A magia fora se dissipando e toda a névoa negra havia sido praticamente aniquilada.

Yvon se levantou contra sua vontade e ajudou o corvo a se pôr de pê. Por um momento sentiu seu rosto esquentar, porém não lhe fugiu a visão de Mikhail rubro que rapidamente desviou a face. Perguntou-se se aquilo significava algo realmente ou se era apenas ele que estava imaginando coisas.