Capítulo 6 - Um presente significativo

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Yvon enxugou suas lágrimas quando notou que estava derrubando-as sem controle algum conforme suas emoções o inundavam. De certo o seu passado era muito triste. Não por que alguém morreu, mas como se ele fosse considerado morto, ou melhor dizendo, considerado inexistente.

Para sua surpresa, ver Mikhail igualmente derrubando lágrimas atrás de lágrimas não era o que esperava. Imaginou que veria um olhar de pena, porém vê-lo realmente ser consumido por suas emoções, tocou o interior de Yvon como um carinho quente.

— Como você foi capaz de viver todos estes anos assim... tão sozinho? — Perguntou Mik fungando contra o seu manto.

Yvon terminou de enxugar a face para olhá-lo com amor.

— De alguma forma, acho que eu sempre tive um restolho de esperança dentro de mim. Pois de alguma forma creio que posso voltar a ver os meus pais novamente. Mesmo depois de tanto tempo...

Os corvos poderiam viver bem mais do que quinhentos anos. Era muito tempo, mas pouco considerando outros seres mais superiores do que eles.

— Eu vou ajudá-lo! — Mikhail rapidamente lhe cortou. — Nós podemos encontrar um meio de acabar com essa maldição, eu creio que podemos! Eu não quero ser esquecido pela minha família, eu não quero...

Yvon não soube de onde veio a sua indignação, mas antes que pudesse se controlar e manter a calma, as palavras já vieram por si só.

— Não há como! — Levantou a voz. — Você não pode me ajudar, ninguém pode fazer nada! — Ele se levantou abruptamente e ofegante, como se não suportasse aquela situação.

Os olhos de Mikhail caíram, assim como seus ombros.

— Está me dizendo que... minha família jamais irá me reconhecer? — As lágrimas novamente inundavam os olhos de Mikhail.

Yvon estava se sentindo um tremendo idiota. Caiu desfalecido no chão e soltou um longo e pesaroso suspiro de derrota.

— Eu sinto muito Mik. Não queria que soubesse desse fato, por isso que eu lhe fiz aquela proposta... por que sabia que mesmo que quisesse, jamais poderia voltar para sua família.

Suas palavras não serviram de nada, pois Mikhail estava caindo no choro e balançando conforme os seus soluços trazia a dor para fora dele. Yvon o puxou delicadamente para um abraço, porém fora rejeitado com força quando o menino simplesmente correu para longe dele e desapareceu no banheiro, consequentemente colocando o seu jantar para fora.

A dor da culpa o corroeu ao longo das horas, Yvon se recostou contra a poltrona, ainda sentado sobre o tapete e olhando o fogaréu de sua lareira, viajando na decepção de ser ele mesmo.

Não apenas um fracassado, mas também um amaldiçoado.

–*-*-

Mikhail não tinha dormido bem naquela noite. Impossível dormir quando se estava caído ao chão do banheiro.

Quando se sentou, suas costas protestaram horrivelmente, gemeu e então se escorou na pia para se levantar. Uau, estava horrível ao se olhar no velho espelho quebrado. Apenas neste momento que realmente se deu conta do belo rachado que havia abaixo do espelho e diversos trincos. Foi Yvon? Há quantos anos tinha sido?

De repente sentiu-se mal pela forma em que reagiu na noite passada, ele havia recusado o abraço de Yvon quando tudo o que o homem queria era ajudá-lo, dar a ele algum conforto quando as coisas eram difíceis.

O ponto principal era: O mago havia passado por situações piores que do que Mikhail. Talvez não fosse para ele achar que era tão pior quanto qualquer um. A julgar pelo passado de Yvon, o sofrimento de todos estes anos preso a este lugar com certeza não era algo para se ignorar. O homem havia aprendido todo o possível que ele poderia aprender.

As Colinas de Górki [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora