Capítulo 7 - Anseio

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As mãos de Mikhail estavam vagamente esquentando através da xícara fumegante com chá de ervas. Cheirava tão bem e sentia-se um pouco mais aliviado após Yvon ter saído para o escritório a fim de buscar algo. Mik por sua vez, permaneceu com as cobertas em torno dele, curtindo a lareira acesa, seu calor propagando pela sala e um profundo sentimento de conforto apegando em seu ser. Até mesmo o tapete de peles de animais abaixo dele se sentia bem contra seus pés gélidos.

Pegou-se pensando em sua família, e veio-lhe em mente a discussão da noite passada, onde Yvon tinha aberto o jogo para ele, lhe contado o seu triste passado e ainda lhe dito que provavelmente Mikhail seria como ele, esquecido por aqueles que amava.

Um suspiro deixou seus lábios e então bebericou mais um gole do líquido quente. Desceu tão bem.

— Você parece muito pensativo. — Yvon voltou e sentou-se ao seu lado, abandonando a coberta. Havia uma espécie de livro em suas mãos, parecia velho e gasto, o que fez Mik muito curioso.

— Estava pensando sobre a minha família. — Respondeu com pesar. Yvon olhou estudando-o e assentiu.

— Esse livro é muito interessante, é uma pena que esteja tão velho. — Yvon dizia. Mikhail assistiu Lenusya se aproximar deles e deitar-se preguiçosamente frente a lareira. — E embora seja assim tão antigo, tem informações valiosas sobre os corvos. Inclusive fala da rotina das aldeias de mais de mil anos atrás, não é incrível?

Mikhail segurou o livro em mãos, deslumbrado em saber da idade tão avançada de uma obra como aquelas. Meticulosamente folheou as páginas. Yvon saiu novamente prometendo encontrar seus livros favoritos para dividir, ele podia não saber, mas Mikhail amava as escrituras, amava inclusive escrever. Isso era algo de muito valioso que eles tinham em comum.

Conforme passava de página em página, louco para logo estudá-lo, sendo antropólogo de sua própria linhagem, Mik arregalou os olhos num determinado trecho. Olhou ao redor pela presença de Yvon, porém estava seguro. Então inclinou-se e leu o que dizia.

"A lua de inverno, também chamada como lua de acasalamento, ocorre apenas uma vez por ano, uma vez durante o inverno em uma noite de céu limpo, onde a luz brilhante do astro maior ilumina toda a floresta. Os corvos não são as únicas espécies atingidas por esse tipo de acasalamento, entretanto sua ocorrência é maior com essas aves..."

Mikhail tinha olhos enormes, suas pupilas quase como azeitonas enquanto lia trecho por trecho, na esperança de encontrar um meio de que não acontecesse com ele.

" Entre os corvos é inexistente a presença de fêmeas, portanto quando os rapazes, após completarem seus dezoito invernos, são classificados naturalmente como progenitores ou guerreiros. Há uma vasta diferença entre eles e os acasalamentos ocorrem perfeitamente como provindos da divindade. "

Estava sinceramente com medo de ele realmente ser um progenitor. Não é como se Mik realmente quisesse ser um guerreiro varão forte e destemido, ele simplesmente não achava que poderia gerar uma família, de certa forma se sentia... acuado com a ideia.

" Os progenitores são aqueles escolhidos para sentirem os sintomas do cio incorporando neles primeiramente. Após o início, os rapazes escolhidos como varões guerreiros serão naturalmente atraídos para o parceiro que melhor lhe convém e o acasalamento ocorre..."

— O que está lendo?

Mikhail fechou o livro rapidamente, Yvon quase em cima dele, olhando-o com extremo interesse, um sorriso repuxando as comissuras de seus lábios. Mik estava em pânico, sentia o sangue se esvaindo de sua face.

— Na-na-nada! Absolutamente nada! — Abraçou o livro contra o peito, e droga, era óbvio demais que ele estava escondendo algo.

Yvon ergueu uma sobrancelha e sorriu em deboche.

As Colinas de Górki [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora