Capitulo 6

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Passado algum tempo, ele já dizia que me amava. Enquanto ele demonstrava da melhor forma que conseguia o que sentia por mim, eu escondia tudo o que sentia.

Não estava com intenções de demonstrar afeto. Ele conseguiu fazer com que eu ama-se alguém novamente. Mas ele não precisava de saber isso. Eu não queria que ele soubesse.

O tempo foi passando e quando dei por mim, já estava completamente apegada a uma pessoa. Quebrei a minha primeira regra, não te apegues demasiado a ninguém. Queria me afastar, mas como? Mas mais uma vez, não demonstrei nada.

*

Levanto-me da cama e começo a despachar-me para ir para a escola. A caminho recebo uma mensagem.

"Bom dia"- é o André a desejar-me um bom dia como todos os dias. Respondo antes de sair do carro.

Hoje não estou nos meus melhores dias. Assim que acabo de pensar nisto, apercebo-me de que ainda não tomei os comprimidos que tenho de tomar de manhã. Procuro-os na mochila, mas nada. Sem sinal deles. Parece que hoje alguém vai andar muito mal humorada, pensei. É só mais um dia normal.

Quando chego à sala digo bom dia parecendo simpática. A última coisa que me apetecia era ser simpática.

Quando estava quase a adormecer, recebo outra mensagem. Em minha defesa, as aulas de português não são propriamente interessantes.

Queres ir almoçar comigo hoje?- era ele outra vez.

Bem, porque não né? Não estava nos meus melhores dias, mas um almoço com ele não me ia fazer mal.

Sim, pode ser- respondi.

Okay, então a 13:20 estou no portão da escola- respondeu.

Okay.

As 13:20 ele estava no portão como combinado.

-Olá

-Olá- respondeu dando-me um beijo na bochecha. Tínhamos combinado que éramos só amigos.

-Onde vamos almoçar?- pergunto a morrer de fome.

-burger ranch, pode ser?

-Claro.-respondi.

Conversamos sobre várias coisas e confesso que estava nervosa, o que me irritava bastante. Não era hábito meu estar nervosa por causa da presença de alguém. Porquê que com ele tinha de ser diferente?

Tentei controlar-me, respirei fundo e comecei a comer novamente. Calei-me um pouco porque estava demasiado ocupada com os meus pensamentos para dizer alguma coisa. Mas rapidamente fui interrompida.

-Depois de almoçarmos tenho de ir buscar a minha mochila para o treino. Vens comigo? - perguntou. Demorei a responder.

Eu tinha aulas à tarde e uma vez que os treinos dele eram ao pé da minha escola não via mal em acompanha-lo.

-Sim, vou.- respondi.

Quando estávamos a chegar ele disse-me que os pais estavam em casa. Assim que ele o disse eu parei de andar.

-Os teus pais estão em casa?- perguntei. Eu não queria conhecer os pais dele. Ia morrer de vergonha.

-sim, qual é o mal? Não é preciso ficares com vergonha. Eles depois vão-se embora.

Era suposto aquela resposta tranquilizar-me? Se sim, não resultou.

Quando chegamos a porta do prédio eu disse que não ia subir e que ficava a sua espera. Mas ele não aceitou.

Quando entrei na casa dele deparei-me com um casal na cozinha a fazer o almoço. Ambos eram simpáticos. Apresentei-me simpaticamente e de seguida segui o André até ao seu quarto.

Sentei-me na cama, enquanto o observava a preparar a mochila.

-Ainda falta muito tempo para a tua aula e pada o meu treino, queres ficar aqui a ver um filme e depois vamos? - perguntou parando o que estava a fazer para olhar para mim.

-Por mim pode ser.- respondi.

Passado um pouco os pais deles saíram de casa para irem trabalhar. Só estávamos nós os dois em casa.

-Que filme queres ver?- perguntou.

-Escolhe tu. - respondi. Não gosto de tomar decisões, mesmo que sejam simples como esta.

Ele pôs um filme a dar e sentou-se ao meu lado no sofá da sala. Estava um dia de sol quente e por isso tinha uma t-shirt vestida.

Eu senti que ele estava a olhar para o meu braço, mas tentei não parecer incomodada.

-que cicatriz é essa no teu braço? Como é que a fizeste?

Eu sabia que mais tarde ou mais cedo ele ia perguntar.

-foi um acidente.- respondi. Olhei-o nos olhos mas desviei rapidamente o olhar quando senti que ele me ia fazer outra pergunta.

Muitas pessoas faziam perguntas acerca da minha cicatriz e a ordem delas era sempre a mesma.

-que acidente? - perguntou.

As pessoas podiam controlar um pouco a curiosidade.

-um acidente. É tudo o que precisas de saber.- respondi tentando ser o menos arrogante possível.

-tu...- fez um gesto com as mãos sobre os braços como se tivesse a cortar. Preferiu os gestos em vez das palavras. Aquele gesto irritou-me profundamente, mas tentei parecer calma como se aquilo fosse um perfeito disparate.

-Achas?- perguntei tentando não parecer mentirosa.

-está bem, não faz mal. Quando te sentires a vontade para contares o que aconteceu, contas. Se quiseres, claro. Eu espero o tempo que for preciso.

Assenti com a cabeça e continuamos a ver o filme.

O filme acabou mesmo na hora de irmos embora. A caminho para a escola, ele pegou-me na mão, puxou-me até ele e beijou-me.

-tínhamos combinado que éramos só amigos.- disse-lhe assim que ele desencostou os seus lábios dos meus.

-Não gostaste?- perguntou. Não tinha um ar de convencido. Tinha um ar de quem sentia que tinha abusado.

-Gostei- disse sinceramente- mas não pode ser.

-Eu sei, é muito cedo. Mas eu não aguentei. - respondeu-me.

-Não faz mal.-respondi.

Ele fez uma cara de alívio e continuamos o caminho.

Antes de eu entrar na escola, agarrou novamente a minha mão e virou-me para ele.

-Amo-te Ileana.- disse-me olhando nos meus olhos.

Ao ouvir aquele "amo-te", lembrei-me de toda a gente que disse que gostava de mim, mas no final abandonaram-me.

-nunca vou desistir de ti.- disse-me quando percebeu que não ia ter resposta ao "amo-te".

-vamos ver quando tempo aguentas a tentar.- assim que respondi, larguei a minha mãe da dele e entrei dentro da escola sem ouvir resposta.

Silêncio Profundo.Onde histórias criam vida. Descubra agora