Byun Baekhyun era louco.

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Byun Baekhyun era louco.

Veneza, Itália

Era hábito Baekhyun caminhar ao lado de Chanyeol aos fins da tarde. Um cigarro entre os lábios brilhantes, cabelo de mexas tingidas de vermelho bagunçado e calças pretas com uma porrada de correntes que tilintavam a cada passo que dava. O pescoço ligeiramente inclinado para a frente pela má postura quando se sentava nos bancos de jardim para enrolar os seus cigarros no colo e mãos tremulas, quase sempre geladas. Tragava o cigarro consecutivamente, parecia que dependia daquilo para viver — e era assim mesmo. A luz alaranjada do pôr do sol batia-lhe na pele morena e os seus óculos de sol meio redondos e pretos estilo Kurt Cobain tapavam-lhe os olhos bonitos e semi cerrados, resultado dos baseados fumados quase sem intervalo. Byun Baekhyun, para além de intrigante, era bonito para caralho e tinha uma gargalhada que, apesar de rara, parecia mover montanhas. Costumava abrir um sorriso a todas as piadas que Chanyeol lhe contava, até às mais absurdas. Parecia frio (e chegava mesmo a ser por vezes, consequência da infância traumática a que fora submetido), próximo de ser intocável. Chanyeol nunca se imaginara do lado daquela figura tão delgada, quase só osso, e ao mesmo tempo tão intimidante, de sorriso zombeteiro e tatuagens nos braços. Se não se tivesse sentado naquele banco de jardim há pouco menos de 5 meses não estaria ali a passear pelas ruas de Veneza lado a lado com Baekhyun, que roçava a sua mão na dele ao balançar o braço mas nunca, de facto, a segurava. Parecia testar a sua paciência.

Também tinha um gosto musical incrível e às vezes o seu italiano soava engraçado. Nascido em Itália numa primavera no ano de 1992, Baekhyun era filho de uma família disfuncional. A mãe, uma jovem coreana apanhada de surpresa com um filho na barriga, pouco ou nada punha os pés em casa. O pai, um italiano ainda mais novo que sua mãe, nunca o assumira como seu filho. Afinal, ele era um erro, fruto de uma relação desprotegida sem qualquer intenção em criar um novo ser. Baekhyun não se importava. Aos 16 anos aprendeu a lidar com as discussões no cómodo ao lado com baseados e música alta; criava playlists com o melhor amigo e fumavam juntos até se sentirem nas nuvens. Assistia aulas de coreano online, mas ainda assim falava muito pouco pela troca nula de palavras com a mãe, e o seu italiano era mediano pois quando mais novo, ao ficar ciente dos problemas familiares, recusava-se a falar estivesse onde estivesse, o que acabou por se avolumar para um problema maior. O seu dicionário desenvolveu-se um pouco mais atrasado que o das outras crianças, e precisava pensar mais do que o normal qual a palavra que queria proferir, esquecia-se ou baralhava-se. Tudo isso pouco lhe importava, pois não falava com ninguém (só com ele mesmo). Mas agora mais do que nunca virava as noites a aprender coreano para se comunicar cada vez melhor com Chanyeol, isto quando não precisava falar palavras caras e então se punha a falar em italiano — Chanyeol tinha de se virar para entender o que ele dizia ou ficava na ignorância.

Passeava em dias ensolarados e sentava-se pouco depois de caminhar por 10 minutos; cansava-se depressa. Chanyeol começava a habituar-se aos queixumes de Baekhyun, que era tão magro e fraco que quase não se aguentava em pé. Pudera, o doido mal comia. Chanyeol aprendera a cozinhar desde novo e fazia pratos divinais a Baekhyun, que não comia pela falta de apetite, esta que durava há anos. Só estava vivo porque Chanyeol lhe enfiava barras de cereais pela boca dentro quando o apanhava desprevenido — se assim não fosse, não comia uma migalha. Até os olhos eram amarelados pela falta de água. Chanyeol carregava uma garrafa de água para todo o lado, mas Baekhyun rejeitava o líquido. Quase parecia zombar com a própria vida e com a preocupação do outro. A verdade é que nunca ninguém se preocupara, e por isso chegava mesmo a acreditar que Chanyeol não existia. Não seria a primeira vez que alucinava, e em relação a Chanyeol tinha razões para isso. Quem era aquele moleque de 19 anos vindo do outro lado do mundo que se apaixonara por um italiano fantasma que não era fluente a idioma algum e que se fosse deixado sozinho mais de 5 segundos amarrava uma corda ao pescoço? Soava-lhe surreal. Tocava em Chanyeol para ter a certeza de que ele estava ali. Afundava o dedo indicador na bochecha dele, que revirava os olhos acompanhado de um "Eu existo" cansado, prova de que aquilo era frequente.

Itália, 1992.Onde histórias criam vida. Descubra agora