Embriaguez

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Vi aqueles olhos e tive certeza queria me afogar neles. Eram de um magnetismo, me arrastando, seduzindo. Eu queria ir até ela.

Era o meu aniversário. 17 anos. Meus amigos haviam programado uma noite diferente para nós e isso envolvia uma boate local, identidades falsas e álcool. Depois de prometer a minha mãe super protetora que me comportaria como um anjo na casa da Fernanda, onde supostamente teríamos uma inocente festa do pijama, desci do carro com as mãos trêmulas. Eu não era uma menina que normalmente mentia para os meus pais, mas parece que aquela era uma oportunidade certa para praticar.

Mais tarde, depois de escolher entre as roupas dela qualquer coisa que pudesse me fazer parecer um pouco adulta, partimos para a festa. Era como se esperava, música alta, pessoas muito perto e aquela bebida amarga que, Marcos me prometera, me deixaria louca. Depois de alguns xotes, aquilo começou a fazer sentido. A balada batucava no meu peito e dançar não era mais algo que me envergonhasse de fazer. Não mesmo.

Devo ter me esfregado em gente estranha, dançando com pessoas que nunca vi e com os meus amigos. O suor que havia sentido no ar com certeza agora estava impregnado com a minha própria colaboração e esqueci por longos instantes de que havia uma vida fora daquelas luzes, paredes e som.

Foi aí que vi ela. Recostada em uma das paredes, quase isolada, ela me olhava com um sorriso cínico no rosto. Ignorei como ela podia parecer comigo, quase o esteriótipo de patricinha, não fosse o jeito despojado, despreocupado com que se vestia. O olhar era o magnetismo naquela coisa malandra que ela tinha, parecia que me desafiava a qualquer ato que, eu não precisei pensar muito, não era nada difícil de fazer agora. Não mesmo.

Ela veio em minha direção quando eu já tinha dado alguns passos para ela. Erguia as sombrancelhas enquanto eu tropeçava e desviava de pessoas. Quando nos encontramos, não houve nada difícil. Ela me puxou pra perto e colocou os lábios macios nos meus, bagunçando a minha cabeça enquanto se movia contra mim, fingindo o ritmo da música. Mas não havia ritmo algum.

Éramos só eu e ela, sua língua na minha, qualquer coisa esquecida no fundo da minha cabeça dizendo que aquilo era errado. Que eu devia fugir, correr, escapar do tremendo calor que surgia entre nós. Mas eu não queria. Sentia que precisava de muito mais do que apenas beijar sua boca e não resisti quando ela me guiou para um dos cantos, suas mãos passando pelas laterais do meu corpo, a perna brincando entre as minhas. Sentia-me quente, assustada e sedenta de que houvesse ainda menos obstáculos entre nós.

Ela riu na minha boca e me mordeu de leve, afastando-se como quem brinca de tomar doce de criança. Quando ela sumiu na multidão, fiquei com o gosto dos lábios macios nos meus e a impressão de que jamais o cheiro dela sairia do meu corpo ou da minha cabeça.

Júlia? Marcos ria, perguntando o que diabos havia dado na minha cabeça. Eu só então lembrei de que era uma garota e que havia beijado alguém que, diziam, eu não devia. A vergonha subiu para minhas bochechas e uma sensação aterrorizada me veio. Culpei o álcool, enquanto Marcos fazia que sim e me permitia esquecer momentaneamente o que acontecera. Ainda assim, a noite estava acabada bem ali, e eu fiquei pensando que... Porra! Eu era péssima. E ainda assim, apesar da culpa do caralho que me vinha, eu procurava por ela nos lugares, nos rostos, em todo lugar.

Fui encontrá-la dias depois, atrás da vitrine de uma loja qualquer. Queria tanto saber seu nome e dizer... Qualquer coisa. Foi só aí que Marcos assumiu algo importante, rindo ao pé do meu ouvido em tom de deboche. Júlia, não havia uma única gota de álcool em qualquer dos seus drinks.

[Continua]

Entre elasWhere stories live. Discover now