🏡 Vizinho parte 4 || Imagine Coringa 🏡

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- Não acha que está muito escuro para pintura?- Perguntei para ele, que estava concentrado na tela a minha frente.

Ele lambeu seus lábios, me olhando. O som de seus lábios contra eles mesmos me lembrou das cicatrizes. Descobri que ele tinha essa mania hoje mesmo.

- Eu gosto de trabalhar no escuro.- Falou.

- Você é a primeira pessoa que me diz isso.- Dei uma olhada ao redor da sua casa. Os quadros esquisitos continuavam no mesmo lugar.- Aliás, a sua casa é bem bonita.

- Não se mexa.- Sussurrou aborrecido. Voltei para o meu lugar e percebi que ele está bem concentrado no seu trabalho. Ele umidecia os lábios sem parar.

Ele deu um longo suspiro frustado e foi até minha direção, me deixando assustada. Ele chegou bem perto de mim, aumentando meus batimentos cardíacos. Ele abaixou mais minha blusa tomara que caia e ajeitou meu cabelo, senti vários arrepios pelo toque de suas mãos ásperas. Mesmo que tenha sido uma fração de segundos, faz muito tempo que um homem me toca.

Ele voltou para o seu lugar, continuando seu trabalho. Ficou um silêncio desconfortável na sala, só sendo preenchido pelas batidas do pincel em suas mãos. Eu odiava a ficar quieta por muito tempo.

- Por que mudou para cá?- Acabei perguntando. Aproveitei esse momento para ele responder minhas dúvidas.

- Queria um lugar mais silencioso, para aproveitar meu dom na pintura.- Falou ainda concentrado na tela. Ele me olhava as vezes, e sempre que ele me olhava eu tomava um susto e ficava quieta no meu lugar.

- Desde quando você começou a pintar?- Perguntei.

- Não sei, talvez desde quando eu era criança. Não tem muita importância.- Falou.

Silêncio.

As cicatrizes, pergunta sobre as cicatrizes... Não, não vou perguntar...

- Como ganhou elas?- Escapou, droga.

- Elas quem?- Continuou seu trabalho.

- As cicatrizes, como ganhou elas?- Perguntei novamente, com uma enorme curiosidade.

- Não acha que está perguntando demais?- Falou.- A minha vida não é tão interessante, me conte mais sobre a sua.

- A minha? Você acha que tem algo de interessante na minha vida?- Perguntei rindo.- Eu só trabalho em um banco em Gotham e...

- Gotham? Você morava lá?- Olhou pra mim.

- Sim, minha mãe e eu nos mudamos de lá por conta dos problemas de saúde que ela tem. Mas eu tenho que voltar pra aquele hospício de segunda a sexta.- falei.- Trabalho no banco principal.

- Que merda. Me diga, S/N, você tem namorado?- Perguntou.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, agora ele queria entrar no pessoal.

- Não sou obrigada a responder perguntas pessoais.- Dei de ombros.

- Então não tem.- Falou.

O olhei abismada. Decidi ficar quieta. Ele continuou pintando a tela até algo o incomodar.

- E você, tem alguma pessoa especial na vida? Tipo, uma esposa? Ou uma namorada?- Ele não me respondeu, mas eu insisti na pergunta.- Eu só acho que é meio triste você ser tão solitário assim.

- Eu não sou solitário.- Não era o que parecia.

- Até a sua mudança pra cá, eu não vi ninguém visitá-lo.- E isso era verdade, ele mal saía de casa.

- Isso não é verdade, você está me visitando agora.- Falou. Revirei os olhos.

- Não me incluo nisso. Nenhuma esposa, filhos, e você não é tão jovem assim.- Ele não tinha uma aparência tão jovem, já dava para ver as rugas, mesmo no escuro da sala.- Espera, ela te deixou por causa das cicatrizes?

Droga, não era para eu ter perguntado isso. Percebi que sua expressão mudou.

- Não foi isso que eu quis dizer...- Tentei me desculpar.

- Está faltando alguma coisa....- Sussurrou.- Eu já volto.

Se levantou da cadeira rapidamente, arrastando ela no chão fazendo um som horrível e entrou por dentro da casa, aproveitei e relaxei um pouco.
Eu me sentia tão horrível por ter perguntado aquilo.

Me xinguei mentalmente pela minha pergunta besta, as vezes eu tenho que manter minha boca fechada.

Mal havia passado um minuto e ele tinha voltado, com algo em suas mãos.

- Abra a boca.- Disse chegando perto de mim. Mesmo em dúvida, eu fiz.

Ele abriu um batom vermelho, o que me fez rir.

- O que é isso?- Ri.- Ah é, esqueci que você é um artista contemporâneo.

Ele começou a passar o batom vermelho em meus lábios, delicadamente, não deixando nenhum local sem ele. Não deixei de olhar os seus olhos, que estavam concentrados nos meus lábios. Eles era profundos e tinha várias olheiras. Observei sua boca e as cicatrizes, de certo modo, eu gostava delas, com certeza tinha uma história interessante, e isso chamava a minha atenção e curiosidade. A sua mania de umidecer os lábios, mostrando sua língua para fora, também era um ", charme" dele.

- Sabia que eu tenho braços?- Perguntei umidecendo meus lábios, para que o batom de espalhasse melhor. Ele se sentou na cadeira e colocou o batom na mesinha de centro.

- Já vi você maquiada antes, e você é péssima nisso.- Continuou seu trabalho.

- Como é que é? Você vai julgar até o jeito que eu me maqueio?- Perguntei, que falta de educação falar uma coisa dessas. Eu não achava minha maquiagem tão feia assim. Tá, eu concordo que não é das melhores, mas não é pra tanto.

- Pare de se mexer.- Avisou. Respirei fundo e fiquei quieta.

Dei uma olhada discreta na casa. Mesmo com só um abajur ligado, dava pra observar algumas coisas. Tirando os quadros esquisitos, que provavelmente foi ele que fez, ela era mesmo bem bonita. Tinha uma lareira, sem televisão. Dois sofás e uma poltrona que parecia bem aconchegante. O que mais me chamava atenção, é que não tinha nenhuma foto de um conhecido, nem um quadro com uma pessoa, mas vai que tem alguma pessoa em um deles, meu pouco conhecimento com a arte não deixava eu visualizar uma face humana em nenhuma delas.

- Posso ver como está?- Inclinei um pouco meu corpo.

- Não.- Simplesmente disse.- Não gosto quando as pessoas vêm minhas obras inacabadas. Se quiser ir embora agora pode ir, só falta alguns detalhes. Te entrego amanhã.

- Ótimo. Minha bunda já estava doendo nessa cadeira.- Falei me mexendo naquela cadeira desconfortável, soltei um gemido.

Me levantei da cadeira e ele também, guardando a tela dentro de algum lugar da casa, tentei ver algum detalhe dela, mas não consegui. Ele voltou e me acompanhou até a porta.

- Então, te vejo amanhã?- Perguntei.

- Talvez.

- Ah, obrigada pelo retrato.- Ele abriu a porta.- Até.

Sai da casa e quando destranquei a porta, não consegui segurar meu riso. Eu só não sabia qual era a graça.

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