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•VISÃO DE CARMO•

Eu estava na casa dos pais de Vicente e a chuva estava grossa. Tinha combinado com ele de esperá-lo ali, para jantarmos com a sua mãe, em comemoração de seu aniversário. Estava tudo pronto, só à espera do meu marido chegar.

Valentina estava assistindo televisão, vendo a novela do horário das 7. Ruth, minha sogra estava terminando de se arrumar e Beto, meu sogro estava cozinhando. Eu estava andando de um lado para o outro na sala, aflito pois Vicente já deveria ter chegado.

—Vai afundar o chão da sala, Carmo. — disse Ruth, saindo do quarto e colocando um brinco. Ela estava sempre perfeita, com os seus cabelos pretos e na altura do ombro. Mesmo para um jantar em casa ela fazia questão de se arrumar toda.

—Vicente ainda não chegou. Estou preocupado.

—Já tentou ligar para ele? — perguntou ela.

—Já, mas só da caixa postal. — quando eu disse, a campainha tocou e Ruth saiu correndo em direção à porta.

—Ele chegou. — gritou ela.

Eu fui andando em direção a sala e logo escutei a sombria vinheta de plantão da emissora que Valentina estava assistindo.

Boa noite. — disse a jornalista. — Um assalto dentro de um coletivo no centro de Henlouis, resultou na queda do ônibus de um viaduto. Não se sabe ao certo o número, mas já é comprovado a existência de vítimas fatais.

Esse é o ônibus do... — disse, com meus olhos cheios de lágrimas e fui interrompido pelo grito de Ruth.

—NÃOOOOOO. — olhei para Ruth e a vi ajoelhada em frente à porta.

Juntei todas as forças que eu tinha e caminhei até a porta. Me posicionei atrás de Ruth e ao lado de fora da porta estava um policial segurando o cap na mão e com a cabeça baixa.

—Ruth, o que está acontecendo? — perguntei, sentido a minha garganta pegar fogo.

—Perdoe por eu ser o portador de uma notícia tão ruim. — disse o policial. — O Vicente Ramalho estava dentro de um ônibus que foi vítima de um assalto e despencou de um viaduto. E infelizmente... ele está entre as vítimas fatais.

Escutei cada palavra daquele homem fardado e gordo. Cada palavra vindo daquela boca era como flechas perfurando o meu corpo. Eu estava petrificado e tudo ao meu redor estava em completo silencio, como se aquela notícia roubasse todo o som do mundo. Em câmera lenta, Ruth começou a socar o meu peito feito uma louca. Eu não me movia com aqueles golpes e nem sentia dor alguma, já que dentro do meu peito já havia uma imensidão de dor. Aos poucos os sons foram retornando aos meus ouvidos e eu percebi o que Ruth gritava.

—A CULPA É SUA! A CULPA É SUA! — ela gritava e deferia socos em meu peito.

—Larga o garoto, Ruth. — disse Beto, segurando Ruth pela cintura e tirando ela de cima de mim.

—Meu filho morreu por causa dele. — disse ela, tentando avançar em mim mais uma vez.

—Do que você está falando? — disse Beto, arregalando os olhos e enchendo-os de água.

Luz Dos Olhos Teus [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora