RITUAL MACABRO

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Eu era vocalista em uma banda de black metal, Crowley, isso foi em meados de 96, colocamos esse nome em homenagem ao grande filosofo ocultista Aleister Crowley. Estávamos na casa de um camarada, ele estava organizando um show que aconteceria no quintal da casa dele, ele tinha uma casa enorme que ficava no centro da cidade, ele também tinha uma banda que estava começando e nos chamou para fazer parte do evento. Na casa dele também funcionava um terreiro de macumba, adorávamos tudo aquilo, pois ocultismo e sarava tem tudo haver. Não receberíamos cachê, mas a cerveja seria por conta dele. Passamos a tarde toda arrumando aparelhagem e acertando os detalhes para o show logo mais a noite. Ele era um cara muito bacana, o som da banda dele também era black metal, isso indicava que o show seria infernal. Terminamos de acertar tudo e ficamos na escadaria do sobrado tomando cerveja e curtindo o palco improvisado, lá seria realizada a loucura.

Ele me perguntou:

- E então Abutre o que você acha de vocês fecharem o show, afinal vocês tem mais tempo de banda e a galera gosta do som de vocês e agente ta só começando!

- Por mim tudo bem, tem que ver se os caras topam!

- Tudo bem, vou falar com eles.

Enquanto conversávamos uma garota chegou na gente e disse:

- Pessoal, eu não tenho grana pra entrar no show, mas podemos fazer uma barganha!

Eu perguntei:

- Que tipo de barganha Lana Tara?

Ela tinha esse apelido, Lana Tara, porque gostava muito de transar, toda hora era hora pra ela, gostávamos disso, ela sempre estava por perto.

- Vocês tocam black metal e geralmente as bandas fazem rituais no palco!

Eu indaguei:

- Ritual?

- É ritual!

Olhei para o China, que era o organizador do evento. Ela continuou:

- Eu trago uma galinha e daí vocês matam ela no palco, vai ser legal a galera vai adorar.

Respondi:

- Tá maluca?

- É pô, vai ser legal!

- Lana, você pode pagar de outra maneira!

Ela deu uma risadinha safada e disse:

- Eu pago dos dois jeitos, trago a galinha e depois pago do outro jeito.

Olhei para ela, ela tinha uma cara de safada, uma boca que não descansava nunca. Éramos uma galera e ela dava conta de nós todos e ainda tinha fôlego pra tomar cerveja até amanhecer. Aceitamos a idéia e ficou combinado que na hora do show ela traria essa galinha para fazermos o tal ritual. Fui pra casa tomar um banho e descansar um pouco, duas horas antes do show eu cheguei à casa do China, já tinha uma galerinha na frente, esperando a porcaria, ops, a portaria abrir. Cumprimentei alguns conhecidos e entrei. Estava tudo preparado, o China veio e me disse:

- Abutre, a Lana Tara trouxe a porra da galinha.

- Puta que pariu China, essa guria e louca.

Demos risadas e ele me disse:

- Vai lá dentro, os caras estão tudo lá no quarto de cima, tão passando o som, tem cerveja na geladeira, fica a vontade.

A casa estava cheia de malucos e malucas para todo o canto, abri a geladeira e era só cerveja trincando de gelada. Cara a zona ia ser boa. Encontrei a Lana e ela veio toda sorridente, me pegou pela mão e saiu me puxando em direção ao palco.

CRÔNICAS DE UM METALEIROOnde histórias criam vida. Descubra agora