Ela acertou

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A neblina enegrecia a paisagem. Todos na muralha estavam a postos, poderia até dizer que prendiam as respirações em antecipação. Ao longe, por entre as aberturas brancas e escuras da imagem, muitos homens marchavam em direção ao castelo.

Alguns viraram os olhos curiosos para Jennie, que iria atirar a primeira flecha. Temerosos, permaneceram à espera de que ela acertasse o alvo principal, mesmo havendo rumores de sua cegueira.

Lá em baixo, à frente das tropas, com o cavalo sapateando em cascalho e restos de gelo, estava Lalisa de olhos vidrados no horizonte, mas a mente longe, vagando por lembranças que reforçaram sua decisão de manter a formação do jeito que estava, independente dos conselhos que recebeu.

2

— Aquele alvo parece difícil de acertar... — a mais nova comentou enquanto visualizava um círculo com faixas vermelhas entre as árvores.

— Eu não consigo ver esse alvo — Jennie disse, virando o rosto e espremendo os olhos para achar o ponto sobre o qual falavam.

— É por isso que a Rosé disse que não deveria mais atirar? — Inquiriu — Não enxerga, então a mira não é confiável.

A mais velha, em silêncio, pegou o arco do chão e a última flecha da aljava. Ambas sabiam que apesar de Jennie poder lutar de perto, até porque vinham treinando isso há um tempo, ela havia nascido para atirar.

Um fato irrefutável, mas todos os que ouviam e espalhavam rumores, discordavam.

— Quantos metros até o alvo? Não se preocupe com a precisão, apenas arrisque um número com base na sua intuição — Jennie disse, olhando para frente, captando apenas o borrão das folhas verdes.

— Talvez vinte.

A mais velha armou a posição, tomou um segundo de paralisia e, então, disparou. A flecha assoviou e correu entre obstáculos até cair perfeitamente no alvo. Lalisa exaltou-se, erguendo o corpo com violência.

— Como fez isso!? — Perguntou aturdida.

— Existem muitos fatores que influenciam o disparo, tal como a visão, o uivo e a vibração do vento, a localidade, distância, potência do arco, até os batimentos cardíacos do atirador. O disparo é algo que vem da intuição, acima de tudo, do pressentimento da hora certa de disparar.

3

Jennie balançou a cabeça, dispersando pensamentos confusos; ajustou a postura, ergueu os braços mais uma vez e se preparando para o disparo, respirou ritmicamente. Uma única flecha zuniu no céu nublado e vazio, então todos ficaram mais tensos enquanto mantinham as posturas e observavam a madeira fina viajar.

Quando ela caiu, levou um corpo junto.

— Chuva de flechas! — Jennie brandou, sua voz quebrando um silêncio tenso e trazendo uma nervosa ansiedade a todos.

Jennie puxou outra flecha com velocidade e expertise.

Ela havia acertado, o líder da infantaria inimiga estava morto.

Jisoo, atrás, preparou e verificou os óleos e chamas, distribuiu as flechas com fogo enquanto corria por entre os arqueiros. O caos se implantou como uma praga pelas tropas inimigas que estavam sendo acertadas por centenas de flechas com violência.

Lalisa, na infantaria da cavalaria, segurou firme as rédeas do cavalo que relinchava, a espada sendo espremida pela mão à espera do momento certo. Todos assistiram os inimigos caindo no vale que foi escavado no campo de batalha.

O lugar foi preenchido e o resto do exército inimigo continuou marchando, eles estavam em maior número no começo, mas agora pareciam ter a mesma quantidade de pessoas. O braço de Lalisa ergueu seguindo seu sentimento e um grito se desprendeu de sua garganta, Rosé a acompanhou atrás, então todos seguiram para o choque de exércitos.

A alvorada será cinzenta e vermelha.

Questão de intuiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora