O encontro

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O que era para ser uma viagem tranquila com destino a Cidade do México e conexão em Cancun se tornou um pesadelo. Tudo estava dando errado. Era finalmente a última cidade na lista da turnê de autógrafos que seu agente lhe arranjara.

Era um daqueles típicos dias em que você achava que tudo ia sair conforme o plano, mas como sempre a vida é uma caixinha de surpresas, não é mesmo?

​A começar que quase perdera o avião em Los Angeles porque justo naquele dia o trânsito decidiu parar, parecia que todo mundo precisava chegar a algum lugar, ficara o tempo todo olhando no relógio e desejando que de alguma forma, assim como nos livros, aquela situação magicamente se resolvesse. Depois seu voo atrasara mais de uma hora, ficara em um assento econômico no meio, o único disponível para a data, sem muito espaço para os joelhos ou um serviço de bordo adequado. Nem uma bebida para relaxar fora possível.
​Agora estava presa no aeroporto de Cancun há quase duas horas e para seu completo desespero todos os passageiros foram informados que o voo para o destino final fora cancelado e reprogramado para o dia seguinte, e quando a voz no autofalante revelara o motivo teve muita vontade de agarrar o comissário de bordo, que tinha o microfone em mãos, pelo colarinho e sacudi-lo freneticamente, descontando toda sua frustração acumulada durante o dia, como se aquilo fosse resolver tudo. Se fosse esse o caso ele com toda certeza não estaria mais todo engomadinho.

─ Não acredito que cancelaram os voos, Carson! ─ ela se exaltava com seu agente ao telefone.

─ Jas. Não é qualquer feriado, é patrimônio histórico. A tradição mais importante do país inteiro. Se acalme. ─ lhe pedia pela décima vez em menos de um minuto ─ É igual ao nosso Halloween só que muito mais importante, até mais que o natal.

─ Eu estaria calma se estivesse agora no meu quarto de hotel na Cidade do México. Você sabe muito bem que depois disso tudo eu tiraria férias e agora meus planos foram por água abaixo.

Se havia uma coisa em que Jasmine era boa, era em fazer planos. Ela seguia a risca cada passo para que nada saísse errado e agora um dos seus maiores pesadelos estava se tornando real, teria que refazer tudo.

​Só podia ser algum tipo de teste divino ou quem sabe fora sorteada para ser alvo de alguma maldição. Com a sorte que estava tendo ultimamente não duvidaria.

─ É algo que está fora do meu alcance, você sabe que se eu pudesse resolveria tudo.
​Ela sabia. Não havia ninguém em que confiasse mais do que em Carson Riggs, um verdadeiro tubarão branco do ramo literário e um amigo muito querido.

─ Sabe que se eu pudesse também estaria ai com você, não é? ─ ele continua.

─ Sim. Eu sei. ─ respirava fundo.

─ Mas como eu sou o melhor agente que você conhecerá na vida, já arranjei tudo. Fiz uma reserva em seu nome em um hotel super-recomendado na internet, instalações luxuosas, cassinos, baladas, bar, piscina e um quarto com uma banheira com hidromassagem. Tudo para minha escritora favorita.

─ Assim você vai me deixar mal-acostumada.
─ Era o único com vaga para o feriado. Havia apenas um quarto disponível, acho que ele estava te esperando. ─ dizia orgulho de sua eficiência ─ Vi um anúncio sobre a festa que eles oferecem todo ano no "Dia de los muertos". É referência na região.

─ Eu realmente não estou muito afim de festa. Só quero minha cama. ─ estava cansada, com fome, irritada e com uma mancha de baba em sua blusa de um cara estranho que se sentara ao seu lado no avião, acreditava que impaciência e mau humor eram compreensíveis.

─ Jas. Você tem quantos anos? 60? Vá se divertir um pouco. Você está em Cancun à cidade mais turística de todo México, esse lugar é paradisíaco. Precisa relaxar e quem sabe não surge aquela inspiração que tanto queremos, hein? É dia dos mortos, que data seria melhor para uma escritora de suspense?
​E mais uma vez aquele assunto surgia. A inspiração. Sua maior busca nos últimos meses, ou melhor, último ano. Ela não entendia o que estava acontecendo, tinha sofrido o maior bloqueio de toda sua carreira e sempre que sentava em sua mesa e ligava seu notebook... Nada saía.

Até o amanhecer (conto) Onde histórias criam vida. Descubra agora