euphoria • jikook

Neve, cebolas e uma surpresa

Pela janela do carro de meus pais, eu observava os flocos de neve caírem. Mesmo com o aquecedor ligado, fazia um frio surreal; não que isso fosse um problema pra mim porque sempre amei baixas temperaturas. Eu podia usar casacos quentinhos, tomar muito chocolate quente e ouvir aquela playlist que eu tinha feito especialmente pra dias assim.

Eu adoraria poder aproveitar esse clima em casa, de preferência com Jungkook, mas era véspera de natal. Tínhamos que viajar até a pequena cidade de interior onde minha avó morava porque ela queria que a família estivesse reunida naquele "feriado tão importante".

Só que tinha um pequeno detalhe...

Eu odiava o natal.

Nada contra a ceia, os presentes ou os costumes, eu só não via necessidade em tudo aquilo. Eu até gostava da minha família, era engraçada e grande, e eu não podia negar que os presentes e a comida eram muito bem vindos. Mas para mim faltava algo realmente especial, algo capaz de tornar a data realmente digna de comemoração. 

Suspirei entediado enquanto meus pais conversavam alegremente nos bancos da frente. Pra eles aquele era um feriado perfeito. Minha mãe estava feliz de ver sua família e meu pai... bem, se a esposa dele estava feliz, ele também estava.

Eu não podia reclamar dos pais que eu tinha, porque eles eram realmente dedicados e bons pra mim. Digo, sempre me apoiaram. Quando eu saí do armário e assumi um namoro com Junggukie, eles foram atenciosos e entenderam meu lado. Na verdade, acho que nem ficaram surpresos com a noticia.

Eu e Jeon éramos inseparáveis desde crianças. Na maioria das vezes estávamos brigando, mas sempre nos resolvíamos no final. Acho que não chegou a ser uma revelação quando nos descobrimos apaixonados um pelo outro. Só que, diferentemente do meu caso, os pais do meu namorado eram tóxicos pra ele. Sempre me perguntei se eles o criavam apenas por obrigação, e com o passar do tempo tive certeza disso. Quando Jeon se assumiu bissexual eles não tomaram atitudes drásticas, mas também não ficaram nada felizes com a constatação e passaram a transformar a vida dele num inferno sempre que conseguiam.

E esse era o motivo da minha inquietação e relutância em ficar longe dele. Pode dizer que é drama, ou que eu estou sendo um garoto birrento, mas eu me preocupava. O jeito que Jungkook ficava deprimido quando estava perto dos pais - e era obrigado a ouvir coisas que ninguém deveria precisar ouvir - me deixava com o coração partido.

Tanto eu quanto minha mãe tentamos muito levar Jungkook conosco, mas não teve jeito. A Sra. Jeon inventou mil desculpas pra não deixá-lo sair, e todas eram mentiras sem pé nem cabeça. O real motivo pra ele não estar aqui do meu lado é a vontade imensurável que essa mulher tem de ver o próprio filho infeliz.

***

A casa da minha avó ficava em uma rua calma e antiga, onde nada muito interessante acontecia. Enfeites natalinos decoravam a porta de entrada e eu pude sentir da rua o cheiro de comida que vinha do lugar.

Ainda era cedo, mas a casa já estava começando a ficar cheia. Tio Yoongi, o irmão caçula da minha mãe, ajudava na cozinha e parecia feliz em mexer o conteúdo de uma panela. Mas não parecia nada contente em ter que ouvir as piadas do Tio Seokjin.

Os dois eram os irmãos mais engraçados e opostos que eu conhecia. Se você fosse julgá-los pela primeira impressão, diria que o mais novo é um empresário sério que gosta de cozinhar nos feriados na casa da família; e que Jin hyung é algum artista, ator de comédia talvez, que tem como missão de vida irritar o irmão com as piores piadas de tio do churrasco que ele criava. Mas na realidade era o contrário. Yoongi era músico, namorava um cara chamado Hoseok, que aparentemente eu conheceria hoje à noite, e estava planejando viajar o mundo ao lado do namorado. Já Seokjin era um empresário, dono de um restaurante, super sério no seu ambiente de trabalho, e super rico também. Era casado um estudante de história chamado Namjoon há uns três anos e eles formavam um casal divertido.