Início do Fim

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Parecia um verdadeiro pesadelo, eu escutava aquilo querendo acreditar que eram mentiras. As palavras estavam se transformando em furacões negros no meu cérebro.

- Ele não fez isso...

Eu repetia para a minha mãe sem acreditar no que ela e o médico estavam me contando, em um primeiro momento achei que estivesse ficando louca.
                                  ...

   Era apenas mais um dia na Academia de Danças Mistas, após o colégio eu pegava dois ônibus para chegar a Academia, enquanto esperava todo o trajeto, eu não perdia a oportunidade de escutar a minha música favorita e observar um pouco as pessoas que também estavam seguindo para algum lugar.
    O ônibus não parava em frente á Academia, eu ainda precisava andar alguns metros para chegar lá.A faixada do lugar era incrível, apresentava cores em beje e branco e lustres extremamente brilhantes, as salas de ensaio eram enormes, cada uma com sua especialidade de dança, tinha a de Hip-Hop, tango, eletrônica..
   Eu me dividia entre duas salas, balé e Kpop, as aulas de balé eram nas quintas e sábados, e as aulas de Kpop eram nas terças e segundas.
   A dança foi a minha principal fuga de um colapso familiar, os meus pais não paravam de discutir, na época em que começaram as discussões
eles ficavam muito nervosos e gritavam estridentemente para todos da vizinhança ouvirem, quando eles decidiram se separar, todos do bairro já sabiam o motivo.
   Agora eu estava procurando algum rumo para a minha vida, mas eu sabia que teria dança e música envolvidos.
   Atualmente eu morava com a minha mãe em um pequeno sobrado, depois que meu pai foi embora, o lugar ficou quieto, minha mãe ainda demostrava de tristeza por tudo o que houve, no começo eu também fiquei triste, mas com o passar do tempo estou tentando superar, só de não ouvir mais briga e gritaria entre eles eu já me sentia melhor.
   Quando a noite chegava, minha mãe e eu saíamos para jantar e conversar, como eu havia dito, ela ainda apresentava focos de tristeza em relação ao meu pai, então não tinha ânimo para fazer suas comidas incríveis, e eu não sabia ao menos fritar um ovo.

- Onde estamos indo hoje?- eu disse.

- Abriram um restaurante novo aqui perto, vamos ver se a comida de lá é boa ou não filha. - minha mãe dizia enquanto mexia em algo na pequena carteira beje.

- Espero que seja boa, eu estou com muita fome.

-Como estão as aulas Isabella?

Antes mamãe me chamava de Bel, depois da melancolia, não chamava mais ninguém por apelidos.

- Bem, o balé está um pouco mais complicado, o Kpop continua legal, e no
colégio as aulas estão na mesma.

- Entendo.

O restaurante que a minha mãe havia falado era um pouco estranho, parecia alguma coisa oriental, quando passamos pela recepção, notei que havia mulheres com quimonos e homens com algum tipo de figurino japonês.

- Bem-vindos ao LyLyTy!- disse o homem que segurava um tipo de leque.

Uma mulher mostrou uma mesa perto da janela para nós. Quando nos sentamos, o garçom nos trouxe um cardápio cheio de nomes estranhos.
   Minha mãe já era mais aperfeiçoada com a cultura japonesa e oriental, então, pediu o mesmo prato para nós duas alegando que eu não iria me arrepender.

- Mãe, aqui a gente tem que usar aqueles pauzinhos?-eu disse tentando segurar falhamente aquelas varetas.

- Se chamam rashis filha, e sim, precisamos.

- Eu não sei usar isso...

- Eu te ensino, fica tranquila.

  O garçom veio trazendo uma bandeja cheia de pedaços de peixe cru com algum tipo de recheio dentro.

- Acho que esqueceram de fritar o peixe mãe, vou chamar o chef.

- Filha, o peixe está perfeitamente correto, no Japão, eles costumam comer peixe cru acompanhado de arroz.

-Vamos comer peixe cru?

- Experimente filha.

Peguei aqueles pauzinhos que estavam ao lado da bandeja, minha mãe estava me ensinando como pegá-los.

- Viu como é simples?

- Mais ou menos.

    Até que para um primeiro momento eu estava conseguindo me sair bem, após colocar dois pedaços de peixe na minha boca senti uma leve pontada se enjôo.

- Eu não gostei mãe...

- É tão gostoso filha, tente comer de novo.

   Eu não conseguia mais olhar para aquele prato, eu sentia que o peixe estava vivo e sussurrando para mim: "Não me coma por favor!"

- Eu não consigo...

- Tudo bem, não é todo mundo que curte comida japonesa.

   Afastei aquele prato de perto de mim e em seguida peguei o meu smartphone, vi que havia uma mensagem.

Olá Isabella, meu nome é Hanna, eu serei a sua nova professora de balé clássico. A senhora Sthefany teve um problema pessoal e precisou sair da cidade, eu estou mandando esta mensagem para todos os alunos dela.

Uma nova professora de balé? A senhora Sthefany era muito exigente quando se tratava do balé clássico, ainda me recordo das imensas broncas que levei no começo das aulas. Resolvo responder a mensagem:

Olá senhora Hanna, será um imenso prazer ter a senhora como professora de balé.

Acho que essa nova professora não poderia ser pior do que a senhora Sthefany.
   Após voltarmos para a casa, percebi que a minha mãe havia ficado um pouco mais feliz depois daquele jantar, que foi extremante prazeroso para ela e enjoativo para mim.

Estilhaços de dor Onde histórias criam vida. Descubra agora