Alina para de contar sua história quando percebe que estou chorando."Me diga que eles se encontraram. Mesmo que tenha sido apenas um dia. Diga-me que Emil sabia que Xaver não havia se esquecido dele!"Minhas palavras soam quase como um apelo.
Ela sorri novamente, sem dizer mais nada. Se levanta e vasculha os volumes da livraria. Pega um álbum cheio de fotos e documentos. Em seguida encontra o que procura: uma carta.
Uma carta para Emil Muler.
Escrita por Xaver Sumer (que aqui volta a assinar com seu nome catalão). Dias antes da morte de Emil.
"Você quer saber o que diz?", Pergunta Dorothea. "Eu posso traduzir para você".
Uma carta de Xaver para Emil. Nem nos meus sonhos mais loucos imaginei encontrar tal tesouro. Não posso deixar de me perguntar por que está na posse de Alina Balan. Ela chegou ao seu destino?
"Meu avô a interceptou", explica a senhora. Quando Hermann (o amigo) voltou da guerra e encontrou Xaver plantado na rua, seu coração se partiu. Ele percebeu o que havia causado por ter contado o que sabia para seus pais.
Ele tentou se desculpar, mas Xaver nem quis escutar. Eles lutaram no meio da rua e Xaver quebrou o seu nariz com um soco.
Hermann estava ciente de que a dor em seu rosto não era nada perto do que seus velhos amigos estavam sentido. Ele tentou corrigir seu erro intercedendo por eles, indo até a casa dos Muler.
Ele pediu uma última reunião entre os dois, mas eles se recusaram. E não é só isso. Mostraram a carta de Xaver que acabavam de enviar e pediram para devolvê-la a ele, de modo que ficaria claro que suas palavras nunca chegariam a Emil.
Hermann ignorou. A carta foi salva e assim que ele teve oportunidade, pediu para ver Emil. Na sala que já conhecemos, Hermann pediu desculpas a seu amigo colegial e, ao lado de sua cama, leu a carta de Xaver em um sussurro.
E é nesse mesmo sussurro que Dorothea começa a traduzir as palavras de Xaver:
"Querido Emil, seus pais não nos permitem ver um ao outro. Recorro a esta carta para escrever o que eu nunca fui capaz de lhe dizer. Eu quero que você saiba que eu te amo.
Sim, Emil, eu te amo.
Eles nos ensinaram que isso não era amor, mas percebi que era sim.O que você e eu tivemos é o amor mais verdadeiro que já senti.É por isso que não quero perder você sem lhe contar.Eu te amo desde o primeiro dia em que entramos no instituto e escapamos para o cemitério para fumar um cigarro.
Eu te amo desde o dia em que você aqueceu minhas mãos com a sua respiração porque eu perdi minhas luvas. Eu te amo desse nosso beijo no estábulo dos Sander. Eu te amo tanto que a ideia de te ver de novo foi a única coisa que me manteve vivo nas trincheiras sérvias.
Seria o suficiente você me olhar nos olhos para entender. Não precisaria palavras. Nos olharíamos e seríamos novamente crianças nos corredores do instituto, antes da morte, antes das bombas, diante dos velhos que transformaram tudo isso em ódio.
É por isso que estou debaixo da sua janela há meses, para ver você de novo, mesmo que apenas por um momento. Para o seu sorriso voltar a me fazer acreditar que o nosso amor significou tudo e lançou alguma luz neste século que já nasceu morto.
Eu te amo e aconteça o que acontecer, eu sempre estarei com você. Seu, Xaver".
Quando Hermann terminou de ler a carta, os dois estavam chorando. Emil, quase sem voz, pediu que o amigo o ajudasse a se levantar.
Emil estava tão fraco que parecia que nem sequer conseguiria chegar à janela, mas conseguiu. Ele recuou as cortinas, olhou para fora e, pela primeira vez em anos de horror, seu rosto se abriu em um sorriso.
Porque lá embaixo, na rua, Xaver estava o olhando de volta. Porque o homem que ele amava tinha dito que te amo pela primeira vez e ele estava respondendo, mesmo muito fraco, com sua respiração embaçando o vidro da janela.
Xaver nunca pôde ouvir o "ich liebe dich" (Eu te amo) de Emil, mas ele sentiu nas profundezas de sua alma uma bênção. Naquele momento Emil levantou o braço em saudação... E foi assim que Xaver o pintou em sua última tela.
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Emil & Xaver
RomanceA história a seguir é sobre o mistério que está por trás de uma lápide onde jazem dois soldados do Império Austro-Húngaro que lutaram e morreram na Primeira Guerra Mundial... e foram enterrados... juntos. PS: Essa história foi publicada originalment...