Estava terminado agora.
Finalmente Sebastian teria o que por tanto tempo e por tanto almejara - Ciel.
Sua essência. Sua alma.
O mordomo fitou o rosto cansado e impaciente do pequeno Mestre, fonte de tanta surpresa e diversão durante aqueles anos e começou a coleta.
Não seria uma morte como as outras, dramática e clichê. Não haveria uma repassagem da vida, pois nenhum shinigami havia ali. E, com um beijo, um pequeno selo, Sebastian provou do vinho que preparara durante tanto tempo.
Não havia nada para Ciel. Lembranças repassadas, momentos, drama... Apenas a dor da sucção da sua alma sendo levada pelo demônio que mantivera consigo para completar sua vingança.
Sebastian não se decepcionou. Apenas a entrada satisfaria mil demônios por um século inteiro. E então, ele ouviu - ou melhor, sentiu - os pensamentos do mestre moribundo.
"Meu irmão... Papai... Perdoem-me..."
Ora.
Ciel Phantomhive pedia perdão a alguém?
Mas não parou por aí, como o demônio pensava que seria.
Ele viu e sentiu toda aquela dor. A dor da pureza da alma que caminhava entre as sombras sem se deixar contaminar por elas. A dor de uma alma injustiçada e forçada por um desejo desesperado por ser reconfortada a buscar algo que lhe fizesse sentir novamente o calor do que chamavam de amor. A dor de ter como única opção aliar-se a um demônio que faria de sua existência um abismo e a obrigaria a continuar e manter sua decisão escolhida em desespero e luto profundo.
E por um momento, Sebastian parou.
E sentiu a alma que consumia chamá-lo. Viu-se envolto à maneira como o jovem Conde via o mundo e o próprio Sebastian.
O demônio engasgou, num misto de surpresa e riso.
Ciel o via como um amigo nos tempos antigos. Um aliado nos momentos perigosos. E também...
O único laço como o de uma família que tinha.
E Sebastian pensou.
Analisou a fundo o que estava pensando.
E realizou.
Quando terminasse de consumir Ciel, nunca mais veria seu sorriso. Ou seria provocado como um idiota. Ou se divertiria tanto.
Quando terminasse, nunca mais o veria.
Em toda a sua eternidade jamais, jamais poderia sonhar com seu olhar novamente.
Escutar seu ressonar e seu reclamar.
Quando terminasse, Sebastian voltaria à existência vazia que o esperava nas profundezas de onde viera.
E isso não o agradou.
Como, em tantos anos de existência, aquele demônio nunca se dera conta do que era viver?
Com aquela criança insolente Sebastian havia se divertido mais do que em seis mil anos se divertiria.
Com aquele garoto petulante o mordomo havia sentido emoções que normalmente nenhum demônio sentiria.
Com aquela... coisa, aquela pequena alma humana... Sebastian podia sentir que era mais que um demônio.
E parou.
Ciel gemia de dor com a realocação da alma após tê-la sendo sugada, e suas feridas ainda sangravam.
- O que está... - Mas foi interrompido por uma tosse que o deixou ofegante.
Sebastian se levantou com o pequeno lorde nos braços e o ninou, afagando seus cabelos negro azulados com ternura. O menino tossiu em surpresa à ação e sua visão embassou. Os olhos turvos e febris se fecharam, e Sebastian sorriu.
- Durma tranquilo, jovem Mestre - Ele sussurrou - Quando chegarmos à mansão lhe farei um chá.
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End for an Earl
FanfictionFinalmente Sebastian teria o que por tanto esperara - Ciel. Sua essência. Sua alma. Finally Sebastian would have what for so long he waited - Ciel. His essence. His soul.