Querido João Marcelo,

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Entre nós dois você era o que mais insistia em continuar, mas foi o primeiro a desistir de mim. Ah, João Marcelo, eu tinha certeza que você era o homem da minha vida antes de escutar "O que diabos está acontecendo com a gente, Amanda?" E não saber como responder. A gente foi incrível durante todo tempo que estivemos juntos, sabe, amar você foi como se eu sentisse o frio na barriga de um primeiro beijo. Você me fazia sentir assim, João, era como se eu descobrisse um novo sentido para a vida todos os dias. Eu não entendo como você foi capaz de deixar só um bilhete escrito "Eu sinto muito". Você não é desse tipo, você escreveria uma carta imensa se desculpando por coisas que eu nem iria me lembrar. Mas você nunca, nunquinha escreveria um "Eu sinto muito" apenas, porque você odeia sentir, você odeia demais, você tem medo! João Marcelo eu juro que ainda te amo, mas eu tenho só dezenove anos, e não posso fazer isso sozinha.

Sou eu quem sente muito, porque agora eu me sinto culpada de te amar tanto ao ponto de não conseguir continuar. Aí eu lembro de você me dizendo "Amanda, o mundo é nosso! Não fica parada, não. Vamos aproveitar". Como, João? Como eu vou aproveitar se tudo que você me deixou foi um bilhete, um sentimento forte e uma criança? É, eu estou grávida, talvez na quarta-feira você apareça com seu cigarro e uma garrafa de vodka, pedindo desculpas. Eu vou aceitar, porque nunca te neguei nada, nem meu coração e nem vodka. Só promete não me deixar de novo.

Eu queria te dizer tudo isso, mas eu nem sei onde você está, não sei se está sozinho ou se está com alguém novo. Eu estou sozinha agora, sem você e como se o mundo inteiro estivesse contra mim. Minha família me odeia, a sua nunca nem existiu. Eu só tinha você, João, éramos só nós dois contra todo mundo. Eu e você, nosso cigarro e o céu. É a coisa que eu mais amo depois de você. Olhar o céu me traz lembranças recentes de que eu era uma criança feliz. Eu era sim, muito feliz. E fui feliz com você também. Você me dizia "Sorri, Amanda, a vida é boa, só a gente, a vida é ótima".

Tem a nossa casa grande também. A gente corria por ela todinha, brincando como crianças de dez anos. Depois a gente parava, respirava e se olhava de uma forma tão pura, parecíamos crianças mesmo. Eu sinto falta da sua voz em conjunto ao seu abraço, dizendo que tudo bem chorar, não faz mal. E eu não chorei, não chorei em momento algum depois que você foi embora, mas tive vontade, precisei segurar e ir para a feira todos os dias. A maçã me lembrava você, o limão, a laranja... tudo me lembra você. Eu só não chorei porque parece que é errado sem você para me abraçar e me acalmar.

O céu está inteirinho azul hoje, João. A noite vai ser linda. Com uma visão limpa para a dona de tudo. A Lua também chora ao não te ver mais, ela baixinho me diz "João Marcelo é o homem da minha vida". E era mesmo, você quem cantava para ela todos os dias, e escrevia poesias. Você era o mais puro amante da Lua, até mesmo tatuou ela em você. Vinha com o papo de que ela era a única que ficaria aqui para sempre. Mas eu também ficaria, eu te esperaria para sempre, meu bem, eu esperaria quinhentos anos, ainda mais se fosse preciso.

João Marcelo, queria que tudo que eu pensasse virasse uma carta a ser enviada para ti, mas infelizmente, agora eu não tenho mais seu endereço, só que ainda acho que como meu coração vai ser eternamente e exclusivamente sua morada, uma hora ou outra você aparece aqui pedindo licença. Ou não, vai só entrar sem bater na porta, assim como fez antes de entrar na minha vida. "Amanda eu estou apaixonado, quer ser minha namorada?" E eu falei que sim em uma empolgação do cacete. E tudo bem você ter entrado sem avisar, imagina se eu soubesse quão fodida eu ficaria quatro anos depois de te conhecer? Eu aceitaria do mesmo jeito, porque foi incrível te amar incondicionalmente. Foi do caralho acordar do seu lado todos os dias durante dois anos e meio. Mas eu fiquei dependente do seu amor agora, e eu queria muito continuar vivendo minha vida como antes, mas eu estou com saudade, e esperando um filho seu.

Eu ainda sou uma criança, João Marcelo, você me conheceu quando eu tinha quinze e foi um máximo, mas parece que eu tenho treze hoje, parece que nada mudou, e ao mesmo tempo é como se eu nunca tivesse vivido aqui antes, me sinto uma estranha. Eu preciso muito de você.

Eu me sinto como um Rio de Janeiro sem o sol. Eu fui até sua garota de Ipanema, João, você mesmo dizia que sua vida comigo era uma infinidade de vezes melhor, então por que foi embora do nada? Eu estou desamparada nessa casa imensa sem você, perdida, louca, triste e morrendo de saudade.

E talvez seja assim, essa é a vida... você se muda, eu fico, você continua vivendo dentro de mim e eu ganho uma criança que com a maior certeza terá seu sorriso e seus olhos escuros como jabuticabas. E no final vai ser sempre eu comigo mesma, mesmo que eu jurasse por tudo que nós seriamos a coisa mais linda que esse mundo teve a honra de conceder ao universo. Porque foi lindo, João, foi incrível! Ver teu sorriso todos os dias, cantar bem alto aquelas músicas do seu pai e vai ser do caralho criar um filho seu, mesmo que eu negue, vai ser uma forma de eu nunca me esquecer que o amor da minha vida me deixou. Era para ser assim, João Marcelo, apenas isso. 

                                                                                                                  

I AM STILL WAITING FOR YOU, BAEWhere stories live. Discover now