Capítulo VI.

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Scarlett sentiu o corpo dolorido quando moveu-se levemente para o lado, ainda de olhos fechados, tentando esconder-se da luz do sol que ameaçava chegar ao seu rosto. Procurou pelo seu cobertor, tateando toda a região ao seu redor, até que, por fim, abriu os olhos, ainda que com certa dificuldade e contra a sua vontade. De longe, conseguia ver a televisão e os móveis cor de tabaco. Demorou um pouco até que percebesse que não estava no seu quarto, mas na sala, tamanho o sono que sentia.

Aos poucos, ainda atordoada pelo sono, as memórias da noite anterior passaram pela sua memória. Pizza. Filme. Ah, droga, agora ela não sabia o final do filme. O sofá. Ela havia dividido o sofá com Roger. Mas então como ela estaria dormindo justamente no sofá? "Merda." Foi a primeira palavra que conseguiu pensar. Scarlett estava deitada sobre Roger, com a cabeça repousando sobre o seu tronco e o rapaz com os braços ao seu redor. Nunca reparara, mas ele era incrivelmente cheiroso. Seu olfato identificava algo próximo a hortelã e café. A menina voltou o olhar para cima e deparou-se com a feição de Roger ainda adormecida. O desgraçado era bonito até mesmo dormindo. Sutilmente, ela tentou mover-se para se levantar. Se tivesse sorte, Roger não acordaria, e eles poderiam fingir que nada daquilo tinha acontecido. O problema é que ela era realmente muito azarada. Mais do que gostaria, pelo menos.

— Bom dia, flor do dia. — Roger falou em um tom de voz baixo, com meio sorriso nos lábios. Todos os outros ainda estavam dormindo.

Scarlett quase teve um ataque cardíaco. Ainda estava deitada sobre ele quando ouviu aquelas palavras. Desajeitadamente, ela se levantou, completamente constrangida. Roger, por outro lado, parecia bastante tranquilo. Apenas sentou-se calmamente, estendendo os braços sobre as costas do sofá, altamente descontraído.

— O que foi, está com vergonha? Nós só dormimos juntos. — Seu tom de voz ainda era baixo. Ainda sonolento, ele bocejou. — Quer dizer, nós não dormimos juntos. Dormimos juntos, literalmente. Literalmente dormimos. — Ele tentou se explicar, mas até mesmo o próprio Roger acabou se perdendo.

— Cala a boca, Roger. — Ela falou baixinho, levando uma das mãos até a testa, como se estivesse se perguntando se o que estava ouvindo era sério.

Havia um sorriso indecifrável nos lábios dele. Scarlett não conseguia decidir se ele estava se divertindo com a situação ou se simplesmente estava sendo um cafajeste, exatamente como o de costume. Impacientemente, ela virou de costas e, cuidadosamente, caminhou até a cozinha. Para sua infelicidade, lá estava Liam, tomando uma xícara de café e lendo o jornal do dia. A menina não disse uma palavra, apenas abriu a geladeira e pegou uma garrafa de suco. Ignorar a presença dele era sempre a melhor opção.

— Vejo que aproveitaram bem a noite. — Ele bebericou um gole do café. Scarlett apenas continuou a ignorá-lo. — Principalmente você, não é mesmo? Com o babaca do Taylor. Eu sempre soube que você era uma vadia.

Em um baque, ela bateu a garrafa de suco contra a pia, de forma nem um pouco delicada. Sabia que ele era insuportável, mas não se lembrava de quando ele havia se tornado tão insuportável assim. Tão maldoso. Tão cruel. No começo, acreditava que era alguma espécie de ciúme doentio, mas agora estava realmente ultrapassando os limites. Em passos longos e furiosos, ela caminhou até ele e parou na frente do homem, seus olhos encarando os profundos e frios olhos azuis alheios.

— Nunca mais — Ela disse, sentindo o nó se formar em sua garganta. — Nunca mais me chame de vadia. E nunca mais fale assim dos meus amigos, está entendido?

Ele riu, como sempre, debochado. A feição de Scarlett continuava séria, ainda que ele estivesse rindo, como se ela tivesse lhe contado uma piada. Talvez a menina estivesse até mesmo um pouco vermelha, tamanha a irritação que a dominava.

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