Prólogo

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“Até que nem mesmo a morte nos separe, pois quando eu partir apenas feche os olhos e me sinta” ..

Pensava em tudo e ao mesmo tempo em nada. Perdida em meus pensamentos observava o tumulto de ternos sob medida e vestidos negros elegantes se formarem em volta do caixão que reluz sua cor verniz brilhante, oferecendo suas últimas homenagens ao meu marido. Suas condolências resumem em falar um pouco de suas memorias e o quanto sua presença iria fazer falta. Tenho absoluta certeza que a metade dessa gente não faz ideia de quem era ele.
A falsa compaixão, ainda mais em um momento delicado desses, só não é capaz de me arrancar mais lágrimas, pois as esgotei quando recebi a fatídica notícia. Ouvindo burburinhos e cochichos sobre
“por que ela não estava chorando?” e alguns até mais pesado do tipo:
“aposto que ela deve estar saltando por dentro depois de perceber que é a única herdeira”. Eu não ligava pra mais nada, não tinha mais forças para responder a altura desses fofoqueiros sugadores de alma. O que elas ganham destilando esse ódio gratuito? Desde o momento que o coração de Rodrigo parou o meu coração decidiu entrar em estado de letargia, eu mergulhei no profundo sentimento de desespero, os gritos de dor retumbavam  ao confirmar que era seu corpo, ali inerte, prestes a cobrirem seu belo rosto com o lençol branco, aos poucos a ficha caia e o nó parado na garganta impedia-me de expelir a angústia, a cachoeira que era meus olhos, tornou-se seca. O que sobrou foi a persistente repetição do momento em que recebi o golpe.

Correndo com a respiração desregulada quase sentindo a falta de ar, o meu peito mandava sinais para que me acalmasse se não ele irá fazer isso por mim. Eu nem ligava no que esbarrava, não tinha tempo para pedir desculpas, a minha vida no momento resumisse em achar o Rodrigo, de preferência vivo e sentado em sua cadeira do escritório com aquela cara de te peguei na piada. Ele iria ver o que é bom. Minha mente, acelerada em milhões, buscava maneiras de vingança ao mesmo tempo em que máscarava a  realidade, a qual meu peito no fundo  insistia em confirmar com a angústia.
— Não pode ser verdade. Isso não pode estar acontecendo! Não comigo, não com o meu amor! – gritava em pensamento. Sem perceber, senti uma mão segurar meu braço, fazendo com que meu corpo no frenesi da corrida, colidisse com violência ao peito masculino, ignorando a dor pelo impacto, a qual era a menos importante visto o caos que me encontrava.
— Por que esta fazendo isso comigo? O que eu fiz pra merecer isso? – cai de joelhos,  gritando contra o peito  rebulindo me em lagrimas.

A angustia era tão sufocante que sentia as paredes se comprimindo e se fechando em minha volta. Aquilo não era real! Só podia ser um engano. Rodrigo esta vivo, esperando que eu entre pela porta de seu escritório a qualquer instante para dizer que foi apenas uma piada, de mal gosto, mas uma piada, eu iria ficar muito puta e daria uns belos tapas nele pra parar de ser idiota.

De repente sinto um estralo consciente e paro de chorar. É isso! Consigo até visualizar seu sorriso brincalhão e sexy que tanto amo.
Deus! Estou em frangalhos. Eu caí direitinho, estou me sentindo uma  idiota fazendo essa cena. Mas eles vão me pagar por isso!!

Sorrio e limpo as lagrimas sem me preocupar com os resíduos de maquiagem borrada. Me levanto do chão e me desprendo dos braços que me seguram, passo pelas pessoas que pararam suas vidas nesse breve momento, olhando curiosos pensando o que essa doida esta fazendo. Ignoro sem dar muita importância e apresso meus passos, que logo se transformam em  uma caminhada mais rápida e ágil. Tenho pressa. Meu coração começa acelerar com a urgência  de pular no pescoço de Rodrigo, beija-lo. Devo estar assustadora, as pessoas desviam da mulher louca aparentando descontrole com o rosto borrado da maquiagem. Estou focada e perdida em meu destino que nem percebo um homem entrar na minha frente. Trombamos juntos. Aflita, peço desculpas apressada pronta pra sair, mas ele me agarra e aperta-me em seus braços. Agito-me tentando escapar enquanto ele fala comigo, palavras desconexas para meus ouvidos absortos. A nevoa de mal pressentimento volta com ainda mais força, não me deixa ver quem é. Estou desesperada, sinto me ser engolida pela ansiedade e o medo, preciso ver Rodrigo e esse cara esta me impedindo. Por que??

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⏰ Última atualização: Aug 02, 2022 ⏰

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