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O primeiro período passa rápido. O clima é dinâmico e, embora eu me perca nas quadras arborizadas do campus, procurando os caminhos entre um prédio e outro, consigo dar conta do recado.

Na hora do almoço, encontro Sarah na lanchonete perto do alojamento. Ela usa o cabelo preso num rabo baixo e veste uma regata branca sem sutiã. Ela não parece se esforçar, pelo contrário, é como se ser atraente fosse tão natural para ela que sequer percebe a maneira como os caras da mesa ao lado viram cabeça para observá-la.

— Tive que tomar um analgésico — ela diz, sentando-se na cadeira vermelha em minha frente, depois de pegarmos os sanduíches. — Minha cabeça estava pulsando.

— E melhorou?

— É... — Franze o nariz. — Mais ou menos. Então... vai querer começar a sua tour por onde? Eu posso te mostrar a biblioteca, e mais tarde tem treino de Futebol, a gente pode dar uma passadinha para assistir.

— A regra do sabonete sintético — eu faço questão de lembrá-la.

— Não dá bola para o que eu digo quando eu tô meio bêbada. — Sarah cobre a boca para rir, já que está mastigando. — Além do mais, quem disse que eu vou para ver os atletas? Talvez eu esteja indo para ver as líderes de torcida ensaiarem.

— Faz sentido. — Mordo um pedaço do meu lanche também. — Mas hoje eu não vou mais poder. Apareceu uma entrevista de emprego mais tarde.

—Entrevista? — Minha amiga ergue uma sobrancelha, o interesse parece sincero. — Onde?

— Um restaurante qualquer na região de Hollywood. — Eu checo a mensagem do meu pai na tela outra vez, confirmando o endereço. — Bistrô Paris.

— Tipo o Bistrô Paris do Chefe Adrian Bertrand?

— Já ouviu falar?

— Tá brincando?! — Ela arregala os olhos, quase engasgando com o lanche. Prossegue com a boca cheia mesmo: — Nunca assistiu o programa "Cozinhando para as estrelas?", ele apresenta. O Bistrô Paris é o lugar favorito das celebridades desde que as Kardashians começaram a frequentar. Você vai mesmo trabalhar lá?

— Bom, eu tenho uma entrevista.

— A gente tem que fazer você passar nessa entrevista! — Sarah salta da cadeira com um ânimo repentino. — Você tem noção? É acesso irrestrito às fofocas fresquinhas de famosos. Você acaba de ser promovida à minha informante. Não! Informante da Garota Hollywoodiana.

— Vai com calma! — Eu dou risada. — É só um emprego de garçonete.

— Não. É uma porta, Julie... Você tem que ter a visão! Que horas deve chegar lá?

— Às duas e meia.

— Duas e...? — Ela olha para o relógio no pulso e leva um susto. — Isso é daqui uma hora! Você já viu o transporte público dessa cidade? Sem contar o trânsito caótico. Vem, a gente tem que ir agora.

Ela me puxa pelo pulso, eu passo um guardanapo na boca.

— Mas e o meu... — Olho para trás, confusa.

— A gente come qualquer coisa pelo caminho. Anda!

Eu não protesto. Seria como nadar contra a correnteza ou impedir uma tempestade. Sarah Palmer é uma força da natureza, percebo.

Dois ônibus e quinze minutos de caminhada depois, nós chegamos ao endereço que o meu pai enviou. Sei que estamos no lugar certo porque tem uma imponente réplica da torre Eiffel logo na entrada, e toda arquitetura externa remete à capital francesa — com um toldo azul marinho e janelas de vidro.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora