Capítulo 1 - Queime Como o Inferno, Lilith

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Aquele simples bar estava cheio, apinhado de homens que acabaram de chegar exaustos do trabalho, cheios de suas esposas e da vida doméstica, a procura de diversão e algo para saciar o desejo há muito reprimido. Eles estavam aqui por ela, Lilith, a estrela incandescente que acendia aos homens com sua voz e curvas acentudas. A ruiva encantava homens com a mesma facilidade que o dinheiro encanta aqueles de coração fraco. A dama da noite subiu ao palco iluminado pelos refletores das mais diversas cores, apenas para dar o melhor aquela grande figura tão conhecida como o brilho da Lua. Era noite de inauguração do Elk Antler, um bar para homens já mais de idade, jovens ricos sustentados pelos pais, homens de famílias com dinheiro e afins. Um prato cheio para a rainha das chamas.

Então, com a doce melodia enchendo o ambiente, a ruiva se aproximou do microfone em passos firmes e cabeça erguida. Era difícil ver algo em cima daquele palco, a luminosidade excessiva e o local em que o microfone se encontrava não era muito favorável. Era tudo a pedido de Lilith para que fosse extremamente difícil vê-la. Ela segurou com firmeza no pedestal, aproximou seus lábios rubros da ponta do equipamento e, com um sorriso em seus lábios, espalhou seu doce canto pelo bar. Todos ali presentes eram levados aos céus conforme seus ouvidos eram tocados pelas notas angelicais vindas do demônio mais a frente. Conforme a noite avançava, a plateia sentia o calor começar a subir a cada canção. Eles suavam, tiravam peças de roupas, estavam corados pelo calor. Aquele bar havia se transformado em uma sauna.

Ao chegar no número final, Lilith já estava com a sua performance pronta para esquentar as coisas. Estendendo sua mão a frente do seu corpo para fora do palco, exibindo seus longos e delicados dedos adornados com o um tom vermelho vibrante em suas unhas, anéis com pedras de diversos tons escuros, e uma linda chama tremeluzente de cor azulada sobre a sua palma. Eles acharam aquilo algo estranho, mas poderia ser apenas parte do show. Seus lábios vermelhos como sangue esboçaram um sorriso mais largo conforme a chama crescia. Então, tudo começou a arder intensamente, o fogo começou a consumir o ambiente e todos ali presente. O fogo dançava freneticamente junto de seus parceiros que ardiam, gritavam e corriam para tentar se salvar. Tola tentativa.

Passados trinta minutos, a ruiva terminava seu cigarro enquanto admirava as cinzas dançando com a brisa noturna. Os bombeiros não vieram devido a proibição imposta pelos criminosos locais, que impediam qualquer tipo de autoridade e chegar muito perto da zona conhecida como "A Coroa de Billy The Kid", o bairro mais perigoso e com uma altíssima taxa de criminalidade quase insuperável. Lilith deixou que o resto de cinza caísse sobre o chão já enegrecido, levantou de sua cadeira, e, com um olhar de satisfação, saiu em direção a gélida noite estrelada. Era questão de tempo até que a notícia do incêndio corresse tão rápido quanto seu fogo consumidor de vidas

"Você é uma vadia, sabia?" dizia uma voz profunda e melancólica nos confins de sua mente, parecendo mais um apelo por ajuda.

Por onde a ruiva passava um brilho era emitido dos cabelos vermelhos como brasa, como se uma chama tomasse vida e perambulasse na companhia das estrelas, lindos flocos de neve feitos de cristal a procura do calor infernal que vinha daquele demônio travestido como uma humana, um anjo vindo do mais profundo recente do Inferno. A personificação do pecado da luxúria, sempre atrás de satisfazer seus prazer carnais ou o seu desejo sádico pelo medo e desespero das vítimas que acolhe com seu fogo.

Um dia, ainda, você irá me agradecer por trazer diversão para este pedaço de terra fria que é esta cidade.

A voz doce como mel mais lembrava um coro de anjos a espera do dia do arrebatamento. Era como ter um orgasmo auditivo ao ouvir a melodiosa voz da forma humana do prazer.

Nos arredores da saída do bueiro da cidade, Lilith era encarada com nojo pelas prostitutas que faziam plantão aquela hora da noite. Havia diversas figuras importantes entre as damas da noite. Vereadores, prefeitos das cidades vizinhas, deputada, personalidades artísticas e outros. Havia algumas mulheres entre eles. Todos gostam de diversão.

Por que me olham com tanta voracidade? Querem experimentar o doce suco do meu fruto proibido? Sentir aquilo que Adão e Eva desfrutaram no Paraíso? O prazer não é algo que deveriam ter vergonha. Nem deseja-lo.

Naquele momento, muitos olhos foram voltados para a dama ardente que sorria falsamente. Ela queria mais diversão com aquelas putas e seus amantes casados e frustrados com as suas vidas monogâmicas. Ela iria acender a chama adormrcida naquelas pobres almas infelizes, incendiar os corações frios que desejavam um calor de fora. Ao contrário de seus companheiros, as acompanhantes não pareciam desfrutar da mesma fome pelo calor incessante da sedutora ruiva, elas queriam "descer a unhada" nela. Quando já estavam armadas com o tudo que tinham ao seu alcance (garrafas, os sapatos, uma barra de ferro e até uma lâmpada), o sorriso forçado e medonho de Lilith se desfez para dar espaço a um pequeno bico. Ela encheu seu peito de ar, expandiu o tórax, inflou as bochechas, e, sentindo o ar quente sair pelo nariz, cuspiu fogo como um verdadeiro dragão, reduzindo alguns corpos a restos carbonizados e outros a estranhas figuras com pele derretida. Um verdadeiro show de horrores.

A sensação de satisfação que exalava da estonteante ruiva logo começou a esvair-se quando veio aquela forte pontada em sua cabeça, um grito que só ela ouvia invadiu seus ouvidos, seus olhos reviraram devido a sensação dolorosa. Seu tempo havia acabado. Correndo depressa para sair daquela parte da cidade, Lilith sentia como se o seu peito fosse rasgado de dentro para fora e algo quisesse sair, uma borboleta desesperada para sair do casulo e alçar voo pela noite. Fios ruivos caíam no chão, a maquiagem escorria junto com as lágrimas que pingavam ao final do seu maxilar, as vestes já estavam rasgadas e os saltos deixados para trás. Ela chegou a uma pequena conveniência já desfeita, caída de joelhos se recuperando aos poucos. Ela já não estava mais lá.

Um jovem com um pescoço quebrado e sua namorada com a língua arrancada se encontravam jogados no chão próximos a um banheiro imundo, em sua frente, ele vestia o moletom do rapaz afim de esconder seu rosto sujo por maquiagem. Simon era seu nome, e tinha controle sobre a sua mente, sua sanidade e aquilo que mais te apavora na vida. Um mestre do subconsciente e manipulador do consciente.

Ali ele iniciava sua jornada enquanto mantivesse seu controle sobre aquele corpo, antes que outro tentasse tirar o que era seu por direito.

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