Capítulo Único

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Os olhares que Kenma lançava ao rapaz não eram nada discretos e com certeza o moreno bonitão parecia perceber. Desde que o loiro descobriu sua rota de caminhada, passou a usá-la também como uma forma de admirar ainda mais sua beleza exuberante. Claro que Kozume não andava só. Levava Purin, seu gato persa e seu álibi, para um passeio na cestinha de sua bicicleta. Todos olhavam com certa curiosidade, afinal, não era nada comum sair por aí carregando um gato gordo pelas ruas e menos comum ainda que o gato ficasse tranquilo com tal ação. Contudo, não era só isso que atraia atenção. O fato do rapaz se parecer com o bichano e falar com o animal fazia alguns olhares se voltarem para a dupla. O que, aliás, era o que fazia isso nesse exato momento, comentando ao peludo o quanto aquela manhã parecia agradável, ensolarada, porém fresca, e como podiam fazer várias coisas naquele dia. No entanto, uma de suas vontades era falar com aquele homem da bicicleta cinza e conhecê-lo antes que suas férias acabassem, só que era algo impossível.

- Mas como vou falar com ele se sou introvertido, sem graça, feio e alguém que conversa com seu gato? - Suspirou depressivo. Purin se remexeu em seu cestinho, mirando seu dono.

- Miau.

Novamente suspirou, levando aquele sinal como uma afirmação de que não seria possível. Kozume era muito desinteressante, tanto que ninguém lhe notava. Em seu trabalho, as pessoas apenas prestavam atenção em seu amigo Hinata porque era pequeno, fofo, simpático e ruivo. Sempre abordavam o pequeno para lhe perguntar se possuía sardas e onde se encontravam. Quando os mesmos clientes eram atendidos pelo loiro, ninguém queria saber de nada, exceto as mulheres que sempre perguntavam quais os produtos capilares que usava devido as suas madeixas sedosas.

Virou a esquina e viu logo a frente o túnel de árvores. Era uma passagem que envolvia todo o morro, tendo picos íngremes de subida e descida com espaço para pedestres e ciclistas. Um local totalmente fresco, puro e revigorante, mas também o caminho que agora pertencia a sua rotina, entretanto sempre lhe provocava inquietação quando o local estava vazio. Pedalou calmamente até lá, sentindo o ar mais gelado conforme se aproximava, enquanto Purin esticava seu rosto para fora do cesto inalando o cheiro das folhas. Kenma não deixou de fazer o mesmo, aquele era o perfume que mais gostava. Se um dia inventassem um algum spray assim com certeza espalharia por toda a sua casa.

PRIM PRIM

Ouviu um sininho tocar e voltou sua atenção para o percurso, um pouco assustado, enrubescendo em seguida ao avistar o moreno descer a estrada com a bicicleta, sorrindo para ele. Kenma se desequilibrou, apoiando seu pé no chão para não cair e virando-se para trás vendo-o continuar seu exercício. Seu coração se agitava e suas bochechas queimavam mesmo que fosse pouco motivo para tal. "Ele sorriu pra mim", pensou consigo feliz e ao mesmo tempo receoso, "mas ele poderia estar muito bem rindo da cena". Kenma frustrou-se por completo sem deixar de pensar o quanto o sorriso daquele homem era lindo.

Desceu da bicicleta e caminhou, subindo o morro em silêncio, totalmente constrangido de ter sido pego no flagra agindo como seu gato, se já não bastassem suas aparências.

Passou-se um tempo até o jovem chegar ao topo muito cansado. Parou por um momento, sentando-se na grama bem embaixo de uma árvore. Tirou Purin e o pousou em seu colo, acariciando a bola de pelos. Não bastou muitos minutos e o loiro pode ver o homem surgir novamente, pedalando a frente com sua regata toda suada mostrando cada linha esculpida de seu abdômen e seu bíceps reluzente aos feixes de luz entre as folhas. Kenma desejou tocar naquele corpo, ser agarrado por aqueles braços...

"Aaah... desde quando me tornei tão pervertido assim?"

Indagou em seus próprios pensamentos balançando a cabeça em reprovação enquanto via o bonitão passar e olhar... pra ele. O coração de Kenma voltou a bater intensamente com o rosto voltando a arder, mais do que a própria subida, e a respiração pesar. Retribui tímido e desviou o olhar. Ao voltar a observar o caminho, não o viu mais e revirou os olhos com raiva de si mesmo, de perder uma visão tão bela daquela por conta de sua timidez. Reclamou com Purin o quanto era idiota e que nunca teria chance, mas foi interrompido quando seu celular tocou.

O Rapaz da BicicletaOnde histórias criam vida. Descubra agora