O barulho da velha caixa metálica anunciava a chegada ao andar desejado, fazendo Quaresma soltar um suspiro alto e cansado, passando a mão sobre a cabeça raspada como fazia de costume. Arrumou a postura e viu a porta do elevador se abrir, fazendo-o dar passadas fundas para adentrar ao corredor bem iluminado que a um bom tempo frequentava. Podendo encarar, no fim dele, a única porta de vidro existente, surpreendendo-se ao percebê-la fechada.
Petrificou na metade do caminho, analisando meticulosamente o andar vazio. Sentindo um incômodo crescer na ponta de seu estômago e sabendo exatamente o porquê dele vivenciar aquilo.
Já se fazia uns seis meses desde a primeira vez que pisou ali, tornando-se rotineiro a sua presença nos corredores daquele prédio que ficava localizado na parte Europeia do Bósforo, após ter tido um encontro bem-sucedido com Iara Volkan, ainda psicóloga da equipe de jogadores do Besiktas.
Inclusive, tal encontro havia terminado ali, atrás daquela porta de vidro. Fazendo-o ter a certeza de que a portuguesa, com descendência turca — e um fervor dos deuses —, era a mulher que um dia chegou a pedir aos céus.
Engraçada, comunicativa, empoderada. Essa era umas das qualidades que Ricardo Quaresma descobriu quando a levou para jantar em um restaurante italiano, no centro de Istambul. Mas no decorrer das semanas, que logo se tornaram meses, Iara demonstrava ter uma personalidade forte e temperamental, que às vezes precisava ser dominada por seu instinto profissional. Fazendo-a contar audível até 10 e respirar profundo, principalmente quando sentia as coisas fugirem de seu controle.
Além do alto libido e apetite sexual insaciável, não se importava em transar uma, duas ou mais de três vezes em um único dia. Permitindo com que eles precisassem sair a força de sua cama, para se atracarem em uma sala vazia no CT do Besiktas, no carro a caminho de algum evento importante, e acabando a noite novamente em sua cama.
Carregava consigo uma beleza exótica, com predominância em seus olhos marcados e profundamente nublados, os lábios sempre avermelhados, entreabertos, deixando o ar pesado às vezes escapar por eles. Um amor acolhedor, que transbordava quando passavam horas conversando sobre seus familiares, e pessoas queridas. Além da paixão que sentia por sua profissão.
Uma sexualidade, que não a deixava ter vergonha de falar onde e como sentia prazer, não conseguindo fazê-la sequer corar com as safadezas que despejava ao pé de seu ouvido.
Mas não podia se esquecer que ocasionalmente ela era explosiva, vingativa. Qualquer palavra mal colocada, em um dia que ela considerava ruim, a deixava desestruturada ao ponto de impor dias sem querer ouvir o timbre de voz do camisa 7 do time turco.
Ao se lembrar daquilo, entendeu o porquê que a porta se encontrava fechada, não trazendo aquele corpo magrelo e aquele sorriso safado que tanto ansiava em desmanchar com seus próprios lábios.
Não conseguiu controlar a preocupação por saber que estavam quase há 5 dias sem se ver, muito menos se falar. Por conta de uma briga mesquinha na qual ele, Ricardo Quaresma, se encontrou mais uma vez enciumado por vê-la conversando com o goleiro de seu time.
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Lusitano • Ricardo Quaresma
FanfictionQual a importância e quanto vale um sigilo médico? Bom, o lema de Vegas também pode se aplicar nessa história: O que acontece em um consultório, fica em um consultório. Ou será se fica na cama? No carro? Nos corredores do Besiktas? A obra está mar...