céu azul

prólogo

“Odeio usar meus cabelos presos desta forma, Maria!” reclamei à moça que mamãe chamava por “escrava”. Sempre achei essa uma palavra muito forte. Maria não merecia ser chamada assim, por isso chamava-a pelo primeiro nome, algo que mamãe sempre me reprendia por fazê-lo.

“Ah, princesa, eu adoria arrumá-la de outra forma, mas a princesa sabe o que me acontece se descumpro alguma das ordens da Imperatriz.” Reeprendi minha mãe mentalmente por fazer-me passar por tal constrangimento. Eu odiava os penteados reais, tranças e coques nunca foram de meu gosto.

Era a coroação de minha irmã Isabel, não a vi durante o dia inteiro, passou-o trancada em seus aposentos preparando-se para mais tarde. Ela parecia não sentir falta de papai, que teve de voltar à Europa para resolver certos problemas diplomáticos. Desde o dia em que ele partiu não ouviu-se mais o nome de Dom Pedro II naquele Palácio. Apenas eu e Leopoldina, as vezes, levávamos o nome à mesa, mas nunca prolongava-se o assunto, Isabel e mamãe falavam apenas da coroação que aconteceria em algumas horas.

“Hora do vestido, princesa.” Maria disse, ao terminar meu penteado. Por um momento não a vi pelo reflexo no espelho. Reapareceu com uma saia azul gigante, quase maior que si própria.

“Por que há de ser tão pesada?” A senhora de pele retinta resmungou, colocando a saia sobre a cama.

“Me pergunto isso diariamente. Por que vestes tão quentes? Estamos em Rio de Janeiro, o quão calor pode ser? Os trajes de banho deveriam ser o suficiente!” Dei as costas à Maria, para que ela pudesse desabotoar minhas roupas de dormir.

“Creio que nem as moças sem família sairiam apenas em trajes de banho, princesa.”

Então Maria começou a me trocar. Esse foi o momento em que os planos que mamãe fez para nós começaram a  desvanecer diante meus olhos.