"Onde Thalia e Jaebum têm as suas próprias leis, baseadas em suas diferenças."
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. - Código penal.
Era de se esperar que minha vida pessoal fosse regida pela lei. Dia após dia eu registro cada artigo, cada parágrafo, cada inciso em minha mente e repito e repito, em pensamentos até que eles sejam intrusos em qualquer outra coisa aleatória que eu penso.
Como, por exemplo, encarar um garoto bonito do ônibus.
Toda manhã, no caminho para o meu estágio, eu o via sempre em pé, com fones de ouvidos, jeans largos e roupas escuras. A mochila sempre em frente ao corpo, provando que ele já estava bem treinado contra furtos. A expressão distraída como a de qualquer um ali dentro mas, ainda assim, diferindo de todas. Sua distração parecia um dos atos mais gloriosos da terra. O perfil, os ombros relaxados, as pernas sempre abertas demais. Cada manhã, eu tinha de conter meus suspiros e tentar me distrair com a paisagem urbana que corria depois das janelas.
Desde que seu caminho passou a cruzar o meu, eu me pegava anotando mentalmente alguns detalhes de seu rosto e visual. Cabelos negros, pele branca e os olhos que acusavam de forma óbvia que ele não era daqui. Piercings na orelha, sempre de camisetas largas e nenhuma aliança na mão, o que me permitia fantasiar.
Fantasiar... Olhar, encarar. Toda vez que eu me sentia constrangida por fazê-lo eu me lembrava do Código Penal: "não há crime sem lei anterior que o defina". Não havia lei alguma, até onde eu me lembrava, que caracterizava um olhar sutil como crime, então por que não?
Durante quase dois meses, por mais de quarenta manhãs, quando eu descia do ônibus, sempre concluía que um dia ele sairia e eu jamais saberia seu nome ou quem era. Mas então aconteceu, e como tudo na vida, eu o conheci da pior forma possível.
Por um grande milagre, eu consegui um lugar vago no ônibus assim que eu entrei. Sentei-me, com um sorriso animado em um dos bancos de trás, bem na janela, vibrando com a sorte simplória e considerando que o dia seria ótimo, só por ir sentada até o escritório. Suspirei e peguei algumas anotações de estudo que tinha levado na bolsa, caso tivesse um tempo livre no almoço.
Dois pontos depois, o garoto entrou, com a distração em seu rosto esculpido, mais uma vez. Tentei focar nas anotações, mas de tempos em tempos, meus olhos iam involuntários até o seu rosto e só saíam dele quando seu olhar vinha em minha direção.
Mais um ponto, e um homem entrou. Baixo, magro, com uma camisa lisa e rosada, uma jaqueta nas mãos e a cabeça meio calva. Inofensivo e comum, ao primeiro olhar.
Então ele sentou do meu lado, e meu pesadelo começou. A princípio, ele parecia simplesmente inquieto, como se houvesse alguma pulga dentro de sua calça, e ao se ajustar, seus dedos roçavam sutis no meu quadril. Engoli em seco, tentando inutilmente me afastar um pouco mais, para dar espaço para o seu incômodo. Depois de um tempo ele se acalmou jogando a jaqueta por cima de seu colo e um pouco por cima do meu também.
Quando senti uma das suas mãos no meu joelho, dei um pulo. Ele recolheu a mão, por alguns instantes, mas não olhou para mim, mesmo eu o encarando com espanto. Engoli o bolo que se formava em minha garganta e procurei focar nas minhas próprias palavras escritas e na música e não na vergonha...
Como se ele interpretasse a minha falta de reação como um sinal verde para mais, ele me tocou de novo, desta vez além de onde a saia batia, subindo-a sem medo por debaixo de sua jaqueta. Um tremor percorreu o meu corpo e senti como se todo o calor fosse roubado dele e, ao mesmo tempo, meu rosto queimava pelo rubor.
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Night Ways [One Shots]
ФанфикAs vezes basta uma noite, para que os dias seguintes já não sejam mais os mesmos. Legenda: 💎 one shots levinhas 🍓 +14 🍓🍓 +16 🍓🍓🍓 +18 Conjunto de One Shots de K-pop e doramas.