(Laura)
E lá estávamos nós discutindo novamente. Sempre foi assim desde o ensino médio, quando ele começou a estudar comigo, compartilhando a mesma turma. Eu era a melhor aluna da escola e ganhava todos os prêmios mais importantes até que ele me manteve em segundo lugar por três anos seguidos.
Todos os clubes, grupos de estudo, conselho estudantil, atividades extracurriculares, interclasse, cursinhos, absolutamente tudo tinha a liderança dele. Eu odiava praticar educação física e era péssima em quase todos os esportes, enquanto que ele dominava diversas modalidades e era capitão do time de futebol, handebol e basquete. Rapidamente deixei de ser o centro das atenções para ser aquela que tinha que me esforçar mais se quisesse alcançá-lo.
Não bastava ser nerd, Urias tinha que ser também um atleta bonito e popular. Todas as garotas queriam beijá-lo e todos os garotos queriam ser amigo dele. Não é que eu não quisesse, mas eu não podia competir de igual para igual com ele. Mesmo declarando guerra e dando tudo de mim, ele era inatingível. E o pior de tudo era que em todas as vezes que eu fracassava, ele dava um jeito de zombar de mim.
Eu me tornei tão obcecada em superá-lo a ponto de perder o foco no que realmente importava: a minha formação para ser aprovada no vestibular e ingressar no ensino superior. Então, nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo eu deixei de tê-lo como o centro das minhas atenções e me dediquei ao meu sucesso, independente do sorrisinho de vitória exibido por Urias sempre que nossos olhares se cruzavam. Tão presunçoso e narcisista!
Quando o ensino médio acabou, aquela loucura foi jogada de lado e cada um foi estudar em uma universidade diferente, inclusive em estados distintos. Os anos se passaram sem que eu tivesse notícias sobre o Urias, mas o destino fez com que nos reencontrássemos em um congresso na nossa cidade natal. A nossa sintonia profissional foi tão grande que nos aliamos para trabalhar em um projeto, apenas como teste, e foi um sucesso.
Juntos, apesar das divergências, abrimos nossa própria empresa e nos tornamos sócios. Ele, um arquiteto. Eu, uma designer de interiores. Passamos a ser considerados a melhor dupla da cidade quando se tratava de reformas e a nossa agenda estava sempre cheia, mas naquele final de semana deixamos o trabalho de lado e fomos a uma festa de reencontro da nossa turma do ensino médio após dez anos.
— É surpreendente que os dois sejam sócios! Vendo vocês discutirem agora é como voltar aos tempos da escola. Não mudaram nada. – riu Esther, uma garota que era próxima de mim.
Eu era tão focada nos estudos e em superar o Urias que não tive tempo para cultivar amizades. Lamento ter passado pela escola sem formar profundos laços afetivos. O irônico é que o garoto que eu mais odiava se tornou a pessoa com quem eu mais convivia e, de certa forma, um amigo querido.
— Ele com certeza continua sendo um idiota arrogante e narcisista. – reclamei, fuzilando Urias com o olhar – É inevitável discutirmos.
— Você é quem não aceita que discordem da sua opinião, Laura. Como você é irritante! – ele esbravejou e virou o rosto de lado, me tirando do seu campo de visão. Urias não sustentava muito tempo sob o meu olhar ameaçador.
— Por favor, me digam como vocês fazem para a sociedade dar certo. – disse Amanda, outra garota com quem também não estabeleci vínculos – Eu estou planejando reformar a minha casa no final do mês e ao pesquisar sobre as melhores empresas descobri que vocês são tidos como os melhores. Quando pesquisei mais um pouco e vi que são os donos da Laurias Design & Arquitetura quase caí para trás.
— Nos damos muito bem no trabalho. Quase não discordamos. Somos os melhores porque temos muita sintonia. – dizer aquilo em voz alta soou ambíguo, mas ignorei meus próprios pensamentos e o que os outros poderiam pensar sobre isso.
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Corações Entrelaçados
Romance"Da rivalidade nos tempos de escola à parceria no mundo dos negócios" - assim pode ser descrito os caminhos cruzados de Laura Castêdo e Urias Cavalcante. O reencontro com a turma do ensino médio revelou sentimentos antigos. Uma provocação repentina...