Capítulo único

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Lotor sempre desejou uma família, mesmo quando não sabia que era isso que desejava. Ele enterrou essa vontade profundamente e jogou por cima a necessidade de provar a seu pai que ele era suficiente.

Um dia ele percebeu que nunca seria amado por quem desejava. Percebeu que nunca seria aceito pelos seus.

Um dia ele se deu conta que provavelmente morreria como havia nascido, sozinho e desesperado por um conforto que lhe era negado.

Quando ele encontrou isso dentro da Blade de Marmora ele não percebeu de imediato. Era algo desconhecido até então, um pouco assustador. A primeira vez em que um dos membros tocou em seu ombro para lhe parabenizar por um bom trabalho ele se recolheu em desconfiança, esperando um golpe, esperando algo escondido por trás das palavras.

Porque nunca ninguém fazia algo sem uma intenção escondida, não é verdade?

O ato estranho se repetiu, de formas diferentes, por membros diferentes. Um toque de leve da cauda de Antok quando passava no corredor, Thace e suas perguntas estranhas, que percebeu em um despertar que era um senso até então desconhecido de preocupação. Ulaz e a porta sempre aberta que ele deixava.

Pequenas coisas, como perceber que os Galras eram tácteis por natureza, andavam em bando, dormiam empilhados quando preciso. Havia sempre contato, conforto. Mesmo que eles fossem rígidos nos treinos, mesmo que o código fosse a missão acima do indivíduo.

Lotor havia se juntado a Blade para destruir seu pai. Junto a um grupo seleto que havia sofrido nas mãos do império como ele, os mestiços, os rejeitados, eles foram ali buscar meios para os fazer pagar.

Seria apenas isso: Um meio para os fins. Um acordo mutual entre pessoas com o mesmo objetivo em mente. Um usando o outro.

E quando começou a ser mais do que isso, ele não sabia o que fazer.

- É como uma família. – Acxa sussurrou a ele certa noite. Diferente de Ezor, Narti e Zethrid que pareciam ter se adaptado rapidamente ao que ocorria, os dois ainda olhavam a tudo com desconfiança. Esperando a cobrança, sempre tinha um preço. Você nunca fazia algo sem pagar uma consequência. Ele havia aprendido isso da pior forma, vendo um planeta em chamas a sua frente, a destruição causada por sua recusa.

Sempre havia um preço.

-Família? – Questionou incerto, e então bufou. – Não seja ridícula.

Ela franziu o cenho, olhando Ezor e Zethrid  sentadas mais perto do que o normal no pavilhão. Mais um centímetro e estariam uma em cima da outra.

-Eu acho que a noção que temos de família talvez não seja o exemplo mais apropriado. – Ela ponderou.

E ele não sabia o que falar sobre isso.

Ele ainda estava esperando o preço.

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Era uma missão para conseguir informações. Lotor tinha certeza que era um teste para Acxa e ele, os dois membros mais difíceis de se integrar ao restante. Os dois que ainda dormiam isolados dos demais, longe das pilhas que sabiam existir. Os dois que nunca haviam aceitado a oferta de Ulaz para uma conversa.

Eles foram para a missão, complicações surgiram, os dois se adaptaram. De algum modo acabou envolvendo um planeta a beira da destruição, e as coisas apenas saíram do controle.

Eles não completaram a missão e Lotor retornou quase morto. Um tempo indeterminado na ala médica, ele acordou com Acxa dormindo sentada ao seu lado, o que não era algo tão estranho.

Ao menos nessa realidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora