Não tive tempo de dizer adeus. Nossas conversas eram como a luz do dia intensas e reconfortante.
Lembro-me do nossos sonhos de passar um carnaval inteirinho na praia.
Todos desciam e nós, da varanda, em uníssono dizíamos: "ano que vem é nossa vez!"
Planejávamos, contávamos os dias, as horas. Entretanto, a nossa hora nunca chegou. Esses planos nunca poderão ter um fim.
E nosso sonho de gravar um CD. Acreditávamos fielmente que éramos cantoras. Você cantava bem, que soprano lindo, eu, porém, escondia-me por detrás de sua copiosa voz. Ah, essa conversa! Que satisfação eu teria em conclui-la.
Enfim, são muitas as histórias que ficaram sem um "e viveram felizes para sempre".
Conversas, essas, que foram abruptamente interrompidas.
Quem poderia imaginar que tínhamos pouco tempo para falar tudo que precisávamos - e o que não precisávamos também . Como poderia, eu, imaginar que acordaria e você não estaria mais aqui e que não ouviria, novamente, a sua voz?!
Ficou longe de meus pensamentos a possibilidade de um fim, forçado, forjado, inacabado, entretanto, um fim.
Perdi as contas de quantas vezes você me chamou de chata, brigona, irritante. Contudo, o pior é não ter você aqui para continuarmos nossos "arranca rabos", nossa implicâncias, nossas briguinhas infantis, nossas conversas.
Você era a minha melhor amiga. Por noites, conto os segundos até o nascer do sol, desde o dia em que você se foi, pois nunca dispus da destreza de te acarinhar com minhas palavras. Sofria da epidemia do "ela já sabe"! "estava subentendido", "não preciso dizer",
Era o que eu pensava, acreditava. Estava errada! Ainda que você soubesse...
Abriria, hoje, mão de meus sonhos mais loucos, tudo para dividir com você outro pacote de bolacha. E, então, Falaria mais, falaria outra vez, falaria palavras. Palavras que eternizam o amor; palavras de consolo e conforto. Gastaria todo o meu tempo. Falaria, falaria e falaria, também, que te amo e para sempre vou te amar.
Falaria não só que você é linda, mas também que é a minha inspiração. Falaria e não me cansaria de falar, pois, agora, sei que como magia, essas pequenas palavras te manteriam aqui, bem pertinho de mim.
Outrora, achei que não era necessário, "oh doença terrível, esta do conformismo!", todavia, nos dias de hoje, reconheço a necessidade que temos de ouvir o quanto fazemos a diferença na vida de alguém.
É incrível o valor que as pessoas recebem postumamente. Fico a pensa: Porque não em vida?! Essa é, se não, a minha maior tristeza, saber que seus ouvidos não ouviram todo a importância que você teve na formação do meu caráter, todo o valor que você representou para mim.
Tenho por consolo o pensar que, de alguma forma, você soube que eu te amei.
Hoje, aqui na praia, neste carnaval de sol radiante, areia cordial. Sinto-me estupefata por poder realizar um sonho o qual achávamos utópicos, mas, ao mesmo tempo, acreditávamos que iríamos alcançar um dia.
Encerro, assim, nossa conversa com pontos de reticências...
VOCÊ ESTÁ LENDO
CARTAS EM BRANCO
General FictionESTA É UMA HISTÓRIA BASEADA EM FATOS REAIS, PORÉM COM UMA PITADINHA DE IMAGINAÇÃO. POR DEZ ANOS, ME VI APRISIONADA POR CONTA DE UMA DOR QUE NÃO CONSEGUIA SUPERAR. HOJE, ESCREVO E LEVO COMIGO, NESSA CAMINHADA, A CERTEZA DE QUE ANDAR VAGAROSAMENT...