Arthur abriu os olhos num estalo e sentou-se na cama, ofegante. Suas mãos agarravam com força os lençóis e todos os músculos de seu corpo estavam tensos. Ele mal conseguia respirar, aterrorizado, e seu coração parecia prestes a desprender-se do peito e sair pela boca. A visão viera como um sonho e começara de maneira inocente, com Arthur saindo de uma padaria usando a camisa manchada de café e um embrulho pardo em uma das mãos. Estava sendo seguido por alguém e, ao dobrar uma esquina e correr para atravessar a rua movimentada, foi atingido por um caminhão que o arrastou por alguns metros no asfalto e o esmagou completamente, reduzindo-o a um corpo destroçado e sem vida. Era uma noite de dezembro, a julgar pelas luzes e enfeites de Natal espalhados pela cidade, e estava insuportavelmente frio. Era assim que Arthur morreria.
Ele permaneceu fitando a parede de madeira escura de seu quarto, revivendo os momento de sua visão como se assistisse a um filme repetidas vezes. Ele queria ter certeza de que vira certo, de que aquele era mesmo ele e de que forma sua morte aconteceria. Porque aconteceria.
Arthur Van Doren era capaz de prever o futuro. Suas visões, sem aviso prévio ou momentos exatos para acontecerem, retratavam acontecimentos que estavam prestes a se tornar realidade num futuro bem próximo. Elas eram infalíveis. Desde sua primeira visão, aos nove anos de idade, Arthur passou a enxergar o mundo e o tempo de uma maneira única e completamente diferente de todas as pessoas ao seu redor. Desde que não a utilizasse para fazer mal a ninguém, ele não via tal habilidade como trapaça e usou o dom tão inusitado para proporcionar uma vida digna aos pais antes deles falecerem. Arthur eram bom em apostas e parecia ter um dom natural para cálculos financeiros, o que, juntamente com as visões do futuro, foram fundamentais para que conquistasse um estilo de vida confortável sem chamar atenção demais para si mesmo. Algumas pessoas o consideravam muito sortudo, outras, muito talentoso e dedicado. Arthur via a si mesmo como alguém que sabia fazer bom proveito das oportunidades.
E agora estava prestes a morrer.
O alarme digital sobre o criado-mudo tocou, tirando Arthur de seu estado catatônico. Estendeu o braço e desligou-o, fitando os números e letras indicativos da data e hora. Vinte e dois de setembro de 2018. 07: 30. Arthur resfolegou. Aquilo queria dizer que faltavam aproximadamente três meses até o Natal.
Três meses até que ele sofresse o acidente. Arthur colocou os pés no chão e apoiou a cabeça nas mãos, atordoado.
Ele já tentara mudar o futuro algumas vezes modificando o curso de alguns acontecimentos, mas absolutamente nada do que fizesse alterava o resultado final. Era como se ele fosse um simples espectador da vida acontecendo à sua volta, sem nenhum efetivo poder de agir e mudar as coisas. O destino se desdobrava para acontecer exatamente como as visões previam. Ciente disso, Arthur entrou em um desespero silencioso. Não podia pedir ajuda a ninguém. Não havia com quem compartilhar sua angústia. Não havia a quem contar seu segredo. E não havia como alterar seu futuro. Tudo o que lhe restava era continuar vivendo até que o dia de sua morte chegasse - e, diferentemente de todo o restante da humanidade, ele sabia exatamente quando esse dia chegaria.
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Três meses para o fim do mundo
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