Seu coração, meu amor

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Ele gostava da forma com que a luz entrava pela janela, clareando a sala até chegar ao balcão da cozinha, tomariam café da manhã apreciando o brilho diurno, e, à noite, certamente o luar adentraria ali da mesma forma. Yukito segurou firme a mão de Touya conforme o corretor imobiliário continuava listando as qualidades do lugar, que pareciam não ter fim.

– Gostei muito desta casa... – o moreno ouviu a voz do rapaz, que parecia encantado e satisfeito com o quanto o quarto do casal era espaçoso. – Olha estas janelas no teto, vamos dormir vendo as estrelas!

Touya olhava-o deslumbrado, sorrindo com a felicidade do outro.

– Você verá estrelas antes de dormir até mesmo nos dias nublados, é uma promessa, Yukie. – o moreno piscou massageando as costas da mão dele carinhosamente, o corretor distraído demais explicando o sistema de ventilação da residência.

Saíram do imóvel com a certeza de finalmente terem encontrado o local perfeito, não poderiam viver a vida toda dormindo no quarto ao lado do de Sakura, ficava cada vez mais difícil serem silenciosos.

O pai de Touya lhe entregou sua parte na herança de sua mãe, o suficiente para comprar uma bela casa. Yukito ainda retrucava que gostaria de ajudar mais, mas preferiu ceder ciente de que finalmente teriam seu próprio lar.

– Você se lembra, amor? – Toyua perguntou com um sorriso travesso. – A cara que a Sakura fez quando assumimos? E Shaolin, o salto de três metros que deu?

O grisalho passou os dedos da mão livre por entre os fios de cabelo brancos, sorrindo sem soltar a mão do moreno conforme caminhavam pela rua, lembranças sempre o deixavam saudoso e feliz, apesar de uma boa parte de suas memórias parecerem dar saltos.

– Eu acho que eles já desconfiavam... Shaolin não pareceu surpreso por namorarmos, mas por termos contado a Sakura. – parou de frente para ele e segurou também sua outra mão, o fazendo parar também por breves instantes. – Fiquei mesmo envergonhado foi quando contamos a seu pai, e ele respondeu dizendo que nós éramos muito barulhentos de madrugada e que provavelmente até os vizinhos já sabiam.  

Touya reclinou-se e selou seus lábios rapidamente, após certificar-se que a rua estava deserta. Não que fosse proibido beijar o namorado em público, mas por não desejar dividir aquele momento com ninguém. Yukie era seu, e isto era suficiente.

Continuaram o trajeto até o parque do pinguim, o sol começava a se por e o reflexo deixava os cabelos de Yukito ainda mais brancos.

E como Touya amava aqueles cabelos brancos, até mesmo quando Yue aparecia, os fazendo adquirir comprimento bem longo.

Algumas crianças brincavam pelo parque e a cena era bastante agradável, Yukito observou o castanho com os olhos fixos em si e aninhou o rosto sobre seu ombro, com um sorriso nos lábios.

– É bom, sabia? – o rapaz ruborizou conforme dizia as palavras. – Tê-lo me olhando assim, mesmo depois de tantos anos.

Touya apertou mais os dedos do outro entre os seus, afagando os cabelos alvos com a outra mão.

– Um dia... – hesitou em meio à fala, fazendo Yukito fitá-lo com curiosidade.

Os olhos do castanho estavam agora nas crianças que brincavam, e nos pais, sentados observando-os.

– Um dia? – o grisalho perguntou, encorajando-o a prosseguir.

– O que pensa a respeito de filhos, amor? – Touya beijou sua testa, um sorriso de admiração nos lábios enquanto dois meninos brigavam por qual escorregaria primeiro no grande pinguim.

Yukito suspirou, devolvendo o aperto sobre a mão morena.

– Penso que... hm... eu gosto de crianças. E você cozinha bem demais para que eu seja o único a aproveitar.

O castanho riu alto, e acabou chamando a atenção de alguns adultos ali presentes para ambos, encontrando em meio ao mar de rostos estranhos tanto sorrisos quanto expressões atravessadas.

– Eu tenho medo, Yukie. Eu quero, mas tenho medo. – o grisalho compreendeu absolutamente o sentimento dele, e ignorando as expressões negativas, selou os lábios às bochechas alheias em um beijo estalado.

 – Então teremos medo juntos, e o enfrentaremos juntos também. – riu voltando a recostar o rosto sobre o ombro do outro. – Porque, definitivamente, aquela casa é grande demais para nós dois.

Assim conversaram por mais algum tempo, observando as crianças que brincavam e assistindo aos vários tons de amarelo e laranja no céu transformarem-se, pouco a pouco, em tons de vermelho e púrpura. Permaneceram ali até que o sol se pusesse por completo, forrando o plano de fundo em um veludo azul marinho cravejado de diamantes.

E seriam aqueles diamantes que Yukito desejava observar antes de dormir, com a cabeça sobre o peito de Touya, sem se preocupar com vizinhos ou a irmã mais nova de alguém no quarto ao lado.

– Amor, sabe de uma coisa? – o grisalho disse conforme se levantavam para retornar.

– O quê, meu anjo? – o castanho beijou sua testa acariciando o dorso de sua mão.

– Sabe as estrelas? Elas parecem piscar no ritmo do seu coração. – riu corando veementemente. – No ritmo que ele fica depois que a gente se ama...

No ritmo das estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora