Capítulo 2 - Jake

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A visão é turva e embaçada no ambiente em que estou, outro lugar em outra realidade, escura e sem fim. Só vejo a mim e ao meu reflexo no chão, como se ele estivesse forrado de uma camada de água, porém imóvel aos meus movimentos. Piso em falso várias vezes procurando estabilidade naquela superfície distinta.

Procuro entender onde estou, mas jamais estive em tal lugar. Nem mesmo em sonhos, aliás não costumo sonhar, pelo menos não me recordo deles.

O espaço é vasto e vazio, o clima é quente e úmido. Só ouço o som de meus passos sobre a água, ecoando no puro vazio, e uma leve sensação de vácuo, de falta de ar. Agora reparo que não há ar, e assim nem um porquê dos meus pulmões se encherem.

Começo a entrar em desespero, procurando oxigênio onde não há. meus joelhos vão ao chão de aspecto molhado quando me entrego ao pânico.

E como se não bastasse a falta de ar, me começa a desencadear uma terrível dor de cabeça.

Agora com minhas mãos sobre a cabeça e com meu corpo todo curvado a dor piorar a cada segundo que se passa.

Meus dentes só param de cerrar quando solto um grande grito de dor, que é abafado pelo vácuo. Leva segundo até que me entrego a sonolência, deslizando todo meu peso no chão. Até que enfim eu apago, mais uma vez.

Num grande lampejo elétrico meus olhos se abrem, consigo sentir minhas pupilas dilatadas e meus pelos arrepiados, ainda com a visão embaraçosa sei que agora estou na sala de exames, com tudo a minha volta em tons de branco, ao invés do escuro negro de antes.

Sinto grampos ou eletrodos presos á minha testa, nada que me incomode muito, o que me indigna é o estranho sonho em meio ao teste.

A pessoa que estava de máscara já não está mais com o rosto coberto, pelo menos é o que seus cabelos curtos e escuros entregam. Ela está de costa. Estava até o momento que se depara com minhas respiração ofegante.

Percebo seus grandes olhos arregalados enquanto digita algo na máquina, creio eu que desligando-a. Mesmo com a visão turva, consigo enxergar a surpresa em seus olhos.

Ela se aproxima em cima de um pequeno banco com rodas olhando para porta, verificando se alguém viu o acontecido. E logo me diz quase sussurrando:

- Você não pode contar para ninguém que isso aconteceu. Tudo bem? - suas palavras vinham acompanhadas de puro medo.

- Sim... - exclamei lentamente. Enquanto ela coçava sua cabeça, parecendo pensativa.

- Você pode me soltar? - pergunto olhando para minhas mãos.
- E também podia tirar essas coisas da minha cabeça? - pergunto agora com as sobrancelhas levantadas.

Ela me olha com um olhar de desprezo, depois se levanta e começa a puxar os fios presos da minha testa, enquanto fala:

- Olha só, irei alterar seus exames, e nunca ninguém saberá dessa nossa conversa. - ela termina com os grampos, os deixando suspensos em outra espécie de máquina atrás da cadeira e solta as cintas, soltando meus braços.

Tiro a costas do encosto, primeira coisa que faço é pegar meus óculos, depois verifico meus pulsos e em seguida desarregaço as mangas do macacão. Me sento na cadeira de um modo que deixo meus pés poucos centímetros do chão.

- O que houve? - me arrisco a perguntar.

- Não sei, isso nunca aconteceu. - ela responde me olhando, buscando entender.

- Por que desta consulta inesperada? É o que estou perguntando. - reforço.

A mulher começa a esfregar uma luva na outra, pensativa e volta a dizer:

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