A Garota Dos Olhos Cor De Mel

Pela primeira vez desde que assinei meu contrato de trabalho em uma das maiores empresas de advocacia de New York, a ‘Flockhart & Montgomery Law Offices’, eu estava atrasada, depois de dois anos, três meses e treze dias, eu estava atrasada, o que para mim, era o maior pecado que se podia cometer. Me apressei em colocar a roupa e passar uma maquiagem no rosto, nem olhei para cozinha, mesmo meu estomago gritando por um café. Apressei meus passos em direção ao metro pela avenida lotada em mais uma típica manhã frenética em NY. Entrei correndo pelas portas automáticas do metro que quase se fecharam em meu corpo, respirei aliviada por não ter perdido a viagem e ter que esperar outro, e também percebi o quanto tinha corrido ao me ver ofegante e suando no inverno de NY.

Me ajeitei em um canto do vagão e coloquei meus fones de ouvido que ecoavam em seu volume máximo a voz de Lana Del Rey, cantando as letras de Blue Jeans, uma de minhas músicas favoritas. Corri o olho por todo o vagão, observando a cara de sono de alguns passageiros, a concentração que tinham em seus aparelhos celulares, outros apenas cochilavam e sentada em um banco no meio do vagão, havia uma garota, que lia um livro, acredito que um de meus favoritos ”O sol é para todos”.

A garota tinha a pele dourada, provavelmente pelo sol de algum lugar distante de NY, seus cabelos eram castanhos escuro e lisos com leves ondas por toda sua extensão, vestia um terninho preto por cima de uma blusa bege, tinha cobrindo suas pernas uma calça jeans preta colada, marcando sua perna bem definida, mesmo ela estando sentada, era visível, em seus pés um sapato de salto fino, também preto, completando seu figurino extremamente elegante. Consegui notar os detalhes de suas bijuterias ou joias, eu era péssima em identificar o verdadeiro valor de acessórios, mas os seus eram todos delicados, assim como ela parecia ser. Me perdi admirando sua beleza por incontáveis segundos, até que a mesma levantou o olhar da página que lia e o direcionou a mim, parecia perceber que era observada. Eu instantaneamente virei o rosto, tentando disfarçar, já com as bochechas queimando de vergonha, meus olhos fora do meu controle voltaram novamente a moça, que direcionou um sorriso sincero a mim antes de se levantar do banco e sair do metro.

Eu hipnotizada por seu sorriso, seus dentes perfeitamente alinhados e branquinhos, e seu olhar marcante, com uma leve maquiagem preta destacando seus lindos olhos cor de mel, tão lindos que ficaram gravados em minha mente.

Eu desci na estação seguinte, a cada passo que eu dava em direção ao prédio da empresa, cada andar que o elevador passava, cada passo até o meu escritório, tudo que havia em minha mente era a garota dos olhos cor de mel.

Não sei quem era ela, mas ela causou algo em minha mente que outra pessoa jamais havia feito igual.

No dia seguinte, entrei no metro, a espera de vê-la novamente, me frustrando ao perceber sua ausência, e assim foi pelas duas semanas e dois dias seguintes, a ponto que perdi minhas esperanças em revê-la, provavelmente aquilo teria sido um acaso em um dia de sorte ou azar em que eu precisava de uma iluminação em minha vida ou talvez ela nem mesmo existisse e fosse apenas um devaneio da minha mente cansada e frustrada, que procurava um escape em uma figura de uma linda mulher com os olhos cor de mel.

Era impossível dormir, me atormentava saber que não a veria novamente, incomodava meu consciente e subconsciente, ela veio como um furacão em minha mente com apenas um sorriso e um olhar, bagunçou toda a extrema e metódica organização em minha cabeça, eu apenas conseguia me perguntar o porquê de o destino tê-la colocado em minha vida se pretendia tira-la logo em seguida, sem deixar pistas de quem essa elegante senhorita era e como encontrá-la.

Vencida pelo cansaço de uma mente constantemente fritando pensamentos sobre uma tal garota, cai no sono, um sono profundo o suficiente para me fazer perder o horário pela segunda vez em menos de um mês, outra tragédia para meu prefeito compromisso com horários.