Os últimos segundos de música corriam; a melodia tranquila dava seus últimos suspiros até, por fim, silenciar. Rock Lee e eu terminamos agarrando um ao outro, exatamente como havia sido coreografado na semana passada. Lufadas de ar escapavam de minha garganta enquanto as mãos apoiavam-se nos joelhos, pois a coreografia poderia até não ser agitada, mas necessitava de uma precisão tanto nos movimentos quanto na sincronia com os demais participantes. A instrutora nos aplaudiu quase rompendo as barreiras que a impediam de dar pulinhos de alegria, lançando diversos elogios a respeito de como tínhamos evoluído em tão pouco tempo. Lee e eu trocamos olhares de cumplicidade, assim como fizeram Ino e Sasuke entre si e, logo em seguida, conosco. Mordi o lábio para conter o entusiasmo; meu corpo estava exausto demais para pular de alegria. Finalmente os ensaios estavam resultando em algo além de erros e frustração, afinal de contas a festa de aniversário estava cada dia mais próxima e havia urgência em finalizar e aperfeiçoar aquela coreografia.
Como sempre, Lee me acompanhou até o banco, onde largávamos nossas bolsas antes do ensaio. Engatei a alça da bolsa no ombro, louca para sair dali e tomar o banho mais longo de minha existência. Rock Lee falava algo sobre as novas músicas que o Paramore, sua banda favorita, havia lançado naquela semana, todavia, não muito tempo depois, cessou seu comentário entusiasmado para me cutucar o ombro.
— Saky, olha ali! – ele sussurrou apontando com o queixo (nada discreto, devo dizer) para onde Ino e Sasuke conversavam.
De fato, a loira Yamanaka não era exatamente um mistério de resultado imprevisível. Nós, que estamos em plena convivência desde sempre, notamos sua óbvia linguagem corporal. O modo como ela brinca com uma mecha de cabelo significa nervosismo, por mais que seu rosto não o demonstre. E o jeito que cora enquanto sorri ao falar com um garoto, significa que está completamente na dele. Em circunstâncias normais o fato de Ino estar dando mole para um cara não seria motivo de surpresa, mas acontece que o rapaz o qual ela estava dando sopa era o meu ex-namorado.
— Você tá bem com isso? – Lee perguntou.
— Claro que sim! – disse ríspida, quase ofendida. – Acha o que?! Que eu tô com ciúme?! Tenho mais o que fazer, Lee!
— Não achei que fosse ciúme. – o moreno ergueu as mãos, defendendo-se. – Mas você parece incomodada.
— É claro que estou incomodada. – resmunguei. – Olha só pra Ino; ela é linda, inteligente, engraçada e perfeita. O Sasuke, por outro lado, é um otário. Ele não merece nem um bom dia de uma garota como ela. As grossas sobrancelhas de Lee se arquearam em surpresa.— Pensei que você já estava de boa com relação ao término com o Sasuke.
— Mas eu estava, Lee! – retruquei quase num choramingo. – O Sasuke é que não está, pelo que pude reparar. Já tem quase um ano que a gente terminou e sempre que eu noto, ele está lá! Eu troquei de turma e ele me seguiu. Entrei pro time de vôlei misto e ele estava lá. Comecei a ensaiar pro aniversário e ele deu um jeito de iludir a Ino pra ser o par dela na dança.
— Cara, que saco! – Lee cruzou os braços, seu olhar julgava Sasuke de longe.
— Por que não manda ele meter o pé?
— Já mandei tantas vezes que até cansei. Dá vontade de jogar ele embaixo do ônibus e mandar pro limbo.— Oh...! – um ruído de conclusão transpassou os lábios do rapaz. – Então foi por isso que você me pediu pra ficar perto de você nos ensaios e nos treinos de vôlei?
Minhas bochechas ficaram vermelhas. Faltei com a verdade não por desconfiar de Lee, e sim por ainda não me sentia pronta para meter mais uma pessoa no mar de almas penadas que era meu passado com Sasuke. Apesar de que, é claro, havia acabado de metê-lo, mesmo que sem querer. Naquele dia, depois de uma longa conversa sobre esse assunto, Lee se tornou a quarta pessoa a estar a par dos motivos pelos quais Sasuke e eu deixamos de ser um casal.
— Sim. – tive de admitir. – É que eu imaginei que se eu estivesse acompanhada de algum garoto ele deixaria de me perseguir por aí. Sabe... por talvez pensar...— Que eu sou seu namorado ou algo assim? – ele arriscou.
— Éér... – cocei a cabeça, constrangida. – Mas sem pensar besteiras, ok? Não estou isso como pretexto pra ficar perto de você com segundas intenções. Você nem sequer faz o meu tipo! – mordi os lábios, cada palavra parecia deixar a situação cada vez mais embaraçosa, ao invés de ter o efeito contrário. – Em síntese: quero dizer que não tô a fim.
— Calma, não precisa ficar nervosa. – Lee riu. – Eu não achei que você estava usando isso como desculpa pra ficar perto porque estava interessada. – Lee explicou, mas teve de balançar a cabeça, um pouco reflexivo. – Até porque se estivesse, ia se decepcionar um pouco.
— Por quê? – quis saber.
— Porque eu não curto meninas, Saky. – ele disse num risinho baixo, agarrando minha mão e puxando em direção à porta. – Vamos embora antes que você realmente mande o Sasuke pro limbo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Cookie and Kiss
FanfictionÀs vezes, duas almas estão tão entrelaçadas e destinadas à completarem uma a outra que um encontro furado e um cupom do Subway são suficientes para dar um empurrãozinho.