Dizem que quando se vive uma tragédia, parece que aquela sensação de angustia vai ser interminável. Os momentos agonizantes, a escuridão lhe toma, o fôlego lhe acaba, o medo expressado em cada rosto ao seu redor lhe consome vivo. Os rostos familiares escorrem por seus olhos, as melhores lembranças com eles é o que restava pensar enquanto se continha sentado, encostado próximo a janela do casebre.
Lembrava das ruas que passou, via pessoas desesperadas, entrando em seus carros, juntando a família, trancando suas casas e partindo. Sobreviver daquilo com certeza. Todos estavam fazendo a mesma coisa.
Ele queria correr e encontrar seus pais ali, onde morava, lhe esperando ansiosos. Não pretendia fugir como a maioria, o prédio onde morava tinha subsolo, dava para família toda sobreviver ali, já bastava.
Mas desejar aquilo enquanto disparava sem fim por uma rua qualquer, com as lágrimas molhando todo seu rosto, seria impossível. Seus pais estavam no Brasil e era óbvio que eles não estariam de braços abertos lhe esperando, ainda mais sabendo que fazia dinheiro montado de Drag.Jordan, após o silêncio ensurdecedor dentro do casebre, foi-se montando aos poucos em Michelly Michels. Deixou ser levada pelas emoções passadas e seus objetivos na qual fizeram ele ir para ali em uma cidade americana.
Com seus 23 anos, quando finalizou seu ensino médio, conseguiu uma bolsa de estudos para estudar engenharia civil. Era nerd, admitia, por isso o fluente envolvimento no inglês. Desde cedo almejava aquilo, talvez um país desenvolvido o aceitaria com mais rapidez sua orientação sexual. Mas seus pais não.
Fazia com que todos os estudos que teve, o bilíngue que ele era, a vida de adulto que levava anos ali sozinho em um outro país, fosse nada na frente de seus pais e isto acabava Jordan por dentro enquanto avançava para uma rua sendo devastada.Deixando seus pensamentos aflorados, era inegável que ele buscava ajuda. Estava desnorteado, aquilo que viu no campo aberto perto de onde trabalha, parecia ter outros espalhados pela cidade e estes destruíam tudo que ela conhecia ali no centro da cidade. Não foi difícil de saber quando se vinham pessoas desesperadas de lá. Era só o que ouvia quando cortava as ruas.
Saindo de um gramado ralo, canteiro de uma lanchonete, Jordan correu entre o próximo beco apertado que viu e encontrou um homem escondido em um trailer. Apenas.
Inconsciente dos seus atos, suplicou por ajuda e uma porta rapidamente foi aberta para ela no passageiro. Estava lá dentro um homem sério, mas que naquele momento o temor esculpia sua face. Se chamava Eduard Martozzi.
Voltou a pisar no acelerador com toda força, manobrando o trailer novamente para sair dali.A escuridão do casebre consumia. Aos poucos, após quase meia-hora confinados, alguns sussurros deYallow e soluços retrancados de Jordan, enquanto colocava sua peruca, os olhos de quem ali estavam, iam adaptando-se ao local. Iam enxergando as silhuetas dos objetos. As poltronas, a lareira próxima a entrada.
Um balcão dividindo a sala e a cozinha, e mais ao fundo uma estante de livros, uma mesa redonda com bancos. Ao seu lado uma escada para o próximo andar.
- Já era para ter aparecido alguém? - pergunta, retoricamente Eduard, o rapaz todo tatuado.
Aqueles minutos trancados ali só serviram para aumentar a tensão e sentir que o ar criava um aspecto frio.
Norton, com os braços entrelaçados na pequena Yallow a sua frente, estava também encostado no balcão, de frente para a porta trancada da entrada.
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Entre Nós (Revisando)
Science FictionO que fazer quando aqueles que nos vigiavam cada passo nosso aqui na Terra, o que fazíamos, o que comemos, nossos atos fúteis, o nosso jeito de "desperdiçar" a vida, descerem em nosso solo? Seria o ápice da desordem humana. Nesta obra trago emoções...