Capítulo Único

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1961

Era 13 de agosto.

Petúnia tinha se mudado havia poucos meses para a Dorotheenstraße, do outro lado do rio, com seu novo marido, Vernon Dursley. Ele era um tipo um pouco grosseiro, mas muitos alemães eram como ele. Lily tinha aprendido isso nos últimos anos que passaram naquele país, por causa das transferências militares de seu pai.

Tinha sido difícil deixar a Grã-Bretanha, dois anos após iniciada a Guerra Fria, mesmo que Lily tivesse apenas cinco anos naquela época. Ela ainda se lembrava das amigas que tinha feito, e os oito anos seguintes passou mudando de país para país, estado para estado, cidade para cidade, seguindo as ordens dadas pelos militares ao seu pai. E tinha sido dessa forma que "pousaram" em Berlin, quatro anos antes.

O almirante Charles Evans não era o único britânico daquela região. Tinha sido algumas ruas abaixo que ela tinha conhecido James Potter que, apesar do sobrenome alemão, tinha nascido na capital londrina. Juntos eles tinham se adaptado a um novo idioma extremamente complicado, mas ao mesmo tempo feito de tudo para não se esquecer de suas origens. Eles sonhavam em, um dia, voltar para o seu país de origem. Sonhavam juntos também com o dia em que a guerra acabaria.

Tendo tanto em comum, Lily não tinha percebido o momento em que passou a ver o dämlich James como algo mais do que o amigo que ele tinha sido até então.

— Tem certeza de que não quer ir comigo, mamãe? — perguntou Lily, enrolando um cachecol em volta do pescoço.

— Eu acho que você deveria ficar em casa — foi a resposta que ela recebeu de dona Doralice.

Sua mãe não gostava do outro lado do rio, onde Petúnia tinha decidido ir morar, tinha sido bem contra aquela decisão, mas sua filha mais velha nunca tinha escutado suas opiniões, não seria agora a hora de mudar.

— Eu só vou ver como está a casa deles — disse Lily, sorrindo para a sua implicância.

— Tenho certeza de que ela poderá tirar uma foto e nos enviar, se você a pedir.

Ainda rindo, deu um último beijo na testa da mãe, que estava vendo algum programa culinário na televisão, antes de sair de casa.

Era uma boa distância entre Linienstraße e Dorotheenstraße, ainda mais quando ela não podia contar com o carro de seu pai para atravessar a ponte. Não era normal na década de 60 que as mulheres soubessem dirigir, elas ainda nem eram muito bem aceitas no mercado de trabalho. Talvez nunca realmente fossem.

— Acha que Estados Unidos conseguirá enviar o homem a lua? — James estava sentado no banco do jardim em frente à sua casa.

Ele morava na Johannisstraße. Era curioso como street virava straße em alemão. A forma de escrever não era tão absurdamente distinta, exceto pelo B contorcido do seu alfabeto.

— Sem chance — Lily riu, parando sua caminhada um pouco para conversar com ele — Não tem tecnologia para isso.

— Eles estão desesperados — James deu de ombros — Pessoas desesperadas fazem coisas desesperadas.

Ela aproximou-se dele com um sorriso no rosto.

— Essa guerra é estúpida — sussurrou — Parecem duas crianças brigando.

— Guerras são estúpidas — ele retrucou — E até o momento em que eles se ataquem, não estamos em guerra.

Esse era o maior medo de todos. Que os Estados Unidos ou a União Soviética desse o primeiro passo. Ambos os países com um arsenal destrutivo, apenas uma bomba atômica era capaz de varrer a humanidade da Terra. Talvez por isso Petúnia e tantas outras mulheres pareciam desesperadas para se casar logo, Lily não pensava assim.

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