O som das frias gotas d'água chocando-se contra o piso da caverna escura marcavam o tempo de uma forma torturante. O tempo que recusei-me a ver passar. Demônios não contam o tempo, sabia?
Creio que um par de décadas já ficaram para trás desde que a conheci. Desde que testei minha lâmina em si, despertando-a do mundo dos mortos.
Rin.
A humana Rin.
Minha Rin.
Seu sono profundo sobre meu peito torna difícil meu próprio dormir, ainda vejo-a pequena em meus braços, frágil. Vejo-a encolher-se e apertar-me durante seus pesadelos.
Ainda que suas longas pernas saiam de seu vestido fazendo-me corar enquanto a cubro.
Ainda que seu cheiro inebrie-me além de qualquer explicação, e provoque-me reações que... que...
Reações indevidas.
Durma, Rin, simplesmente durma em meus braços, aqui não lhe alcançará o frio.
Não lha alcançará ameaça alguma, exceto...
Exceto eu mesmo. Eu e meus terríveis pensamentos.
Minhas terríveis vontades.
Você acordou agora, e me encara com suas belas orbes cor de ônix, sorrindo, sequer imaginando o que se passa nos pensamentos do demônio a sua frente.
Afago seus cabelos e permaneço em silêncio, o cheiro se sálvia que exala dos seus fios castanhos dificultam cada vez mais minha razão.
Eu sou um demônio, Rin-san, e você deveria fugir enquanto pode. Fugir, não deixar sua perna sair do vestido outra vez, abraçando-me com ela, como está fazendo agora.
Seu rosto cada vez mais perto do meu, o brilho em seus olhos reflete minha própria diabolicidade.
- Sesshoumaru-sama. - sua voz alcança meus ouvidos e fecho meus olhos apenas para lhe dar atenção. - Tão bonito... você é tão bonito, Sesshoumaru-sama. Mesmo há tanto tempo sem dormir.
Abri os olhos outra vez, seus dedos alcançaram meu rosto e seu sorriso não cedeu.
- Como sabes que não tenho dormido? - perguntei deixando-a encostar sua testa a minha, focando minhas forças em não levar minha mão a sua perna despida sobre meu corpo.
- Você não dorme desde que completei vinte anos, Sesshoumaru-sama. - ela riu, roçando o nariz ao meu. - Não tenha medo de si mesmo, eu não tenho medo de você.
Franzi a testa tentando compreender o sentido de suas palavras.
- Tenho vinte e seis anos agora, Sesshy, e nenhum medo de qualquer coisa que queira fazer comigo.
Seus dedos deslizaram pelo meu queixo e seus lábios cobriram minhas pálpebras em selares leves. Imaginei aqueles lábios nos meus e me esqueci do frio que fazia ali.
"Controle-se, é só uma humana. Demônios não devem..."
Oh!
Seus dedos percorriam meu pescoço e sua boca selava meu rosto, perigosamente perto...
- Eu não vou tomar a frente por você, Sesshy. - sua voz surgiu rente a meu ouvido. - Mas, por favor, pare de se segurar... Eu te amo.
Suspirei.
Se ela tivesse continuado eu teria permitido, e esta certeza me fez sentir anda pior.
- É gratidão, Rin... não confunda...
- Não, não é! - sua voz alterou-se um tom, e pude ver o nó formar-se em sua garganta esguia. Levei a mão de seus cabelos até seu rosto corado, vendo a pele enrubescer por onde meus dedos passavam.
Estivemos neste mesmo impasse pelos últimos anos.
- Demônios não amam, Rin. Eu sou um demô...
- Cale sua boca. - ela interrompeu se jogando sobre meu pescoço, em um abraço apertado. - Você é um demônio, Sesshy? Um Youkai? Ótimo, que seja, não faz diferença de que raça você é, desde que pare de se segurar. Pare de se prender a regras dos tempos dos seus antepassados e entenda que as coisas mudam.
- Regras?
Rin me confundia. Era a única que tinha liberdade para tal.
- Regras estúpidas. "Demônios precisam ser impassíveis, ter sangue nas mãos, infernizar a humanidade." Admita, Sesshy, você já não faz mais nada disso. - ela afastou o rosto tornando a encarar-me. - Então que custa quebrar esta regra ridícula que te impede de ser feliz?
E, mais uma vez, ela tinha razão.
Aquele pensamento de que youkais não deveriam se envolver com humanos, e que de tal união só era possível esperar morte e fraqueza nunca passou de uma regra estabelecida bem antes de minha própria existência.
Eu não podia negar nenhuma das reações que ela me provocava.
- Rin... Tem certeza? - minha mão deslizou bem lentamente de seu rosto pelo seu pescoço, braço, cintura, pousando sobre sua coxa, pressionando-a levemente. - Você tem certeza, Rin-san?
Ela abriu um sorriso luminoso, e a caverna escura passou a ser o lugar mais iluminado em que já estive. Minha mão formigava sobre sua pele como se através daquele contato trocássemos uma espécie de energia invisível.
- Você ainda pergunta, Sesshy? O que está esperan...
E meus lábios se uniram aos dela antes mesmo que a jovem completasse sua frase. Eu sabia que minha coragem se esvairia a qualquer momento e que me sentiria terrivelmente egoísta depois, mas eu tão somente necessitava daqueles lábios, e do calor que havia ali.
Rin fazia meu peito ressoar e despertava em mim reações que sempre considerei humanas demais para dar a devida importância. Reações capazes de fazer sentir felicidade, e a felicidade era, sem dúvidas, a mais perigosa emoção que um youkai poderia sentir.
Youkai feliz sempre foi sinônimo de youkai vulnerável.
Mas, devo admitir, o que Rin me fez sentir naquela tarde valeria por toda vulnerabilidade do mundo.
Eu sou seu, Rin querida, seu Youkai, que simplesmente se recusou a continuar resistindo.
- Eu te amo, Rin-san. - sussurrei contra seu ouvido cobrindo-nos após ela pegar no sono outra vez, sem sequer preocupar-se em recolocar as próprias vestes. Sua respiração, agora suave, fazendo-me lembrar o quão descompassada estava há tão pouco tempo, conforme seu corpo frágil selava-se ao meu.
- Descanse. - disse à voz baixa selando-lhe a testa. - Para que eu possa cansá-la um pouco mais a cada dia, durante muitos e muitos anos.
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Rin no Youkai
FanfictionO som das frias gotas d'água chocando-se contra o piso da caverna escura marcavam o tempo de uma forma torturante. O tempo que recusei-me a ver passar. Demônios não contam o tempo, sabia? (...) "- Você tem certeza, Rin-san? Ela abriu um sorriso lum...