CAPÍTULO 1 - AQUELE QUE CAMILA VAI PARA LONDRES

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Quando meu curso de inglês intensivo começou, já pude sentir o gostinho do que estava por vir. Durante esses seis meses, minha vida encarava seus altos e baixos. Em alguns dias, eu me encontrava radiante conversando com Duda sobre como seria sensacional morarmos juntas. Ela dizia estar super feliz, pois antes dividia um apartamento com quatro "estranhos", e agora estava procurando algo em conta e apropriado para nós duas. Porém, em outros dias, me encontrava meio cabisbaixa ao ver meus amigos já na universidade e tentando não ter crises ao pensar no que poderia dar errado.

Finalmente, o dia havia chegando. O dia da viagem. Era o final da primeira semana de agosto, e eu estava no aeroporto com minha mãe chorando de um lado, e meu pai segurando todas as minhas malas do outro. Aquele momento apertou o meu coração, mas eu sabia que não iria embora para sempre. Era por algo que valeria a pena, estava tentando alcançar o maior objetivo da minha vida.

Malas despachadas, passagens em mãos, máquina fotográfica na mochila, fones no ouvido e iPod pronto para ser apertado o play. Eu estava preparada.

Como não existia voo direto de Recife para Londres, meu avião teve escala em Lisboa. No momento em que cheguei no aeroporto de lá, entrei na internet pelo wi-fi e avisei a todos que já me encontrava em território europeu. Não conseguia me conter sabendo que em poucas horas eu estaria na cidade dos sonhos.

Depois de vários filmes e péssima comida de avião, enfim, eu estava pisando em solo britânico. Desci do avião direto para a migração, onde foi meu primeiro momento falando em inglês, consequentemente, também, onde minha ficha havia caído.

Duda havia me passado todas as instruções sobre o sistema de entrada no Reino Unido, então logo separei todos os meus documentos escolares, comprovantes de acomodação e condições financeiras para apresentar ao oficial. Visto aprovado, estava oficialmente em Londres.

– Mila! – Duda gritou de braços abertos assim que me viu, correndo no meio da área de desembarque.

Estava ainda mais bonita do que da última vez que tinha a visto. Todo mundo sempre questionava sobre ela realmente ser minha prima. Provavelmente pelo fato de Duda ter uma pele negra impecável, pois a verdade é que o brasileiro, às vezes, não tem consciência da diversidade étnica do próprio povo. Ela tinha os cabelos pretos, cacheados e volumosos, que combinavam perfeitamente com os olhos castanhos da família. Estava vestindo um sobretudo creme, cachecol cinza, calças pretas, e botas marrons de veludo. Era impossível dizer que não era inglesa.

– Que saudades! – gritei abraçando-a e largando o carrinho com as malas de lado.

Os táxis da Inglaterra eram, de fato, diferentes de qualquer um que eu já tinha visto: pequenos e pretos, assim como em um filme de Sherlock Holmes. Mas como táxi é caro, e ainda mais em libra, pedimos um carro particular num aplicativo. Então, um simpático motorista árabe chegou em um Honda Civic, e assim que falamos que eu tinha acabado de chegar do Brasil, ele logo lançou a piada "aqui dirigimos do lado direito", o que soa melhor em inglês, mas acho que deu pra entender. Após ele encerrar a corrida, me desejar boas vindas e dizer para tomar cuidado ao atravessar a rua, nos deixou na Victoria Station.

Pegamos um trem até a estação Penge East. Eduarda havia conseguido um apartamento muito bom na Zona 4 de Londres, numa área chamada Penge.

Primeira observação sobre Londres (que aprendi com Eduarda nos trinta minutos que passamos no trem): a cidade é dividida em 6 Zonas, em um formato quase que redondo. A primeira Zona é o círculo central, onde ficam todos os pontos turísticos e as acomodações mais caras, então, se seus planos forem economizar por aqui, não pense que você vai acordar dando bom dia ao Big Ben.


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