Sob o teto descascando, sob o chão de madeira estalando por causa do frio, ouvindo o barulho chato do metrô bem movimentado e observando as paredes com aquela tinta tão velha e se desfazendo aos poucos, Jeongguk também ouvia o choro baixo de seu namorado, que estremecia vez ou outra devido ao frio extremo do lado de fora.
ㅡ O que nós vamos fazer, Jeongguk-ah? O nosso dinheiro é tão pouco, nós não conseguimos nem comprar tudo que precisamos, então como vamos dar um jeito nisso tudo, olhe só para onde moramos. ㅡ A pausa durante toda a frase só veio devido ao soluço alto, as lágrimas escapando sem parar dos olhos pequenos daquele ser de cabelos escuros. Os olhos negros e redondos de Jeon focaram nas maçãs do rosto de seu menino, tão avermelhadas quanto seus olhos e a pontinha de seu nariz. Não saberia explicar se era o frio ou o choro, mas ambas opções pareciam óbvias demais, e aquilo doía.
ㅡ Apenas fique calmo, seja paciente. ㅡ E então respondeu, enfiando os dedos por entre as madeixas macias do namorado. ㅡ Nós vamos superar isso, meu bem.
Já sabendo o que aconteceria, Jeongguk não se surpreendeu ao ver o homem mais velho levantar-se e gritar, completamente vulnerável. E sem antes chorar, cedeu com a voz tão amargurada de seu amado, sentindo as lágrimas molharem o seu rosto também.
ㅡ Como você pede eu pra me acalmar? Olhe pra onde moramos! Eu não consigo mais ficar aqui, Jeongguk. Isso tudo é uma droga, você não entende?
ㅡ Nós não temos onde morar, Jimin. ㅡ O chamou pelo nome, agora se colocando de pé e esfregando o rosto. ㅡ Eu sei que meu emprego não é dos bons, e que você tem dificuldades pra arranjar um também, mas porra, pare e pense, nós não temos onde ficar, e eu estou dando o meu melhor. Eu perdi tudo, nós perdemos tudo. A única coisa que tenho é você, Park. Se você desistir disso, desiste de nós. Quer voltar pra sua boa vida, é? Quer voltar para seus pais, estes mesmos que te colocaram pra fora de casa?
E como era impossível não relembrar-se daquele dia horrível, as imagens passaram pela cabeça de ambos ali.
ㅡ A sua mãe veio aqui de novo, não foi? Com aquela droga de conversa que você está errado, de que isso é só uma fase, e que irá passar. Ela sempre vem quando eu não estou, ela vem e coloca na sua cabeça que você não precisa de mim, e você cede, cede mesmo sabendo que não pode ignorar o seu coração.
ㅡ Jeon, eu... ㅡ A fala foi interrompida pelo maior.
ㅡ Agora me escute! Você sempre quer sair falando do quanto o meu dinheiro é pouco pra nós, do quão ruim é morar aqui nesse apartamento meia-boca ao lado de um estação de trem que faz barulho o dia todo. Mas é o nosso lugar, o nosso lar. Não é um dos melhores, mas é com de coração que te coloquei aqui comigo, é de coração que tento te dar do bom e do melhor, mesmo que falte grana, mesmo que as vezes você precise tomar banho gelado porque ficamos sem energia. Mas merda, eu tento, Jimin. Eu tento todos os dias te fazer acreditar que tudo isso vai passar e que nós vamos ter sim uma casa bonita com um belo jardim cheio de flores.
ㅡ Me desculpe, Jeongguk. ㅡ A voz saiu quase inaudível, mas o mais alto ali escutou sem dificuldades. ㅡ As vezes eu penso que se eu voltasse... acabaria superando e esquecendo todas as coisas que tivemos um dia. Eu sou um covarde, eu não me adaptei a viver assim ainda, mas que merda.
Cansado, a garganta seca e o peito subindo e descendo, Jeongguk se afastou apenas para caminhar até a janela daquele cômodo que era uma sala e cozinha ao mesmo tempo, os olhos atentos na rua escura e a chuva caindo.
ㅡ Não seja mimado! Não volte só para suprir as suas necessidades de ter uma cama confortável e não um sofá pra dividir comigo, de poder comer besteiras sempre que quiser e poder fazer o que bem quiser. Eu estou aqui tentando por nós. Eu não tenho muito a lhe oferecer, mas por favor.... não se esqueça da nossa história, Jimin. Lembra de quando você me beijou pela primeira vez quando eu tinha apenas doze anos, quando você me tocou no dia do meu aniversário, aos meus quatorze e quando fizemos sexo pela primeira vez nos meus dezesseis. Lembra de todas as vezes que saímos escondidos pra ir nadar no rio e trocar beijos debaixo da árvore, de como era bom fazer amor dentro daquele carro velho que nós conseguimos decorar, o nosso esconderijo. Porcaria, não me deixa e passe a fingir que nada disso aconteceu, que seu coração não implora por mim, por nós desde que éramos dois garotos sem-noção. Não esqueça de como foi bom passar todo esse tempo juntos, mesmo às escondidas. Você me prometia que se fôssemos decobertos, você iria continuar ao meu lado e que juntos, lutariamos por nós. Por que está fraquejando agora? Por quê está desistindo daquilo que nós temos, Jimin? Não são dias, semanas ou poucos meses. São anos! A nossa infância, a nossa adolescência e o início da vida adulta. Vai jogar isso fora por que a sua mamãe não quer um filho que namora outro homem?
Sem forças para mais nada, Jimin chorou mais ainda, chorou como uma criança sem doces e brinquedos. Chorou porque se sentia como uma, mas sem os pais.
ㅡ Eu sou tolo demais para ter alguém como você, Jeon.
ㅡ Não, Park Jimin, você é apenas tolo por ainda ouvir o que sua eomma quer colocar na sua cabeça. Meu Deus, você não vê que eu tenho tudo o que você precisa?
ㅡ Meu amor... me desculpe. Eu só tenho medo, eu tenho medo de nunca conseguir sair disso, de viver pra sempre desta forma.
ㅡ E se não conseguimos, você não continuaria ao meu lado? Você iria embora, Jimin? Você me ama de verdade ou só está comigo pra tapar um buraco em você, pra não se sentir sozinho? Se você quer ficar comigo só pensando na possível vida boa que podemos ter, vá embora deste lugar agora, porque eu estaria com você até mesmo se fosse pra morar na merda da rua.
ㅡ Não é isso, Jeon. Eu só não quero viver assim, eu quero ter um futuro bom, eu quero me ver futuramente ao seu lado e poder tentar fazer a adoção de filhos, não é o que combinamos?
ㅡ Você muda quando grita comigo daquela forma, por favor... você pode até ter medo, mas eu tenho mais ainda da sua mãe te convencer a ir embora. Eu me sinto vazio sem você, Jimin, é a realidade. Eu sei que quer uma vida boa para ter filhos, para casar... mas seja paciente, nós vamos conseguir.
Virando em direção a Jimin, Jeongguk moveu-se até o mesmo e o puxou para seus braços, envolvendo todo o corpo magrinho devido a má alimentação num abraço forte, sentido o cheiro de baunilha nos fios de seu cabelo, aqueles que lhe faziam acalmar.
ㅡ Nós vamos superar isso, juntos. Você acredita em mim, meu anjo? Eu quero que prometa isso.
Ainda com o rosto cheio de lágrimas, Jimin ficou na ponta dos pézinhos para beijar os lábios de seu amado, suspirando após seu ato. Entrelaçou o mindinho de sua mão pequena à de Jeon, notando as pintas iguais ali.
ㅡ Me desculpe por dar ouvidos à minha mãe, isso ainda me parece assustador. ㅡ Murmurou, meio envergonhado. ㅡ Mas eu não vou desistir de nós, nem que eu continue a tomar banhos frios e durma com você naquele sofá que me faz espirrar a noite inteira, desde que eu esteja no calor dos teus braços, Jeon... eu não preciso de mais nada.
Como se não precisasse de mais nada, Jeon sorriu largo e em meio às lágrimas, ㅡ que agora de emoção ㅡ, apertando tão forte o corpo de seu menino que chegava a doer um pouco, mas Jimin não se importava, aquele era o melhor abraço, aquele era seu porto seguro. E em meio as dificuldades, ele não iria desistir daquela linda história de amor.
Algo que Jeon lhe ensinou naquele dia, essa coisa era ser paciente. E era só uma das milhares de coisas que havia aprendido com aquele homem que compartilhava um abraço.
O amor não é só um mar de rosas, o amor não é apenas um conto de fadas clichê. O amor era Jeon Jeongguk e Park Jimin, o amor era obstáculos, ganhos e perdas. O amor era tudo! Era tudo o que ambos precisavam, sem mais e nem menos.
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sob nosso teto - jikook.
Fanfictionporque mesmo sem tantos bens materiais a oferecer, jeongguk tinha o amor, e era disso que park jimin precisava.