Eu me lembro...

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Eu ainda me lembro de como nos conhecemos.

Estava nevando, mas foi a única oportunidade que tive de ir ao parquinho. Eu desejava somente brincar no balanço até enjoar, mas havia uma criança que estranhamente queria tomar sorvete naquele dia gelado.

Essa criança era você.

Nos encontramos da maneira mais engraçada que podia imaginar. Você corria com o sorvete em mãos e eu tentava chegar ao brinquedo enferrujado do outro lado do parque quando nos esbarramos e você derrubou o doce no meu casaco, se desesperando ao tentar limpá-lo, consequentemente, espalhando a sujeira.

Após isso, em nossa mente infantil, o único modo de eu te perdoar foi você se tornar meu amigo. E desde então nos tornamos inseparáveis.

Eu me lembro das tardes de estudo.

Você veio animado me contar que estudaria no mesmo colégio que eu, mas se entristeceu ao descobrir que não na mesma sala, pois éramos de séries diferentes.

Estudar se tornou quase um vício seu, para que conseguisse passar algumas séries a frente e, enfim, cairmos na mesma classe. Após meses se mostrando o melhor aluno você finalmente conseguiu passar e nos igualamos, mas você estudou tanto que as aulas se tornaram entediantes ao seu olhar e passávamos esse tempo levando bronca do professor por não estarmos prestando atenção em sua aula, perdidos em nossa conversa.

Voltávamos para nossas casas juntos, brincando e conversando o caminho inteiro.

Esse tempo nos permitiu criar algo mais que amizade.

Eu me lembro do primeiro beijo em meu quarto.

Você estava estranho fazia algum tempo, eu também estava, mas pensei que não o mesmo tipo de "estranho" e sofria por isso, pensei que sentia tudo sozinho.

Até aquele dia na minha casa, em que chegou sob o pretexto de somente passar a tarde assistindo filmes que você escolheu. Minha mãe, já acostumada com a sua presença em nossa residência, permitiu sem pestanejar e subimos para o meu quarto.

Um dos filmes mostrava dois garotos aos beijos logo na primeira cena, o que me assustou, pois na escola sempre ouvíamos pessoas sem escrúpulos fazendo piadas sobre homossexuais e pensei que você era um deles. Mas, felizmente, me enganei e a chama da esperança, mesmo que somente uma faísca, começou a queimar meu peito.

Após o filme você quis conversar. Gaguejando envergonhado me perguntou o que eu pensava e se eu gostaria de fazer o mesmo contigo. Te olhei confuso e você tentou explicar, mesmo que tropeçando nas palavras, o que sentia. Meu peito explodiu em felicidade por ter meus sentimentos correspondidos e aceitei, sem pensar duas vezes, sua lenta aproximação e o selar apaixonado de nossos lábios.

E você me beijou. Não uma nem duas vezes, mas várias vezes, até termos o gosto dos lábios um do outro marcado em nossa mente.

Nossa relação mudou a partir daí, mas ainda não nos sentíamos confiantes em revelar aos outros.

Eu me lembro de quando contamos aos nossos pais.

Eu não cabia em mim de tanta felicidade, nos amávamos tanto que chegava a doer e não conseguimos mais guardar somente para nós.

Organizamos um jantar perfeito para dar a notícia aos nossos genitores, eles aceitaram tão bem que me arrependi de não ter contado antes e minha felicidade só aumentou.

O único problema foi o seu pai.

Ele saiu sem ouvir o resto, com ódio quase palpável. Sua mãe pediu desculpas por ele, mas sabíamos que não iria ser fácil.

O Tipo de Estrela que Você FoiOnde histórias criam vida. Descubra agora