Capítulo 3 - Naomi

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Ando até o balcão de onde recebemos nossas refeições, procuro por alguém lá dentro, mas não vejo ninguém. Até que uma bandeja cai sobre o balcão, fazendo um grande estalo. Eles já deviam estar esperando, digo a mim mesma, enquanto pego a bandeja tomando cuidado para não derrubar o pacote que tem sobre ela.

Andando pelo caminho de volta, sem querer faço contato visual com Lydia, trato de olhar para o outro lado no mesmo instante.

Chego a nossa mesa, sentando no lado inverso de Jake que agora está debruçado na mesa, com a cabeça entre os braços cruzados.

– Hey! Tó sua comida - digo arrastando a bandeja que encosta em um dos seus cotovelos. Ele levanta a cabeça fazendo um grunhido que desconheço.

– O que eles prepararam pra mim dessa vez? - Jake diz abrindo o pacote orgânico. Ele olha dentro do saco e em seguida me olha sorrateiramente. Agora ele vira o pacote de ponta cabeça, deixando um bolinho de cor marrom com passas cair.

– Hum... que consideração. - falo ironicamente.

– Consideração sim - diz ele analisando a comida.
– Eles sabem que eu odeio passas. Só vou comer porque minha glicose deve estar lá em baixo - ele pega o bolinho e dá uma grande mordida.

Eu só rio, porque ele nunca foi mesmo fã de fruta, ainda mais ressecada. Espero até que ele acabe seu mero lanche e volto a falar:

– E como foi lá?

– lá onde - ele pergunta enquanto limpa a boca.

– Lá no exame, oras! - digo com tom de indignação.

– Ata, Foi normal. - diz ele olhando para a mesa.

Pondero que ele respondeu rápido de mais, então pergunto de novo:

– Tem certeza? - pergunto olhando em seus olhos, com um olhar de suspeita. Sei que ele não consegue mentir me olhando nos olhos.

– Dá pra tu baixar essa sobrancelha e parar de me olhar com esses seus olhos puxados? - ele responde com raiva. Dá uma pausa, e volta a dizer:
–E sim, tenho certeza! Não aconteceu nada lá.

– Tudo bem, não precisa ficar exaltado - falo fazendo sinal para se acalmar com as mãos.

– Não estou "exaltado" - ele faz sinal de aspas com os dedos.
- Só não gosto de desconfiança. - agora diz com a voz calma.

– Como se eu não soubesse. - falo baixo.

Nós discutimos quase sempre. Também só conversamos entre a gente, e de vez em quando com Tyler. Mas quando ele não está me elogiando, me deixando constrangida, ele está correndo com seu grupinho de esportistas.

Um silêncio toma conta da nossa conversa e resolvo interrompe-lo:

– Afinal o que você pediu pra esse ano mesmo? Quer dizer... que livro? - corrijo.

– Engraçadinha. - ele diz limpando seus óculos.

– Então? O que pediu? - reforço.

Jake verifica se suas lentes estão de seu gosto e as coloca no rosto, dizendo:

– Qualquer livro sobre cultura, com sobressalto sobre a asiática. - ele fala erguendo as sobrancelhas, com os braços cruzados sobre a mesa. E eu solto um sorriso sem dentes.

Jake realmente ama ler, ou pelo menos é o único passatempo que lhe é possível aqui. Às vezes me sinto fútil perto dele. Não tenho essa ambição de saber do nosso passado, de antes das guerras de poder. Mas ele não, sempre buscando aprender mais com o passado.

Me impressionei com várias informações que ele me passou, informações essas que nem o sistema nos deu, não de forma direta.

Uma coisa que ele me passou e que eu fiquei perplexa foi com o número dos antigos índices de mortes anuais pelos preconceitos, que eram enormes.

Hoje a população está tão reduzida, e tão isolada geograficamente uma das outras, que só as maiores sobreviveram. Pelo menos é isso que eles gostam de nos repassar quase sempre, através da tela do refeitório.

Tudo com que eu já gastei meus pedidos foram para meros aparelhos eletrônicos, que não duravam nada, já que as baterias se esgotavam, e também com algumas decorações para meu quarto, que também não me eram nada úteis.

Esse foi mais um capítulo de
"The Unknowns"

Sairão capítulos novos toda quarta
e sábado, a partir do meio dia!

Obrigado por ler e até o próximos capítulo.

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