capítulo único

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O pequeno Jung Hoseok, de dez anos de idade, se encontrava pensativo em seu quarto naquela véspera de Natal.

Encarava a montanha de brinquedos que ganhara ao longo do ano e não conseguia pensar em nada que ainda não tivesse para pedir para o Papai Noel.

Na verdade, Hoseok nunca acreditou em Papai Noel, duendes, ou qualquer coisa do tipo. Era uma criança muito cética e sabia que não ganhava muitas coisas porque um velho vestido de vermelho achou que ele foi um garoto bonzinho e sim porque seus pais eram podres de ricos.

Olhou pela janela, observando a neve cair, ainda pensativo. Encarou a enorme árvore de Natal enfeitada que ficava no meio da praça do centro da cidade, bem frente à sua casa.

Ela estava abarrotada de anjos de papel.

Isso porque as crianças da região mais carente da cidade penduravam ali aqueles anjinhos com seus pedidos de Natal, na esperança de que alguém se disponibilizasse para atendê-lo.

Foi como se uma lâmpada acendesse em sua cabeça.

Desceu as escadas correndo, ainda em seu pijaminha de flanela.

— Mamãe! Papai! — gritou ao avistar os dois em poltronas, perto da lareira.

— Já te disse pra não correr nas escadas, Hoseok — advertiu a mulher, levantando os olhos de seu livro e observando-o aproximar-se.

— Sim, eu sei… Desculpe…

— Então, o que foi? — perguntou o senhor Jung.

— Decidi o que quero de Natal. Ser o anjinho de papel de alguma daquelas crianças!

Falou, empolgado; seus pais apenas deram de ombros e continuaram bebericando seus chás tranquilamente.

— Se é o que quer, querido… — disse a mãe.

Não era como se Hoseok esperasse alguma resposta diferente. Seus pais eram assim… Sempre apressados, cansados demais, dizendo “sim, querido, se é o que você quer, aqui está”, como se para compensar o tempo que não davam a ele com bens materiais.

O garoto vestiu seu casaco e foi até a árvore. Só precisava atravessar a rua e a cidade era tão tranquila que seus pais lhe deixaram ir sozinho, contanto que voltasse logo e não falasse com estranhos.

Já não estava nevando, então ficou por ali algum tempo, observando os anjinhos de papel, até que um lhe chamou atenção.

Enquanto os outros eram pedidos pequenos e simples, como “boneca” ou “carrinho”, aquele estava repleto de palavras, que automaticamente despertaram a curiosidade de Hoseok.

Pegou o pedaço de papel e observou a letra pequena, escrita com cuidado em canetinha roxa.

“Querido anjinho de papel,

eu sou o Taehyung e hoje não é só o aniversário de Jesus, é o meu também. Mas isso porque eu fui abandonado e ninguém sabe em qual dia eu nasci de verdade. Mas gosto de fazer aniversário no Natal, porque parece que tudo está enfeitado pra mim.

Eu que sou a criança mais velha e que está aqui no orfanato há mais tempo, e talvez por eu ser mais velho ninguém nunca quer brincar comigo.

Então resolvi mudar meu pedido dessa vez. Em vez de pedir uma família, eu quero um amigo, se não for pedir muito.

Obrigado, anjinho de papel. Espero que você tenha um feliz Natal!”

Aquele talvez fosse um pedido realmente complicado; muito mais difícil do que um carrinho ou uma boneca, com certeza. Mas Hoseok guardou o anjinho com cuidado dentro de seu casaco e o levou para casa.

Anjo de Papel ☆ vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora