E se você seguisse o cowboy em direção do pôr do Sol? Em algum momento ele pararia de cavalgar ou seguiria freneticamente? É difícil imaginar a segunda opção. Na verdade é difícil imaginar qualquer coisa. Será que ele tem destino certo? Há alguma cidade próxima onde ele vai se hospedar? O ângulo aberto da câmera diz que não. O cavalo vai aguentar a jornada? O que acontecerá com a cidade sem sua presença?
Tudo isso pode ser cogitado, é claro. Mas só isso. A tela vai ficando escura e as cortinas se fecham. A jornada daquele herói se encerra naquele fragmento de história. Não importa o que há depois. Não há nada depois. O "felizes para sempre" restringe a imaginação, o ensejo que resume um porvir fútil demais para ser narrado. Não seguimos o cowboy em direção ao pôr do Sol porque nada que ele venha fazer será tão incrível quanto o tiroteio no saloon ou o estouro da boiada na fazenda McPherson. Podemos nos desligar deste mundo, destes problemas, enterrar estes personagens em nossas lembranças e seguir para a próxima aventura.
Mas a vida não é assim.
Nossas vidas não se dividem em arcos, atos e papéis actanciais. Arquétipos ideais se misturam em nossas ações e escolhas, bem e mal podem ser produzidos pelas mesmas mãos.
Ao terminar o ano, enquanto contemplamos a queima de fogos no horizonte e sobre nós, refletimos sobre os desafios superados e o ciclo que encerra a jornada, porém as cortinas de nossa vida não se fecham, tampouco a tela do mundo não vai ficando escura nem os créditos sobem em branco e fonte serifada. Nossa jornada recomeça imediatamente, no mesmo ponto em que terminou.
Será mesmo que terminou?
Houve mesmo uma jornada?
Dividir o mundo em ciclos é uma ilustração. Uma representação segmental e incompleta da verdadeira obra que só pode ser compreendida em sua totalidade.
Por que estou escrevendo isso? Bom... O ano está terminando, veio refletindo sobre as coisas que aconteceram neste ciclo e sobre as que deixaram de acontecer. Aparentemente sempre haverá mais coisas da segunda espécie. O "e depois?" sempre me assombrou, e ele nunca me pareceu tão importante quanto agora. A verdade é que o segundo livro de "O Banco dos Leões" está pronto há exatamente um ano, possui 400 páginas, mas ainda não foi lido por ninguém. Não sei se há interesse em saber como a história continua, nem se ela é tão chocante quanto seu princípio. Gostaria de saber se alguém ainda se importa com o destino da Cidade dos Leões, dos ratos das máquinas de comida ou da corça camuflada na Prefeitura. Fico feliz por tê-lo escrito, pois agora compreendo os personagens melhor do que nunca, suas complexidades e o mundo que os engloba. Mas não vou compartilhar esse fragmento de mim com o vazio. Não quero. Será que sou tão egoísta e presunçoso assim? Preciso mesmo fazer esse drama todo? Bom... é assim que me sinto. Tudo se encerra de forma satisfatória no primeiro livro, você pode decidir se continuará cavalgando ao lado dos personagens ou se vai acompanhá-los à distância, observando-os sumir no horizonte. O que vai ser?
Abraços, do seu maior fã,
Leonardo J. Santos.